Mercado otimista no Ano-Novo

Sobra dinheiro no mundo para investimento em ações e em novas opções rentáveis em 2021, dizem analistas

Rejane Aguiar Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images

Dá para dizer, neste finalzinho de 2020, que o mercado financeiro continua um tanto descolado da vida real. Enquanto a pandemia volta a piorar, o clima é de otimismo entre gestores e economistas.

A aprovação de vacinas no exterior mostra uma luz para o problema, o que permite apostas em recuperação econômica mundo afora.

Essa retomada abre espaço para valorização de ações nas Bolsas, tende a melhorar o perfil das dívidas privadas que estão em fundos de investimento e reforça a abertura para investimentos alternativos. Tudo isso num ambiente de muita "sobra" de dinheiro no mundo e de juros baixos por toda parte.

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A vacina põe um teto no problema da pandemia.

Walter Maciel, CEO da AZ Quest

Apesar de ser um processo que leva tempo, a vacinação dá um alento. Ela melhora a confiança dos consumidores e dos empresários, o que tende a gerar produção, emprego e renda.

Helena Veronese, economista-chefe da Azimut

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Cenário no Brasil depende do governo

Esse é o quadro geral traçado por especialistas para o mercado global, com reflexos positivos também para o Brasil. Por aqui, o cenário pode ter um pouco mais de turbulência a depender dos caminhos que o governo escolher para substituir o auxílio emergencial sem comprometer as contas públicas.

Se a trilha for populista —ou seja, se o governo ignorar o teto de gastos—, não está descartada a possibilidade de os mercados reagirem mal, com queda na Bolsa e alta no dólar. Certo é que o encaminhamento de reformas que o mercado considera essenciais para um crescimento sustentável do país (tributária e administrativa, por exemplo) terá mais um ano difícil no Congresso.

Além da questão fiscal, será preciso acompanhar a evolução da agenda de reformas e de privatizações.
Helena Veronese, economista-chefe da Azimut

Por enquanto, no campo político, predominam as expectativas em relação à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no comando do Senado.

Os cargos são importantes para os cenários do mercado porque depende deles a escolha de projetos que vão ser votados e em que ordem.

Previsões de PIB, dólar e Bolsa

Do ponto de vista macroeconômico, o mercado termina o ano com prognósticos positivos para os principais indicadores. Depois de uma queda projetada de 4,4% para este ano (bem menor que a previsão de recuo de pelo menos 7% feita no início da pandemia), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve subir 3,46% em 2020.

A previsão consta da pesquisa Focus, do Banco Central, divulgada no dia 21 de dezembro. Para os juros básicos, as apostas são de uma leve subida dos atuais 2% ao ano para 3% anuais no encerramento de 2021. A alta é considerada mais uma acomodação do que uma mudança de direção da Selic.

Maciel, da AZ Quest, trabalha com três cenários macro para o próximo ano.

Cenário 1 (60% de chance)

  • Não há grandes reformas, só ajustes
  • Governo respeita o teto de gastos
  • Ibovespa: 135 mil pontos
  • Dólar: R$ 4,80
  • Selic: entre 3,5% e 4% ao ano

Cenário 2 (30% de chance)

  • Há reformas razoáveis
  • Mantido teto de gastos
  • Ibovespa: 150 mil pontos
  • Dólar: entre R$ 4,40 e R$ 4,50
  • Selic: 3% ao ano

Cenário 3 (10% de chance)

  • Descalabro fiscal
  • Populismo
  • Ibovespa: 90 mil pontos
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Empresas se recuperam

Com a esperada retomada das economias pós-vacinas, diz Veronese, a expectativa é de firme recuperação das empresas, com destaque para os setores mais prejudicados no começo da pandemia: companhias áreas, cadeia de turismo, segmento de restaurantes e locação de veículos são alguns deles.

Na opinião de Maciel, da AZ Quest, também pode estar chegando a hora de os investidores voltarem a "olhar para os bancos" e para as empresas de commodities. O boom das commodities foi a base do forte crescimento do país nos anos 2000.

Estamos observando um novo movimento de valorização das commodities. Ele vem da tendência do aumento de demanda de países com grandes populações, como a Índia, por infraestrutura e alimentos.

Walter Maciel, CEO da AZ Quest

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Dinheiro sobrando vai para investimentos alternativos

Há muito dinheiro sobrando no mundo dos investimentos. São recursos disponíveis que ainda não encontraram boas oportunidades. O mercado se esforça para montar produtos e estratégias para atrair esse capital.

Como diversificação é a palavra-chave para uma boa gestão de carteiras, opções interessantes em 2021 podem estar nos chamados investimentos alternativos.

Entre eles, estão os fundos multimercados com estratégias mais sofisticadas, operações estruturadas de crédito —como as dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs)—, ativos imobiliários, litigation funds (fundos que lucram com disputas judiciais) e private equity (compra de participações em empresas fechadas).

Segundo Emmanuel Hermann, CEO do Grupo Leste, igualmente mantêm a tendência de avanço os investimentos globais em ativos de tecnologia, e em várias áreas: biotecnologia (biotechs), sistema financeiro (fintechs) e educação (edutechs) são alguns exemplos.

O ambiente em 2021 estará bastante favorável para investimentos estruturados não padronizados, que podem oferecer retornos mais altos, mas também um grau maior de risco. Além disso, tende a ganhar espaço a diversificação geográfica. Isso é importante para os investidores, porque o mercado brasileiro ainda é muito limitado.

Emmanuel Hermann, CEO do Grupo Leste

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