Por que investir lá fora?

Diversificar e ligar seu dinheiro à variação do dólar são atrativos; dá pra aplicar com menos de R$ 100

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images

Investidores brasileiros são estimulados a buscar alternativas no exterior devido às dúvidas quanto à recuperação da economia brasileira, à baixa rentabilidade resultante de uma taxa básica de juros em um dos menores níveis históricos e à decolagem do dólar. Lá fora, as aplicações têm o rendimento atrelado ao dólar ou outra moeda estrangeira.

Regras mais flexíveis nos últimos anos permitiram o acesso a aplicações no exterior não apenas por investidores qualificados (com pelo menos R$ 1 milhão investido), mas também por quem quer investir menos. Dá para investir lá fora com menos de R$ 100.

Algumas alternativas são fundos de investimento, ETFs (espécie de fundos listados em Bolsa de Valores) e BDRs (semelhante a ações de empresas estrangeiras).

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Opção para diversificar e buscar ganho maior

Os investimentos líquidos dos brasileiros em ações no exterior (ou seja, compras menos vendas), chegaram a US$ 1,57 bilhão nos três primeiros meses deste ano. Já é metade do volume registrado em todo o ano passado (US$ 3,08 bilhões). Em 2019, foram US$ 508 milhões, segundo dados do Banco Central (BC).

A busca por diversificação é um dos motivos que fazem brasileiros irem atrás de produtos além das fronteiras. Felipe Zouain Pedroni, sócio da assessoria de investimentos Golden, diz que o Brasil tem uma participação irrisória no PIB (Produto Interno Bruto) global. Por isso, olhar para produtos financeiros no exterior é a chance de buscar ganhos maiores.

Rodrigo Beresca, analista da Ativa Investimentos, também cita como atrativos a alta do dólar e o comportamento de outras economias, como a americana, parte da europeia e a asiática, em relação à pandemia.

Com sinais de recuperação depois de mais de um ano de pandemia, alguns mercados se tornam mais promissores. O Brasil, por outro lado, explica Beresca, ainda enfrenta um momento muito difícil na pandemia, tem dificuldades com o Orçamento e já antecipou os debates das eleições de 2022. "Isso tudo faz com que os investidores tirem recursos do país e procurem outras opções", diz.

Ter parte do patrimônio atrelada ao dólar deveria ser comum entre brasileiros, defende Alkeos Saroglou, sócio da Alta Vista Investimentos. Segundo ele, isso pode tornar a carteira mais eficiente mesmo em tempos de crise.

Quando se opta por investimentos no exterior, é preciso levar em consideração que são decisões de longo prazo. A diversificação é bem-vinda. Do contrário, o investidor fica exposto apenas aos riscos do mercado brasileiro e deixa de buscar outras possibilidades de ganho em países desenvolvidos, que apresentam um crescimento maior do que o nosso e oferecem uma solidez maior, como os Estados Unidos e a China.

Felipe Zouain Pedroni, sócio da assessoria de investimentos Golden

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Dólar bomba aplicações estrangeiras dentro dos fundos

O número de cotistas brasileiros em fundos de investimento no exterior também tem subido. O crescimento chega a 700% no período entre dezembro de 2019 e abril de 2021.

Além disso, a fatia de aplicações estrangeiras nas carteiras de fundos no Brasil aumentou 45,4% no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Dentro dos fundos de ações e multimercados, esse tipo de ativo foi o que apresentou o melhor retorno. Em boa medida, esse desempenho se deve à valorização de cerca de 9% do dólar em relação ao real, nos primeiros três meses do ano.

Como investir no exterior via fundos?

Fundos de investimento no exterior têm pelo menos 40% da carteira ligada a ativos estrangeiros. Podem ser:

Reuters

Fundo cambial

Aplica a maior parte do capital em produtos atrelados a moedas estrangeiras, em especial o dólar.

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Fundo de renda variável

Pelo menos 40% da carteira é aplicada em ativos de renda variável do mercado internacional.

Karen Bleier/AFP

Fundo de renda fixa

Investe em títulos internacionais de renda fixa. Por exemplo, títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

ETFs e BDRs: entenda essa sopa de letrinhas

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ETFs internacionais

O ETF (Exchange Traded Fund) é um fundo negociado na B3, que replica algum índice de referência internacional reconhecido pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários). Cada cota tem um valor. O valor unitário do ETF da Bolsa norte-americana, por exemplo, vale mais de R$ 200. O da Bolsa chinesa é negociado perto de R$ 10. Em alguns casos, as corretoras cobram uma taxa de corretagem. Neste caso, pesquise e compare preços para saber se a taxa inviabiliza a compra da cota. Algumas corretoras oferecem isenção.

Sundry Photography/Getty Images

BDR

Os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) são recibos negociados na B3 de empresas listadas no exterior. Na prática, são papéis que representam ações de empresas estrangeiras, como Tesla, Google e Amazon. É uma forma de o brasileiro investir em empresas lá de fora sem precisar, de fato, comprar a ação da companhia numa Bolsa estrangeira.

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Cuidado com a taxa de performance

Saroglou alerta para um fator importante para quem investe em fundos: a taxa de performance, que pode comer uma parte dos ganhos. A dica é olhar com atenção o prospecto do produto antes de tomar qualquer decisão sobre onde investir.

A maioria dos fundos não cobra a taxa sobre os fundos internacionais, diz Pedroni. Quando ela é cobrada, incide sobre o ganho caso o fundo atinja determinada rentabilidade (acima do benchmark, ou referência, do fundo), definida em contrato. Funciona como uma espécie de bonificação para o gestor do fundo.

Em alguns casos, a taxa de performance pode ser uma armadilha. O investidor deve saber se o que está atrelado à performance do fundo é compatível com a expectativa de ganho. Do contrário, essa taxa vai 'comer' uma parte significativa do que seria embolsado.

Alkeos Saroglou, sócio da Alta Vista Investimentos

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Quanto devo investir no exterior?

A recomendação varia de acordo com o perfil do investidor, segundo Rodrigo Beresca, da Ativa Investimentos:

  • Agressivo: de 20% a 30% da carteira
  • Moderado: de 12% a 20% da carteira
  • Conservador: evitar esse tipo de aplicação

Ele não recomenda aplicações no exterior para quem tem perfil conservador porque as oscilações podem ser grandes e frustrar o investidor. Também aconselha quem não conhece bem esses ativos a procurar uma assessoria especializada, que vai ter condições de indicar produtos alinhados ao seu perfil.

Alkeos Saroglou, sócio da Alta Vista Investimentos, diz que quem tem um perfil mais cauteloso pode aumentar a fatia aos poucos, numa estratégia de longo prazo.

Pode ser um caminho, por exemplo, para quem tem planos de morar fora do Brasil no futuro, porque você constrói seu patrimônio em moeda estrangeira.
Alkeos Saroglou, sócio da Alta Vista Investimentos

Como em qualquer produto de renda variável, investir em aplicações atreladas a uma moeda estrangeira tem seus riscos. Para minimizar possíveis perdas, o investidor pode optar por fundos com hedge, ou seja, com uma proteção que trava a cotação do câmbio e neutraliza esse fator de risco. Com isso, a carteira estará sob a oscilação apenas do preço dos ativos, e não mais da moeda estrangeira.

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