Onde investir: China ou EUA?

Brasileiro pode aplicar nas duas maiores economias do mundo, com opções como ETFs e BDRs

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto

Investir no exterior é uma oportunidade de diminuir a exposição aos riscos do Brasil, ter acesso a empresas de setores ainda inexplorados ou com poucas alternativas no mercado de capitais local e ter o rendimento em moeda estrangeira, como o dólar.

Por meio da B3, o investidor brasileiro pode acessar uma série de produtos financeiros atrelados a mercados internacionais. Os EUA reinam entre as atuais opções. No caso dos Exchange Traded Funds (os ETFs, ou fundos de índices), a Bolsa brasileira conta atualmente com 50 fundos listados (até 3/11) e cerca de 20 têm relação com a principal economia do mundo.

A China, apesar de ser a dona do segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) e de apresentar altas taxas de crescimento, faz parte de apenas três ETFs negociadas na B3.

No caso dos fundos de ações com alocação no exterior não é diferente: a predominância também é americana. Outra forma de chegar a esses dois mercados é por meio dos Brazilian Depositary Receipts, os BDRs.

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Desempenhos bem diferentes

Entre os ETFs abertos na B3 e atrelados aos EUA, o IVVB11 é um dos destaques. O fundo replica o principal índice da Nasdaq, o S&P 500.

Nessa Bolsa americana, estão listadas companhias de tecnologia como Google, Facebook, Apple e Microsoft. Do início do ano até 9/11, as cotas valorizaram 34,07%.

O XINA11, por sua vez, está entre os ETFs mais relevantes do mercado chinês. O fundo acompanha o índice MSCI China, composto por empresas chinesas de grande e médio porte listadas em todos os mercados.

São mais de 700 companhias, como Alibaba e Tecent, que representam em torno de 85% do total de empresas do país com capital aberto. No acumulado de janeiro até 9/11, o fundo registrou desvalorização, com queda de 10,91%.

Os especialistas lembram, no entanto, que ETF é um investimento em renda variável e pode apresentar oscilações maiores no curto prazo. Por isso requer cuidado por parte do investidor.

Fundador da Passfolio, David Gobaud dá outro exemplo de desempenho de ETFs dos dois países. No ano passado, o SPDR S&P 500 ETF Trust (SPY), o maior ETF do mundo e que rastreia o índice S&P 500 composto por 500 grandes empresas dos EUA, subiu 34,23%.

O iShares MSCI China ETF (MSCI), um ETF atrelado a ações chinesas disponíveis para investidores internacionais, caiu 6,58% no período. Por isso, o conselho é buscar informação.

Os investidores devem fazer suas próprias pesquisas para identificar os investimentos que melhor correspondem à sua situação financeira, objetivos e tolerância ao risco.

David Gobaud, fundador da Passfolio

Aly Song

Oportunidades, apesar das incertezas

Analistas ouvidos pelo UOL mostram que é possível aproveitar oportunidades tanto na maior economia do mundo quanto no gigante asiático. Roberto Attuch, fundador e CEO da Ohmresearch, avalia que a polarização entre chineses e americanos não deve afetar a lucratividade das empresas, já que a interdependência é muito grande entre as duas nações.

Para Attuch, o investidor que está indeciso entre China e EUA deve avaliar em que fase do ciclo econômico cada país está, ou seja, qual deles apresenta maior taxa de crescimento e potencial.

Outro indicativo, explica, é a performance das ações chinesas em relação ao S&P 500. Esse índice do mercado de ações reúne as 500 maiores empresas do mundo listadas e domiciliadas nas principais Bolsas de Valores nos EUA, a NYSE e a Nasdaq.

Não há consenso sobre China e EUA. Hoje, eu estou mais otimista com a China. A economia chinesa provavelmente vai ter estímulo econômico no começo do ano que vem, o que vai impactar no crescimento. Além disso, acho que já chegou ao ponto máximo de intervenção nas empresas de tecnologia.

Roberto Attuch, fundador e CEO da Ohmresearch

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EUA mais promissores

Diferentemente de Attuch, Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank Brasil, afirma que os EUA podem apresentar mais oportunidades para quem busca um ativo fora do Brasil.

A China ainda tem problemas pela frente, como as questões ambientais, a pandemia, as Olimpíadas de Inverno, em fevereiro do ano que vem, sem contar as incertezas quanto às interferências do governo chinês na economia. O país só deve retomar o ritmo de crescimento a partir de março.
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank Brasil

Para Gobaud, da Passfolio, tanto investimentos na China quanto nos EUA apresentam alguns riscos, como o impacto contínuo da covid-19, o comportamento das taxas de juros e inflação.

Mas nem por isso devem deixar de ser uma alternativa para os brasileiros que buscam diversificação. Ele diz que o Brasil enfrenta "incertezas devido às atuais condições econômicas e políticas".

Um dos principais pontos de atenção em relação aos investimentos relacionados à China, segundo Gobaud, está no desenrolar de uma decisão tomada ainda no governo de Donald Trump.

O republicano sancionou, em dezembro de 2020, uma lei que prevê a saída de empresas chinesas das Bolsas de Valores dos EUA. Para que isso não ocorra, as companhias devem cumprir os padrões americanos de auditoria.

A medida vale para todas as ações de companhias estrangeiras, mas seu objetivo é atrapalhar as de origem chinesa. Entre as exigências, está o cumprimento de regras de supervisão de contabilidade pública dos EUA por três anos consecutivos.

Existe a possibilidade de que mais de 200 empresas chinesas nos EUA com um valor de mercado combinado de U$$ 2 trilhões sejam retiradas da Bolsa por causa de uma lei assinada por Trump. Se o fechamento de capital acontecer, as ações da China podem cair rápida e dramaticamente.

David Gobaud, fundador da Passfolio

Hector Retamal/AFP

Medo de quebradeira

Além da pressão no mercado de capitais americano, a economia chinesa enfrenta atualmente incertezas em torno do China Evergrande Group, empresa com enormes dívidas que alguns descreveram como "o momento Lehman Brothers da China", lembra o fundador da Passfolio.

Com tantas particularidades nos dois mercados, os especialistas recomendam atenção antes de investir. Cada pais traz as suas especificidades —desde leis até tensões política—, o que pode refletir no desempenho da economia, das empresas e no valor do fundo.

O investidor que pretende diversificar sua carteira com ativos nos EUA ou na China não pode perder de vista os principais acontecimentos macroeconômicos.

O PIB chinês subiu 4,9% no terceiro trimestre de 2021, a taxa mais fraca de expansão em um ano. No trimestre anterior, o crescimento foi de 7,9%, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China.

Apesar do número elevado, é bem abaixo da taxa de 18,3% registrada pelo país nos primeiros três meses do ano —reflexo da forte queda da economia no início de 2020 por causa da pandemia.

Já os EUA, que vinham de uma forte aceleração da economia (alta de 6,7% no segundo trimestre de 2021), devem, segundo estimativa, apresentar no terceiro trimestre, em dados anualizados, uma alta no PIB de 2%, avaliou o escritório oficial de estatísticas (BEA) do Departamento de Comércio do país.

Getty Images/iStockphoto

Perspectivas para as potências

Para parte dos analistas, os EUA podem estar mais perto do pico do crescimento econômico --apesar do fôlego adicional ganho com a aprovação, em 6 de novembro, do pacote de US$ 1,2 trilhão direcionado a projetos de infraestrutura, como a modernização de estradas, ferrovias e aeroportos, além de energia, abastecimento de água e internet.

A China, por sua vez, ainda traz incertezas no curto prazo --como o tamanho do impacto da atual crise energética na produção e a proporção que pode ganhar a nova onda de contaminações pelo coronavírus.

Quando se olha para o retrovisor, no entanto, não há dúvidas quanto ao ritmo acelerado de crescimento do país asiático. Segundo o Banco Mundial, em 2000, o PIB americano era de US$ 10,252 trilhões. Já o chinês foi de US$ 1,211 trilhão. Em 2020, os EUA chegaram a US$ 20,937 trilhões, ante US$ 14,723 trilhões da China.

Em 20 anos, a economia americana cresceu, e a chinesa acelerou graças a uma série de estímulos fiscais e monetários, acompanhados de uma rápida abertura econômica e de participação no comércio internacional cada vez maior.

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