LCA ou CRA: Qual é o melhor?

Títulos financiam atividade agrícola, rendem mais e não pagam IR; saiba riscos e qual você deve escolher

Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto

Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) são títulos que financiam as atividades do campo e estão isentos de Imposto de Renda. Isso traz melhores retornos em renda fixa nesse momento de juros mais baixos da história..

Com a produção agrícola batendo recordes, o produtor precisa ir mais ao mercado para financiar suas operações, o que, segundo especialistas, favorece captações com taxas mais rentáveis ao investidor —dentro de uma nova realidade de juros a 2% ao ano.

Entenda a seguir semelhanças e diferenças entre LCA e CRA e descubra a melhor para seu perfil e objetivo financeiro.

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O recorde na produção agrícola leva a uma necessidade maior de levantar recursos, e bancos que entendem do setor vão emitir títulos a preços mais competitivos. Aí você pode ter, em geral, uma rentabilidade maior para o investidor.

Paulo Fróes, diretor da SRM Asset

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Risco do CRA geralmente é maior

Faça chuva ou faça sol nas lavouras, os títulos agrícolas prometem o pagamento de uma remuneração preestabelecida até o seu vencimento. O investidor deve prestar atenção na capacidade de o emissor desses títulos pagar o prometido.

O risco de crédito do emissor --ou, em bom português, o risco de calote-- é a variável mais importante a ser observada nos dois papéis, influenciando nos prêmios pagos pelo título. Afinal, como em qualquer investimento, quanto maior for o risco, maior será o retorno exigido pelo investidor. E aqui aparece a principal diferença entre as LCAs e os CRAs.

A LCA é emitida por bancos ou cooperativas de crédito, que por meio deste instrumento levantam recursos a serem emprestados ao agronegócio. Trata-se, portanto, de uma fonte de recursos do crédito rural.

Já o CRA corresponde a uma operação de recebíveis, na qual o produtor agrícola, ou qualquer empresa com negócios no setor, usa o mercado de capitais para antecipar contas a receber.

Sendo assim, em termos práticos, quem investe em LCA está emprestando dinheiro a um banco, correndo o risco de inadimplência do banco. Já quem adquire CRA está transferindo recursos a uma empresa de agronegócio, expondo-se ao risco de ela não quitar os recebíveis.

Como o risco de inadimplência do produtor rural é, em geral, maior do que o risco de calote dos bancos, os CRAs costumam oferecer retornos superiores ao investidor.

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Garantias reduzem risco da operação

As LCAs contam com proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significa que, em caso de quebra do banco emissor do título, até R$ 250 mil do investidor estarão preservados. A dica de especialistas, então, é respeitar esse limite se o investimento for em títulos emitidos por bancos com maior risco de crédito.

Já nos CRAs, como não se trata de uma emissão bancária, o FGC não protege o investimento. A lição de casa do investidor deve ser pesquisar os seguros e as garantias por trás da estruturação de recebíveis.

Vale entrar no prospecto da oferta dos certificados não apenas para saber mais da saúde financeira da empresa que emitiu os recebíveis, mas também para descobrir, por exemplo, se fazendas ou produção foram colocados como garantia em caso de inadimplência.

Um cuidado que o investidor deve ter ao comprar LCAs, principalmente de instituições pequenas, é estar dentro do limite garantido pelo FGC. Tivemos diversos casos de quebra de pequenos bancos ao longo do tempo, e o FGC sempre foi eficiente no ressarcimento dos fundos.

Matheus Ribeiro, sócio da CMS Invest

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Veja se o dono do papel tem boas recomendações

Tanto a LCA quanto o CRA são títulos cuja remuneração pode ser uma taxa prefixada ou indexada ao CDI (a taxa que acompanha a Selic) ou à inflação. Há títulos que acrescem um prêmio ao indexador: CDI mais uma taxa prefixada.

Quanto maior for o risco do emissor, maior será o retorno a ser cobrado pelo investidor, de modo que um banco pequeno deve, em geral, pagar mais juros do que um gigante financeiro que emite LCAs.

Por isso, antes de escolher o título, o investidor deve dar atenção mais do que especial à nota conferida ao emissor por agências de classificação de risco, estando ciente de que os emissores com as piores notas vão oferecer o maior retorno, porém com mais risco de calote.

A remuneração independe do desempenho do produtor rural que recebe os recursos. Tanto faz se houver uma supersafra ou se as lavouras forem devastadas por uma praga. A remuneração do investidor é a que foi pactuada na emissão do título. Mas o risco de inadimplência pode variar conforme os resultados da safra.

Se optar por uma LCA de um banco menor, busque um prêmio maior. O mesmo é válido para compra de CRAs: caso decida por uma empresa de menor porte, exija mais retorno, além de atentar-se à estrutura de garantia da operação. Tudo para não ter surpresas no futuro.

João Orsi, da mesa de assessoria da Terra Investimentos

Como são títulos com pouca liquidez no mercado secundário, dificilmente o que acontece no campo influencia no valor do título. Pode ajudar o tomador a pagar sua dívida se, de fato, ele for beneficiado em sua atividade. Mas fora isso, nada muda para o investidor.

Victor Savioli, analista financeiro

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Isenção faz com que títulos agrícolas remunerem melhor

Os títulos agrícolas estão entre as opções mais indicadas na busca por ganhos superiores ao CDI (referência de retorno da renda fixa) por isentar o investidor pessoa física do Imposto de Renda. É uma diferença importante em relação a outros títulos de renda fixa populares, como os CDBs ou mesmo os títulos públicos do Tesouro Direto.

A comparação com os demais títulos deve ser sempre feita, no entanto, em retorno líquido, ou seja, descontado de todos os encargos que reduzem a remuneração final do investidor, como impostos, taxas de administração, no caso de fundos DI, e custódia, cobrada em investimentos superiores a R$ 10 mil em títulos públicos indexados à Selic.

A LCA, em grande parte dos produtos oferecidos no mercado, vai apresentar remuneração acima da taxa de referência de renda fixa, com exceção de títulos emitidos por grandes bancos que, não raro, pagam menos de 100% do CDI.

Na comparação com títulos públicos, contudo, as LCAs devem sempre pagar mais em termos líquidos. Do contrário, melhor investir nos papéis, mais seguros e de maior liquidez, emitidos pelo Tesouro.

Os CRAs, por sua vez, oferecem muitas vezes um prêmio sobre o CDI em razão do maior risco.

Apesar das dificuldades de se comparar apenas retornos, pois se trata de produtos com liquidez e características diferentes, de uma maneira genérica, os títulos agrícolas tendem a render liquidamente mais do que os fundos DI.

Mauro Morelli, sócio da Davos Financial Partnership

Sempre que vamos para o crédito privado, não faz sentido entrar em ativo que não tenha prêmio de risco. Podemos comparar quanto paga um título do governo de mesmo vencimento e avaliar se faz sentido investir no crédito privado.

Matheus Ribeiro, sócio da CMS Invest

Investidor fica preso até o vencimento

Interessados em adquirir LCAs ou CRAs devem olhar também com atenção para os prazos dos títulos. Os papéis não são fáceis de vender antes do vencimento, caso você precise do dinheiro no meio do caminho.

A orientação é não investir neles o dinheiro "carimbado" para o pagamento de gastos, e só entrar quando houver certeza de que os recursos não serão necessários antes da data de resgate. Precisa ter uma reserva de emergência para despesas imprevistas.

Nas LCAs, é possível encontrar com facilidade prazos mais curtos, de apenas 90 dias, enquanto os CRAs têm geralmente prazos médios mais longos, de dois a cinco anos, podendo ter duração ainda maior.

Quanto maior for a duração, maior será o risco de ocorrerem safras ou ciclos econômicos ruins, que podem influenciar a capacidade de pagamento do emissor. Logo, títulos longos devem oferecer retornos mais altos.

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A primeira coisa que o investidor deve fazer antes de escolher uma LCA ou um CRA é entender quanto que ele precisa para pagar as suas despesas mensais. A sobra são os recursos discricionários, que o investidor usa para investir a mais longo prazo.

Paulo Fróes, diretor da SRM Asset

Nos dois casos, é preciso dar atenção ao risco de liquidez. Se o investidor quiser resgatar o investimento antes do vencimento, ele pode não conseguir. Ou, se conseguir, terá que vender com deságio grande.

Victor Savioli, analista financeiro

LCA compõe carteira de baixo risco

Junto com outros instrumentos tradicionais de renda fixa, como CDBs e títulos do Tesouro, as LCAs são indicadas para a parte da carteira reservada aos investimentos de baixo risco. Ela pode ser maior (50% dos investimentos totais) se o investidor tiver perfil conservador, e menor, por volta de 30% do total, no portfólio de investidores mais arrojados.

Os CRAs são investimentos indicados ao investidor interessado em assumir mais risco para elevar o retorno em títulos de renda fixa mais longos. Recomenda-se ter menos de 10% da carteira alocada nesses certificados.

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