Investir em empresa fechada

É possível aplicar em companhias que não têm ações negociadas na Bolsa? Veja dicas e riscos

Fernando Barbosa Colaboração para o UOL, em São Paulo

Investir em empresas de capital fechado, sem ações negociadas na Bolsa, é uma alternativa para diversificar as carteiras, e há empresas com retorno bastante atrativo no médio e longo prazos.

Para isso, é necessário que algum sócio esteja disposto a vender a sua participação ou que a empresa esteja em busca de recursos no mercado. O investimento ocorre por meio de bancos, distribuidoras, ou até plataformas de financiamento coletivo. São duas maneiras de aplicar: private equity e venture capital.

As duas formas receberam, juntas, R$ 53,8 bilhões em investimentos no último ano, avanço de 127% frente a 2020 (R$ 23,7 bilhões). O número de rodadas de captação realizadas pelas empresas passou de 255 para 345 no mesmo período, aumento de 35%. Os dados são de um estudo da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), em parceria com a KPMG.

Setores como educação, logística, saúde, varejo, cibersegurança, além das fintechs, despontam com novas oportunidades a cada dia, mesmo que o movimento de aumento dos juros pelos Bancos Centrais em diversos países, incentive aplicações de baixo risco.

"Ainda que estejam sujeitas a diversos riscos, as empresas em estágios iniciais e com bom desempenho tendem a se valorizar no longo prazo, oferecendo um interessante componente de diversificação em um portfólio de investimentos", afirma Marcos Olmos, sócio da VOX Capital e diretor de venture capital.

Veja abaixo como investir em empresas de capital fechado, o que deve ser levado em conta e os riscos e vantagens dos negócios.

Quais as diferenças entre fundos de private equity e venture capital?

A principal diferença é o momento em que a empresa se encontra, em relação ao seu amadurecimento.

  • Venture capital: é para empresas que estão consolidando as ideias, testando serviços e adaptando produtos no mercado, como startups.
  • Private equity: é a fase posterior, na qual o negócio já deve ter uma base de clientes mais atrativa e receita recorrente.

Nos dois casos, o interessado precisa procurar bancos, family offices ou distribuidoras. Assim, o investidor pode fazer aportes em FIP (Fundos de Investimentos em Participações) ou FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios).

Venture capital

Angelo Wolff, planejador financeiro do TC Matrix, diz que a captação tende a ser menor para companhias que orbitam em torno do ecossistema do venture capital.

"Geralmente, o venture capital é um estágio de crescimento anterior. As empresas estão em ritmo de crescimento acelerado, gerando receita líquida, mas sem lucros consistentes. O potencial de retorno é maior, mas o risco o acompanha", diz.

No caso das startups, geralmente as empresas só colocam à venda uma fatia minoritária, de 5% a 15%, por exemplo, diz Livia Brando, diretora de Venture Capital da gestora de investimentos de impacto Vox Capital.

Mesmo entre as startups, há estágios mais prematuros (early-stage), como pré-seed e seed, e etapas em que as companhias já começam a ganhar tração, como as Séries A, B ou C em diante.

Private equity

"Por outro lado, a atividade de private equity frequentemente envolve a compra total do negócio, que, após a transação, pode passar por um processo de reestruturação ou fazer parte de uma consolidação setorial", diz Livia. Assim, é necessário observar se aquele negócio vai de encontro com o objetivo de cada investidor.

Filipe Caldas, sócio-fundador da Carbyne Investimentos, gestora de recursos independentes especializada em mercados privados, vai além e estabelece algumas subdivisões. "O private equity pode ser dividido em algumas subclasses, como venture capital (passo inicial), growth (crescimento acelerado) e buyout (compra do controle de uma companhia)", diz.

A diferença é o estado de maturação das companhias. Enquanto os fundos de venture capital estão focados [em empresas] na fase inicial, os fundos de private equity tendem a investir em companhias um pouco mais consolidadas.

Carolina Oliveira, analista da XP Asset

O private equity tende a ter captações maiores, uma vez que o negócio já vem apresentando resultados interessantes, e o foco principal passa a ser, entre outros pontos, a sua expansão.

Angelo Wolff, planejador financeiro do TC Matrix

Como ter acesso aos fundos private equity e venture capital?

Tanto em private equity quanto em venture capital, o investidor compra participação na companhia ou empresta dinheiro a ela, afirma Carolina Oliveira, analista da XP Asset.

O investidor pode fazer isso por conta própria, como pessoa física, recorrendo a gestoras ou plataformas digitais, como as de crowdfunding, afirma Juliana Innecco, chefe de investimentos do Torq Ventures, programa de Corporate Venture Capital (CVC) da Sinqia, empresa provedora de tecnologia para agentes do mercado financeiro.

Ou pode investir indiretamente, via fundos:

  • FIP (Fundos de Investimentos em Participações): é quando uma instituição financeira investe recursos de um grupo de investidores
  • FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios): investem em títulos que representam valores que um negócio tem a receber, como uma dívida ou receita futura

Para Dan Yamamura, sócio-fundador da Fuse Capital, firma que faz aportes em equity de startups e tem como um dos instrumentos o venture debt (dívida não conversível e sem garantias), há prós e contras nos formatos de aportes diretos e indiretos.

No primeiro caso, o investidor tem maior autonomia para decidir como e quanto deseja investir. No segundo, por meio de fundos, há uma avaliação mais criteriosa a respeito da perspectiva da empresa.

No formato direto, toda a negociação, assim como a análise do investimento, é feita pelo investidor. No caso indireto, a dinâmica é outra. Tudo é feito pelos fundos: as análises de mercado, jurídica e estratégica, o estudo de competidores e o envolvimento de parceiros, como potenciais clientes ou fornecedores.

Dan Yamamura, sócio-fundador da Fuse Capital

O mais indicado é ter um relacionamento ativo, conhecer bem os gestores dos fundos e as teses de investimentos. Também é importante entender a rentabilidade média dos anos anteriores e a expectativa futura. Se o investidor não for um profissional, é fundamental buscar uma gestora ou family office com track record [histórico] relevante.

Juliana Innecco, chefe de investimentos do Torq Ventures - Sinqia

Há riscos para quem quer investir?

Há riscos, como em qualquer investimento. O aplicador precisa avaliar esse risco e a possibilidade de retorno para tomar decisões. Seja na renda variável ou na renda fixa, isso ajuda a evitar problemas como perder dinheiro.

Nos dois modelos de investimento em empresas de capital fechado, os ativos têm baixa liquidez, afirma Olmos, da Vox Capital. Na prática, isso significa que o investidor terá maior dificuldade caso queira vender sua participação na empresa para pegar o dinheiro e usar em outra coisa.

"O horizonte de investimento para esses tipos de ativo normalmente gira entre seis a 12 anos, até que haja a venda da participação na empresa ou a companhia faça um IPO, por exemplo", diz.

O risco está atrelado às poucas oportunidades de negociação dos papéis, também destaca Rodrigo Fiszman, CEO do Grupo Solum, holding de investimentos alternativos.

"O retorno do investidor acontece quando há um evento de liquidez, ou seja, quando a empresa é adquirida, recebe uma nova rodada ou abre capital na Bolsa", diz. "É diferente de um ativo listado [na Bolsa], que pode ser vendido mais rapidamente por meio da sua corretora."

Os executivos alertam que, no caso de investimento em startups, é preciso considerar que o dinheiro pode ser perdido, se a empresa não for bem-sucedida.

Ao investir em empresas, o investidor aposta no sucesso do negócio. Mas sempre existe o risco de um negócio dar errado. No venture capital, por focar em empresas mais iniciais, este risco é maior em comparação ao private equity.

Rodrigo Fiszman, CEO do Grupo Solum

Há a possibilidade de as empresas de private equity ou venture capital não terem um bom desempenho, o que significa que não poderão ser vendidas. Logo, não poderão retornar valores superiores ao investimento realizado. Também há casos em que o fundo não recupera nem sequer o valor investido originalmente.

Marcos Olmos, sócio e diretor de Venture Capital na Vox Capital

Quanto da minha carteira devo colocar nessas empresas?

Isso varia de acordo com o perfil de risco de cada investidor —conservador, moderado ou arrojado.

Carolina Oliveira, analista da XP Asset, diz que, em um primeiro momento, quando o investidor está começando a conhecer esses ativos, a recomendação é colocar 5% da carteira neles.

Alguns analistas indicam ter entre 10% a 15% do patrimônio. Em todo caso, a dica é que o investidor veja como se sente em diferentes situações, de acordo com o perfil de risco e conhecimento sobre o setor.

Angelo Wolff, do TC Matrix, diz que o segredo para uma boa performance em investimentos alternativos é o "timing" ao perceber as empresas que estão no radar.

"Uma recomendação é entrar de forma fracionada, o que permite diversificar entre segmentos e mercados nos quais essas empresas atuam e, dessa forma, mitigar o risco da carteira", afirma.

Acredito que cada vez mais crescerá no Brasil esse mercado, que apresentou uma forte expansão na última década, tanto pelo lado das empresas quanto pelo lado dos investidores, que já estão conhecendo um pouco mais dessa indústria bastante consolidada nos mercados mais desenvolvidos.

Angelo Wolff, planejador financeiro do TC Matrix

Essa é uma decisão sempre muito pessoal e individual na percepção de risco. Não há uma regra geral para isso. No entanto, percebemos empiricamente que esse percentual inicial costuma girar em torno de 10% do patrimônio. E conforme vai sendo bem sucedido, tende a aumentar.

Dan Yamamura, sócio-fundador da Fuse Capital

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