Emprego em alta para "devs"

Cresce a procura por programadores; salário médio é de R$ 5.000, podendo chegar a R$ 16 mil

Claudia Varella Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images
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Jogar em aplicativos, pagar contas no celular, fazer compras online, participar de uma aula virtual. Quem já fez uma dessas ações na internet? Por trás de toda essa tecnologia, existe uma categoria que está sendo disputada a tapa no mercado de trabalho: os profissionais de TI (Tecnologia de Informação), em especial os desenvolvedores (os "devs", sigla para "developer") ou programadores, como também são chamados.

"O desenvolvedor é imprescindível para diferentes áreas em um negócio. Desde a criação de um site que irá permitir que lojas físicas se tornem e-commerces até a otimização e automação de processos internos que aumentam a eficiência operacional das empresas", declarou Eber Duarte, diretor de Tecnologia da Catho.

Aumento de vagas mesmo com pandemia

De acordo com levantamento realizado pela Catho, houve aumento na abertura de vagas para os cargos na área de TI entre março e agosto de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, mesmo com a pandemia de covid-19:

  • Programador ADVPL: +157%
  • C#: +144%
  • Web Developer: +107%
  • Programador JavaScript: +36%
  • Programador de Python: +17%

Só de março para abril deste ano, houve aumento de 55% de vagas para Programador Web.

Débora Ribeiro, especialista em recrutamento da Robert Half, diz que, durante a pandemia, houve um aumento na procura, principalmente pelo fato de muitas empresas não terem investido em ferramentas tecnológicas, como digitalização de documentos, uso de nuvem para acesso de dados, suporte ao home office, manutenção de hardwares e softwares, acesso a servidores e otimização dos meios de atendimento ao cliente.

"Com a pandemia, e a maior parte das pessoas trabalhando de casa, o investimento foi mais do que necessário", disse Débora.

Ela diz que os profissionais mais procurados da área de TI são das áreas de segurança da informação, dados, infraestrutura e desenvolvimento (engenharia). Segundo o executivo da Catho, os desenvolvedores são os mais procurados da área, e a demanda varia de acordo com a linguagem de programação e segmento.

A programação ganhou espaço em diferentes dispositivos, tornando-se quase que onipresente e norteando todo o mercado tecnológico, o que também torna a profissão cada vez mais requisitada pelo mercado de trabalho.

Eber Duarte, diretor de Tecnologia da Catho

Essa demanda aumentou principalmente por conta da aceleração do processo de transformação digital das empresas e também da LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais].

Débora Ribeiro, especialista em recrutamento da Robert Half

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O que faz um "dev"?

O "dev" escreve códigos que podem ser lidos por um computador. Essas instruções formam o que se conhece como software, programas, aplicações ou aplicativos.

Os conhecimentos exigidos de um desenvolvedor variam de acordo com as suas especialidades. Entre os "devs", há algumas especializações: o desenvolvedor em Web e Mobile, de jogos, RPA (para automação robótica de processos) e Full Stack Developer (atua de uma ponta a outra do projeto - por isso é "full").

"São essas pessoas que desenvolvem produtos para trazer as empresas para o mundo digital", disse Matheus Goyas, CEO da Trybe, escola focada na formação de profissionais de desenvolvimento web.

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Sobram vagas, falta mão de obra

Levantamento da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) apontou que a procura por profissionais na área de TI é de 420 mil pessoas, até 2024, no país.

Porém, hoje, segundo a entidade, o Brasil forma 46 mil profissionais com perfil tecnológico por ano.

Segundo Luana Castro, gerente de TI da Michael Page e Page Personnel, o aumento na abertura de vagas para desenvolvedores é evidente nos últimos anos. "Isso porque as empresas passaram a enxergar a real importância dos investimentos na área de tecnologia além da necessidade de uma plataforma, seja ela Web ou Mobile, cada vez mais moderna, integrada e de melhor usabilidade", afirmou.

A demanda por devs é crescente nos mais diferentes segmentos, passando por indústrias, serviços e mercado financeiro.

Todas as gigantes de tech e varejo no mundo vão aumentar seus quadros de contratações. O segmento de meios de pagamento e aplicativos também criou uma demanda enorme por devs no pós-pandemia, devido ao crescimento da procura por produtos e serviços online.

Marcus Vinicius Almeida Silva, coordenador dos cursos de MBA para Devs na Impacta Tecnologia

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Remuneração pode chegar a R$ 16 mil

Para especialistas ouvidos pelo UOL, a faixa salarial varia de acordo com o nível de senioridade, experiência, perfil da empresa, linguagens de programação demandadas (Java, Python, HTML, CSS etc.) e região do país.

Qual estimativa de salário para um dev em São Paulo:

  • Início

Eber Duarte, da Catho, disse que, a depender da área de atuação, um programador em fase trainee pode iniciar a carreira com salário em torno de R$ 1.700.

  • Carreira

Para Luana Castro, da Michael Page e Page Personnel, remuneração média pode variar de R$ 4.000 a R$ 11 mil, dependendo de experiência, linguagem de programação e se é um desenvolvedor júnior, pleno ou sênior.

  • "Full Stack"

Já Débora Ribeiro, da Robert Half, afirmou que o salário de um desenvolvedor Full Stack pode girar em torno de R$ 10 mil a R$ 16 mil.

R$ 5.102,39 é a média salarial

A média salarial pelo país fica pouco acima dos R$ 5.000, e menos de 1% recebe mais de R$ 15 mil, segundo levantamento realizado pela Vulpi, plataforma de recrutamento de profissionais de TI.

Os dados mostram a realidade sobre alguns mitos deste segmento do mercado de trabalho, como o dos supersalários, fato que não se comprova com a maioria dos profissionais.

Fellipe Couto, CEO e fundador da Vulpi

O mercado de TI vem enfrentando há algum tempo um grande questionamento entre o número de vagas disponíveis versus a quantidade de profissionais qualificados. E a tendência disso é um impacto direto na remuneração daqueles que têm a qualificação exigida.

Luana Castro, gerente de TI da Michael Page e Page Personnel

Qual o perfil dos devs no Brasil

O levantamento feito pela Vulpi mostra outros dados sobre o perfil dos desenvolvedores no país:

  • 40,6% se classificando como Full Stack
  • 13,7% citaram o JavaScript como a linguagem mais utilizada
  • 92% têm formação superior ou estão concluindo

Quanto ao nível de experiência:

  • 76,8% das empresas buscam profissional pleno ou sênior
  • 16,4% dos profissionais são iniciantes
  • 32,3% dos profissionais são júnior
  • 27,9% são pleno
  • 23,5% são sênior

No levantamento, a plataforma cruzou os dados de mais de 24 mil desenvolvedores ativos na base da Vulpi com 1.511 vagas abertas nas empresas, de 13 estados.

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Só a formação não basta

Há cursos técnicos e de graduação (como Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Ciência ou Engenharia da Computação) para a formação de um desenvolvedor.

Apenas o curso superior não garante o sucesso. A área exige aprofundamento, por meio de cursos em determinadas tecnologias, livros, fóruns, dentre outros. Resumidamente, especialização é a palavra que norteia essa profissão.
Eber Duarte, diretor de Tecnologia da Catho

Débora Ribeiro, da Robert Half, afirma que cada vez as empresas têm olhado menos para a formação do profissional e se atentado muito aos projetos dos quais esse profissional participou, além das certificações, que exigem uma dedicação e conhecimento altamente diferenciado.

"Além disso, muitos desenvolvedores começam a trabalhar muito cedo, e o envolvimento no trabalho e nos projetos passa a ser bem mais relevantes para esse profissional do que a formação em si", disse.

Sem promessas de aprendizado rápido

Marcus Vinicius Almeida Silva, coordenador dos cursos de MBA para Devs na Impacta Tecnologia, faz um alerta: fujam de ciladas como "aprenda a programar em 21 dias". "Assim como aprender um novo idioma, os cursos darão os conhecimentos que são a base. Mas é necessário dedicação do profissional a fim de alcançar a proficiência", disse.

Segundo ele, de modo geral, três meses de estudos e dedicação já são suficientes para qualificar-se a uma vaga de dev júnior. "No entanto, importante salientar que os cursos técnicos não são considerados graduação, e essa é sua principal desvantagem em relação ao ensino superior, pois não permitirá que o profissional avance e faça, por exemplo, um MBA, que, por sua vez, ajudará muito na sua carreira profissional."

Pagar curso só quando já estiver trabalhando

Veja algumas opções de curso, valores e condições de pagamento.

Impacta Tecnologia

Na Impacta Tecnologia, os cursos de graduação para a formação de um "dev" custam R$ 30 mil (Análise e Desenvolvimento de Sistema, 3 anos de duração) e R$ 39 mil (Ciência da Computação e Engenharia da Computação, 4 anos de duração cada). Nos de MBA, o valor é de R$ 16 mil para cada um dos cursos: Full Stack Developer e Full Stack Developer. A duração de cada é de dois anos.

Trybe

Na escola Trybe, com unidades em São Paulo, Belo Horizonte, Itajubá (MG) e Florianópolis (SC), o curso de desenvolvimento web custa R$ 20 mil à vista ou R$ 24 mil parcelado. O aluno tem a opção de começar a pagar apenas após estar trabalhando e com uma remuneração mínima de R$ 3.500 (neste modelo, o valor do curso passa a R$ 36 mil). O curso é livre e tem duração de 12 meses. A Trybe não dá um diploma, mas um certificado de participação e conclusão ao final do curso.

"Neste modelo, quando a pessoa estiver trabalhando com esta remuneração mínima, fará pagamentos mensais de 17% da sua renda. Se parar de trabalhar, o pagamento da mensalidade é suspenso", disse Matheus Goyas, CEO da Trybe.

Kenzie Academy

O mesmo modelo de financiamento é oferecido pela escola Kenzie Academy: o aluno só paga após conseguir vaga no mercado de trabalho com remuneração a partir de R$ 3.000 —o equivalente a 17% do seu salário. O curso livre de programação para desenvolvedor web full stack tem duração de 12 meses. À vista, o curso custa R$ 22 mil, ou R$ 24 mil parcelado.

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