Planeje o ano sabático

Aprenda a investir para passar um ano no exterior e fazer um curso de inglês sem se preocupar com dinheiro

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, de São Paulo Getty Images/iStockphoto

Uma pausa no trabalho é o sonho de muitos profissionais. Pode ser a oportunidade para decidir quais serão os próximos passos na carreira ou, quem sabe, até fazer uma virada mais radical. Em momentos como esse, o chamado período sabático, há quem escolha viajar para ter contato com uma cultura diferente, aprender um idioma ou melhorar os conhecimentos que já tem em outra língua.

Para não ter de se preocupar em como arcar com as contas durante o período de pausa, no entanto, é preciso fazer um planejamento financeiro que leve em consideração os diferentes tipos de despesa no período de pausa —incluindo uma reserva para imprevistos.

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Como foi feito o levantamento do valor necessário para um ano sabático?

O UOL procurou especialistas em educação financeira com três cenários: um curso de inglês de até um ano nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, nas cidades de Boston, Londres e Sydney, respectivamente.

O objetivo proposto foi tirar um ano sabático daqui a cinco anos e acumular no período o suficiente para não precisar trabalhar durante 12 meses. Foram consultadas duas empresas especializadas em intercâmbio: a CI e a STB.

O período máximo oferecido para um curso de inglês é de 48 semanas e a opção escolhida foi de acomodação em residência estudantil, com quarto individual.

As duas empresas explicaram, no entanto, que na maioria das vezes os clientes ficam poucos meses nesse tipo de hospedagem. Com o passar do tempo, conhecem colegas de turma e se organizam para alugar um imóvel, o que pode baratear as despesas.

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Custo passa de R$ 180 mil; veja quanto investir por mês

Na despesa final, foram incluídos ainda os gastos com passagem aérea (a preços atuais, já que as companhias aéreas não permitem a simulação para datas muito distantes).

Também estão no orçamento os gastos com duas refeições fora de casa por dia e tíquetes mensais de metrô, segundo os valores disponibilizados no site de simulação de custo de vida Numbeo.

O viajante deve ter uma reserva adicional que inclua desde bebidas e compras de itens do dia a dia, como água e produtos de higiene pessoal, até ingressos para shows e cinema até passeios nos fins de semana.

Com isso, os valores estimados para arcar com um ano de curso de inglês no exterior são os seguintes: (com o câmbio na faixa de R$ 4,80):

  • Boston: R$ 181.362
  • Londres: R$ 173.267
  • Sydney: R$ 164.517

O valor a ser investido por mês variou entre os especialistas ouvidos pelo UOL. Começa em R$ 2.060 e chega a R$ 3.000.

Simulação 1* - valor mensal aplicado ao longo de cinco anos:

  • Boston: de R$ 2.271,01 a R$ 2.321,47
  • Londres: de R$ 2.169,64 a R$ 2.217,85
  • Sydney: de R$ 2.060,08 a R$ 2.105,86

*Valores líquidos, descontado o Imposto de Renda

Fonte: Raphael Palone, integrante da Comissão de Educação da Planejar

Simulação 2 - valor mensal aplicado ao longo de cinco anos:

  • Boston: R$ 3.000
  • Londres: R$ 2.900
  • Sydney: R$ 2.740

Fonte: Aline Belloli, sócia e especialista de investimentos da Warren

Simulação 3 - valor mensal aplicado ao longo de cinco anos:

  • Boston: R$ 3.000
  • Londres: R$ 2.900
  • Sydney: R$ 2.750

Fonte: Bia Moraes, educadora financeira da Ativa Investimentos

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Inflação pode ser uma ameaça

Quando se vai investir para um objetivo a ser alcançado em cinco anos, é interessante buscar uma combinação que dê um retorno real, ou seja, acima da inflação, e se expor a algum risco, sem ferir o perfil de cada um, de acordo com Raphael Palone, integrante da Comissão de Educação da Planejar.

Palone não recomenda investimentos atrelados exclusivamente ao real, exceto se o investidor acredita realmente que eles vão "bombar" nos próximos cinco anos.

Produtos que remuneram abaixo da inflação, como a caderneta de poupança, são uma alternativa ruim para quem tem planos de juntar dinheiro no médio prazo. Quem fizer essa aposta terá de aumentar o aporte mensal para chegar ao valor calculado para o período sem trabalhar.

Apesar de a inflação do Brasil ser um aspecto a ser considerado pelos investidores que buscam acumular recursos para usufruir de um ano sabático sem perder o poder de compra, Palone explica que também é preciso levar em consideração a diferença entre os índices inflacionários do Brasil e dos Estados Unidos para evitar o descasamento entre o valor total acumulado em reais e os preços praticados no exterior.

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Câmbio tem peso importante nos planos de viagem

Quem tem mais experiência e quer fugir das surpresas, segundo o integrante da Comissão de Educação da Planejar, pode comprar o dólar futuro. A operação permite travar desde o momento da aquisição a cotação do dólar daqui a cinco anos, quando chegar a data da viagem.

Ao mesmo tempo, diz o especialista, é importante se proteger da variação cambial, pois, se o dólar se valorizar muito nos próximos cinco anos, esses valores em reais não serão suficientes para pagar a viagem.

Pode-se olhar as BDRs ["ações" estrangeiras no Brasil] para se proteger da variação cambial ou ainda ETFs [fundos de índices] que repliquem a Bolsa americana, como o Índice Dow Jones ou o S&P500.

Raphael Palone, integrante da Comissão de Educação da Planejar

Poder de compra deve ser preservado

Os fundos cambiais são a sugestão de Aline Belloli, sócia e especialista de investimentos da Warren. O principal objetivo neste investimento é manter o poder de compra na moeda desejada. São fundos abertos que permitem aplicações e resgates a qualquer momento e investem em títulos de renda fixa emitidos em outras moedas estrangeiras, tais como CDB (Certificado de Depósito Bancário) e Títulos do Tesouro Direto.

Ainda segundo a executiva, eles buscam acompanhar a variação da moeda de referência, normalmente dólar ou euro. Os ganhos ou perdas decorrem da valorização ou desvalorização da moeda referência.

A segunda alternativa, sugere a especialista da Warren, é fazer aplicações em fundos de investimento que possuam em sua composição outros fundos de investimento (fundos multimercado) sediados no exterior.

Assim, é possível atrelar parte da carteira em moedas consideradas mais fortes, diversificando setores, atrelando a carteira ao dólar, euro, entre outras. Neste caso, o investidor fica sujeito à variação cambial e dos ativos no exterior.

Tenha em mente que o valor necessário para a viagem em reais estará suscetível à variação cambial. Por isso, recomendo que anualmente seja feito um balanço do custo total atualizado.
Aline Belloli, sócia e especialista de investimentos da Warren

A especialista da Warren explica que, nos últimos cinco anos, o dólar americano, o dólar australiano e a libra esterlina tiveram uma variação entre 50% e 60%. Uma taxa prefixada de 12% a.a. durante quatro ou cinco anos resultará em um ganho de 57% a 76%. Ela lembra ainda que tanto as aplicações quanto os resgates são efetuados em reais e estão sujeitos a regras tributárias no Brasil.

Aline Belloli destaca que, considerando o cenário atual em que o mercado oferece taxas de remuneração entre 12% ao ano e 13% ao ano, uma estratégia que pode trazer eficiência ao longo do tempo é alocar um percentual não tão relevante em renda fixa prefixada no Brasil.

Por outro lado, ela descarta para o objetivo de passar um ano no exterior os investimentos pós-fixados à taxa Selic ou à inflação, por exemplo, porque podem não acompanhar o custo da viagem ao longo do tempo.

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Fuja do sobe e desce

A recomendação de Bia Moraes, educadora financeira da Ativa Investimentos, é evitar investimentos com alta instabilidade, como ações, para não correr o risco de perder dinheiro e não conseguir se capitalizar novamente ao final de cinco anos.

Em situações como essa, em que os recursos serão investidos para pagar uma viagem com data, não se deve investir de jeito nenhum em ações. A Bolsa é volátil e pode não estar em um momento favorável na época em que o dinheiro será usado.
Bia Moraes, educadora financeira da Ativa Investimentos

A especialista da Ativa sugere títulos de renda fixa com prazos alinhados à data da viagem, além de produtos atrelados à moeda do país de destino.

Uma diversificação entre os dois tipos de investimento ao longo do tempo, com a variação dos percentuais, pode ajudar a chegar a um preço médio da moeda até o momento de viajar.

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