Ações: compra e venda casada

Com combinação sofisticada entre compra e venda, fundos long short permitem ganhar mesmo quando a Bolsa cai

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto/denphumi

Investir em ações costuma ser um teste de estresse, mesmo para quem já tem alguma experiência. O nervosismo pode ser ainda maior em tempos de incerteza econômica e política, no mercado interno e internacional.

Quem compra espera pela valorização para poder vender por um preço mais alto e daí garantir seu ganho. Para isso, quem escolhe os papéis se baseia nos fundamentos da economia, no cenário do mercado em que aquela companhia atua e, para muitos, em uma dose de intuição.

Por outro lado, com uma taxa Selic em 2% ao ano, mínima histórica, buscar a rentabilidade da carteira se tornou ainda mais desafiador. Por isso, correr algum risco é uma estratégia cada vez mais considerada pelos investidores.

Uma alternativa para quem mira o investimento em ações listadas em Bolsa e não abre mão da cautela são os fundos long short, que combinam a compra e a venda de papéis em uma proporção muito próxima.

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O que são fundos long short

Os fundos long short consistem na compra de um ativo e na venda de outro quase simultaneamente. Para isso, são usadas estatísticas e cálculos matemáticos que ajudam o gestor a definir quais ações e qual volume devem compor a operação de compra e venda.

A quantidade de empresas no fundo varia de acordo com o gestor e pode chegar a uma centena. O lucro vem da diferença entre o valor de compra e de venda.

Em linhas gerais, long é a parcela do fundo comprada em ações. Já o short corresponde à parcela vendida no fundo. Para ficar "vendido", o gestor do fundo aluga a ação e a vende no mercado. Esse movimento é feito com a expectativa de, ao devolvê-la, poder recomprá-la por um preço abaixo do que o fixado para a venda.

Ou seja, a vocação dos fundos long short é buscar o lucro com distorções de preço de diferentes ativos financeiros, mas com o risco controlado.

Entenda os termos dos fundos long short

  • Long short (ou long & short)

    Trata-se de uma operação casada na qual o investidor mantém, ao mesmo tempo, uma posição comprada e outra vendida em ativos distintos.

  • Long

    Ou posição comprada, é assumida pelo investidor ao comprar uma ação com a expectativa de que seu valor suba para poder vendê-la.

  • Short

    Também chamada de posição vendida por meio do aluguel de ações. Os papéis vendidos são aqueles com expectativa de queda, que serão posteriormente comprados.

  • Fundos Long Only

    São aqueles fundos apenas comprados, que apostam exclusivamente na valorização das ações investidas.

  • Fundos Long Short

    Nesse perfil de fundo, o objetivo é buscar ganhos em operações de valor relativo entre ações, quando é feita a compra e a venda dos papéis ao mesmo tempo. Esse movimento permite tanto o ganho nos períodos de alta do mercado quanto na baixa.

Quais são os tipos de fundo

Segundo Evandro Buccini, diretor de Renda Fixa e Multimercados da Rio Bravo, os fundos long short permitem várias combinações de estratégias na montagem das carteiras.

O gestor pode, por exemplo, fazer uma estruturação de compra e venda entre empresas do mesmo setor ou até papéis da mesma companhia —ON e PN ou holding combinada com uma de suas subsidiárias (leia mais adiante).

  • Intersetorial

    O gestor compra ações de um determinado setor e vende de outro, na expectativa de que aquele comprado consiga um desempenho melhor do que o vendido.

  • Intrassetorial

    A busca é pela diferença de desempenho entre empresas de um mesmo setor. Pode haver ainda uma operação envolvendo a compra e a venda de ações de mesma companhia --como no caso de ON e PN ou holding e subsidiária.

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Movimento descolado do Ibovespa

Apesar de dependerem do comportamento das ações na Bolsa, os fundos long short têm pouca correlação com o Ibovespa.

Os fundos long short são um excelente veículo de diversificação, porque outros produtos, como os fundos multimercado, fundos de ação e o Tesouro Direto dependem muito do mercado. Já os long short são menos correlacionados [com o mercado] e historicamente tiveram bons desempenhos em momentos de crise, e não sofreram como a Bolsa

Evandro Buccini, diretor de Renda Fixa e Multimercados da Rio Bravo

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Recomendações para investir em long short

Investimento inicial: Apesar de ser um produto sofisticado, o fundo long short atende tanto a alta renda quanto aqueles com menos sobra de caixa, com aportes que começam em R$ 500.

Quanto investir: A recomendação de Buccini, da Rio Bravo, é ter em torno de 5% dos investimentos nesse tipo de produto financeiro. Quem tiver o perfil menos conservador pode aumentar esse percentual.

Taxas: As taxas de administração são semelhantes às de outros fundos de ações e variam entre 1% e 2%.

Prazo do investimento: A recomendação para o investidor é não permanecer no fundo por um período inferior a 12 meses.

Perfil de risco: Há opções para diferentes perfis de risco, com maior ou menor alavancagem.

Para Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, a recomendação é que os fundos long short sejam uma opção para o investidor já com alguma educação financeira, que já tem experiência, por exemplo, com os fundos multimercado.

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Como escolher o melhor para você

A escolha do fundo long short mais adequado ao investidor deve levar em consideração uma série de características, como explica Jorge Junqueira, sócio da Gauss Capital.

Um dos pontos de partida é a idade. Quanto mais jovem, maior pode ser o percentual aportado em renda variável. A regra é inversa para os mais velhos, que devem ter um volume maior de recursos em renda fixa.

O investidor também deve levar em consideração a sua performance nos últimos 12 meses (ou mais) e saber como funciona o relacionamento com o gestor —com que frequência é feita a divulgação do desempenho de seus produtos e se são realizadas conversas periódicas com os clientes.

Em um investimento como o long short, o objetivo é tirar o risco da mesa, com o mercado caindo ou subindo, por isso é importante avaliar a performance do fundo.

Bruno Arruda, gestor da Gauss Capital

Desempenhos variam de um para outro

Entre os investimentos da categoria multimercado, o long short ocupa uma posição intermediária no acumulado nos últimos 12 meses (até agosto):

  • O long short neutro (as operações compradas têm a mesma exposição das operações vendida, portanto, igual a zero) acumulou alta de 8,39%.
  • Já a versão direcional (quando a exposição líquida é pequena, diferente de zero, e pode ser positiva/comprada ou negativa/vendida) chegou a 5,62%.

Os dados são da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

O desempenho entre os diferentes produtos disponíveis é bem variado. Quando se observa fundo a fundo, as variações são grandes. No intervalo de janeiro a agosto, há desde fundo long short com ganhos de 17,63% até com perdas acumuladas de 8,74%.

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Produto exige conhecimento e cautela

Apesar de o fundo long short minimizar os riscos, ele não está livre de um resultado ruim. Se o desempenho das ações do fundo for diferente do previsto pelo gestor —com os papéis vendidos com uma performance melhor do que aqueles comprados—, haverá prejuízo.

Por causa dessa combinação sofisticada, a recomendação é buscar um gestor, apesar de ser possível montar uma carteira própria com as características do long short em vez de recorrer a um fundo oferecido pelo mercado.

Existe o risco de uma ação ter uma performance não por causa dos fundamentos da empresa, mas apenas porque aproveitou um momento de euforia ou de estresse do mercado, como aconteceu em março, segundo Roberto Attuch Jr., fundador e CEO da empresa de research OmnInvest. Esse comportamento do mercado de capitais pode tornar mais difícil a correlação entre a compra e a venda (long short) das ações.

Principais prós e contras do long short

  • 1.

    O investidor pode tanto ganhar com a alta da Bolsa quanto na baixa

  • 2.

    Com posição de compra e de venda em ações, não em um índice, como o Ibovespa, o fundo long short fica mais protegido dos pregões mais tensos

  • 3.

    O gestor do fundo ou o investidor pode errar na escolha do long e do short. Se a ação se desvalorizar, haverá prejuízo

Potencial de crescimento

Na avaliação de Junqueira, a chegada de novas empresas na B3 deve ser um fator a mais de atração para o long short.

Essa leva de IPOs que estamos vendo agora na Bolsa brasileira deve gerar mais alternativas para o investidor.
Jorge Junqueira, sócio da Gauss Capital

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