Seguro para investimentos

Dólar, ouro e outros 'seguros' para seu dinheiro durante crises como a pandemia

Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto/onurdongel

Momentos de pânico no mercado financeiro, como os causados pela crise do coronavírus, realçam a necessidade de proteger seus investimentos contra catástrofes.

Aplicações como dólar e ouro e estratégias que garantem um preço mínimo para as ações funcionam como uma espécie de seguro para investimentos.

Uma pitada deles em sua carteira vai significar menos estresse quando a próxima crise internacional estourar. Nos momentos de alta do mercado, porém, esses ativos de proteção vão, muitas vezes, limitar os seus ganhos. O segredo é saber dosar.

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O investidor deve primeiro pensar de qual risco quer proteger sua carteira. Depois, pensar em quais instrumentos ou ativos combinam melhor com sua carteira atual, conforme o risco do qual pretende se proteger. E, por fim, checar o custo das alternativas.

Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento

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Dólar vira refúgio nas crises

Ao prever que o tempo vai fechar no mercado, os investidores vendem investimentos de risco, no, caso das ações, em especial de mercados emergentes. Na hora, migram para investimentos de segurança, sendo o principal deles os títulos do Tesouro americano.

Isso produz enxugamento de dólares em mercados internacionais. Isso valoriza o dólar frente à maioria das moedas do mundo, podendo ser maior ou menor a depender dos problemas domésticos de cada país.

No Brasil, onde as crises internacionais são potencializadas por crises políticas e fiscais, o dólar é um dos ativos mais indicados para o investidor que quer se blindar dessas encrencas.

Desde o começo do ano, o dólar já saiu de R$ 4 para bater em quase R$ 6. Quando o choque da pandemia derrubou o Ibovespa, principal índice da Bolsa, em 47% em apenas dois meses, a moeda americana teve valorização de 23%.

Quem tinha dólares na carteira (não necessariamente verdinhas no bolso, mas também investimentos em fundos cambiais ou em ativos dolarizados) conseguiu aliviar o impacto da crise do coronavírus em seu auge.

Veja vantagens e desvantagens do dólar:

Vantagens:

  • Diversidade de produtos, que vai do fundo cambial puro a fundos que investem em ações ou títulos em dólar
  • Moeda com poder de compra no mundo todo
  • Diversificação de risco de moeda
  • Alta liquidez internacional

Desvantagens:

  • Cobrança de Imposto de Renda sobre ganho de capital na variação do câmbio
  • Muita variação
  • Com juros internacionais perto de zero, não há garantia de ganhos reais em moeda forte

Choques fortes como o da covid-19 quase nunca são esperados até que aconteçam. No período mais agudo de medo, tudo tende a cair. Por sermos um país emergente de moeda fraca, o real sempre acaba perdendo bastante. O melhor nesses momentos é ter dinheiro em caixa e, principalmente, dólar por meio de fundos cambiais.

Victor Savioli, analista financeiro

A crise do coronavírus afetou diversos países de formas diferentes. A China saiu fortalecida. O Brasil sairá pior. Em países emergentes como o nosso, a diversificação internacional funcionou muito como instrumento de proteção. Ter um pedaço dos investimentos em ativos dolarizados ajudou muito o retorno total da carteira.

Marcos De Callis, estrategista da Hieron

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Ouro é concorrente do dólar como seguro

O ouro concorre com os títulos do Tesouro americano. como refúgio dos investidores durante crises. A atratividade do ouro aumenta quando se compara com títulos públicos que têm menos riscos, como os dos EUA. Com menos riscos, eles também pagam menos juros.

Como normalmente a reação dos bancos centrais contra as recessões é cortar juros, a vantagem do ouro fica ainda maior.

A principal ressalva em relação ao ouro é a de que ele, diferentemente dos títulos públicos, não paga juros. Entrega apenas a valorização do metal.

Em momentos de pânico, a desvalorização dos ativos é, muitas vezes, generalizada, podendo atingir também o ouro. Mas, mesmo nessas situações, o metal costuma mostrar desempenho melhor do que a média.

Não é preciso necessariamente ter um cofre para guardar barras de ouro, já que contratos negociados em Bolsa permitem adquirir gramas do metal.

Também é possível realizar esse investimento por meio de fundos que investem em ouro, sendo que o investidor deve observar, neste caso, se o fundo busca espelhar a variação do ouro em dólares ou em reais.

Se a cotação do metal é convertida para reais, capturam-se as variações de dois ativos que se dão bem em crises: o dólar e o ouro.

Veja vantagens e desvantagens do ouro:

Vantagens:

  • Reserva de valor mundialmente reconhecida
  • Preço do ouro em reais captura variação tanto do metal quanto do dólar, dois ativos que costumam ter valorização na turbulência
  • Investimento indicado em ciclos de juros baixos ou negativos nas economias desenvolvidas
  • Proteção de longo prazo da carteira contra inflação

Desvantagens:

  • Custo de custódia
  • Não indicado a investidor que busca renda, pois não paga juros, nem dividendos
  • Ciclos são longos. Ou seja, pode demorar muito para subir

O ouro é um ativo escasso. Todo o ouro já minerado no mundo enche apenas duas piscinas olímpicas, e por conta disso tende a ser uma proteção.

Matheus Ribeiro, sócio da CMS Invest

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"Seguro" para garantir preço da ação

No mercado de opções, o investidor encontra um instrumento que assegura a ele um preço mínimo de venda às ações que têm em carteira. Trata-se das "puts", como são conhecidas, pelo nome em inglês, as opções de venda.

Nada mais são do que um contrato que dá ao seu titular o direito de vender determinada ação por um preço estabelecido, o chamado "strike", numa data de vencimento futura. Então, na pior das hipóteses, o preço previsto na "put" está garantido.

Se na data de vencimento a ação estiver sendo negociada acima do "strike", o investidor vende o ativo pelo valor de mercado, tendo o ganho da operação descontado pelo preço pago por um contrato de opção que não foi exercido.

No meio do caminho entre a compra e o vencimento do contrato, existe sempre a possibilidade de vender antecipadamente as "puts", que estarão valendo menos se a ação estiver em alta ou valendo mais se estiver em queda.

É considerado um bom instrumento de proteção de capital, mas, segundo especialistas, oferece segurança a preço alto, o que torna inviável o uso permanente do instrumento.

Opções de venda (puts)

Vantagens:

  • Proteção em momentos de queda acentuada
  • Não limita a potencial valorização do ativo protegido

Desvantagens:

  • Custo alto
  • Nem sempre é possível encontrar "puts" a todos ativos financeiros

As opções de venda são a alternativa recomendada para a maioria dos clientes, pois, apesar do custo, preservam os possíveis ganhos em caso de alta do ativo a ser protegido.

Mauro Morelli, sócio da Davos Financial Partnership

Vender ações alugadas pode proteger, mas é complexo

Uma estratégia usada na especulação na Bolsa pode servir também para proteção dos investimentos, quando feita corretamente.

O "short", como é conhecido esse tipo de operação, consiste em vender ações alugadas de um terceiro para recomprá-las posteriormente. Se o preço da ação cai, recompra-se mais barato e, logo, há lucro. Se o preço sobe, o resultado é o oposto: prejuízo.

Ganhos obtidos em operação "short" ajudam a cobrir parte do prejuízo da carteira principal das ações do investidor. Mas é uma estratégia complexa, que exige conhecimento e experiência.

É preciso saber combinar bem o short com as ações a serem protegidas (ambos precisam ter movimentos espelhados), e sem errar na dosagem, dado que na mesma medida em que neutraliza perdas, a estratégia neutraliza os ganhos.

Veja vantagens e desvantagens do short:

Vantagens:

  • Custo relativamente baixo do aluguel das ações
  • Boa quantidade de alternativas

Desvantagens:

  • É preciso depositar garantias para realizar a operação
  • Necessidade de alto conhecimento técnico para fazer short
  • Risco de descasamento entre ativo e "hedge"
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Quando fazer um "seguro" de investimentos?

Instrumentos de proteção de seus investimentos (ou, simplesmente, "hedge") podem provocar sentimentos diferentes nos investidores. Quando o mercado está desmoronando, a sensação é de alívio, de que a tragédia seria ainda pior se não fizessem parte da carteira.

Mas, quando tudo está bem, você pode pensar que estaria ganhando mais sem eles.

Só que é justamente na bonança que o investidor encontra o melhor momento para adicionar itens como dólar ou ouro a seu portfólio.

Analistas dizem que comprar guarda-chuva é mais barato em dias de sol. Não espere a tempestade chegar.

É recomendado montar posições de hedge com o mercado em alta. Em cenários de alta, normalmente a parte de hedge pode perder dinheiro, mas, nesses momentos, costuma ser muito barato fazer essas posições.

Matheus Ribeiro, sócio da CMS Invest

É possível reduzir posições de hedge em momentos de cenário macroeconômico mais favoráveis, mas nunca zerar. No momento atual, o recomendável é estar com proteções em dia.

Victor Savioli, analista financeiro

O hedge deve fazer parte do portfólio do investidor em todos os períodos. Comparando com o seguro de automóveis, ele deve ser feito de maneira recorrente, e não apenas quando o motorista vai utilizar mais o veículo.

Mauro Morelli, sócio da Davos Financial Partnership

Quanto investir em "seguro"?

Dose seus investimentos de segurança. Escolha ativos de menor custo de carregamento e não exagere na quantidade..

A "proteção perfeita" vai zerar todas as perdas, mas também todos os ganhos e dificilmente será completa.

O percentual varia de acordo com o perfil de risco do investidor e de seu objetivo. Quer proteger um ativo específico ou toda a carteira?

Dentro de um portfólio diversificado e com objetivos de longo prazo, é razoável ter 5% investidos em ouro ou dólar.

As opções de venda (puts) devem ser adquiridas de forma mais pontual, pois o uso sistemático custa caro e reduz os retornos.

O short não deve visar a proteção de toda a carteira porque o resultado dos investimentos seria sempre nulo.

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