UOL - Tem como poupar e investir ganhando um salário mínimo?
Nath Finanças - Dependendo da situação, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Poupar não significa poupar muito. Você consegue poupar R$ 10, R$ 20 ou R$ 30. Vá juntando os centavos quando pagar uma compra no débito em vez de em dinheiro, assim você economiza. Não vai ser fácil, mas você pode conseguir aos poucos.
Coloque na sua cabeça: guarde quando você puder e se você puder. Não se sinta pressionado ou culpado por não conseguir guardar dinheiro se você tem outras prioridades. Às vezes, vai tudo para pagar contas da casa, alimentação, contas dos filhos. Mas, se puder, comece a guardar, é um hábito que tem que começar.
UOL - O salário mínimo não sobe na mesma proporção que os preços de alimentos e do aluguel. Dá para equilibrar as contas?
O salário mínimo não tem o aumento que deveria, não acompanha o aumento do arroz, do óleo. Muitos dos meus seguidores perderam o emprego, tiveram redução salarial, não receberam o 13º. O [salário por] dia do trabalhador está mais barato que o quilo da carne, para quem ganha um salário mínimo [R$ 1.045, em 2020]. Meus seguidores estão aprendendo a se organizar, mas não tem como dizer que só educação financeira vai salvar neste momento. Ela dá suporte para você se organizar, mas não faz milagre.
Agora é começar a pensar em fazer reserva de emergência para o ano que vem, guardar R$ 10, R$ 20, R$ 30. Mas não serão seis meses de reserva, como os economistas falam. Meu público usou o ano para pagar contas básicas, como alimentação, e negociar dívidas que estavam altas. É difícil para as pessoas de baixa renda montar essa reserva, elas tentam guardar como podem.
Falta educação financeira no país? Quem deveria ser responsável por ela?
Não falta só educação financeira, mas interpretação de texto, matemática. Educação financeira é importante nas escolas e em casa, para normalizar a conversa sobre dinheiro.
Educação financeira pode ser a solução, por exemplo, para entender sobre juros compostos e não cair em ladainha de gerente de banco oferecendo empréstimo, não cair em cheque especial e cartão de crédito com limite alto e anuidade, cobrança de pacote de serviços essenciais que poderiam ser gratuitos.
Mas ela não resolve os problemas do mundo e do sistema. A pessoa tem que entender por que o salário dela não aumenta e por que as coisas estão caras demais. Colocam a culpa na pandemia, mas antes dela já não tinha aumento real do salário mínimo, não tinha política pública para ajudar as pessoas de baixa renda.
As pessoas estão indo para a informalidade, não estão conseguindo um emprego CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] que assegure que, se ela passar mal, vai ter plano de saúde. Aí classificam trabalhos precários, sem segurança nenhuma, como "empreendedorismo". Temos que focar no emprego e na valorização da CLT.
Tem muita coisa que precisa ser discutida, não só por economistas e por quem entende do sistema econômico brasileiro, mas entre toda a população, para as pessoas entenderem e tomarem decisões.
Dá para fazer planos de médio e longo prazo em um período tão incerto como este? Que dicas você dá para o pós-pandemia?
Dá, considerando sua realidade de hoje e sem metas inalcançáveis. O planejamento financeiro deve ser feito em fases.
O primeiro passo é entender sua relação com o dinheiro, começar a organizar as dívidas, a entendê-las e a negociar. Busque colocar essa organização financeira no papel.
Tenha metas não só na mente, escreva e coloque em prática como um hábito. Coloque uma meta e vá dividindo as tarefas durante o ano. Por exemplo, quer viajar depois da vacina? Tem que pesquisar os preços, saber com o que vai gastar, transporte, passeios, alimentação, se vai precisar comprar algo.