Mais proteína no prato

Produção e consumo de carnes e ovos deve subir em 2022, mas consumidor não verá alívio nos preços

Viviane Taguchi Colaboração para o UOL, em São Paulo Rainer Fuhrmann / EyeEm
Getty Images

Produção, consumo e exportação de carnes e ovos no Brasil vão aumentar em 2022, de acordo com previsões da indústria.

Mas o consumidor não deve esperar alívio nos preços. De acordo com o economista sênior da LCA Consultores Fábio Romão, os preços das carnes "subiram de elevador" desde o início da pandemia e, em 2022, "descerão de escada, bem devagar".

"Teremos uma pequena queda, mas ela não compensará a inflação acumulada desde 2020", afirmou. Segundo ele, a carne de boi vai continuar cara pelo menos até meados do segundo semestre do ano que vem, quando haverá maior oferta de animais para abate. Em 2021, o consumo da carne de boi em 2021 foi o menor dos últimos 26 anos.

Em 2022, cada consumidor brasileiro comerá, em média:

  • 262 ovos, 2,5% acima da média de consumo registrada em 2021 (255)
  • 17,5 quilos de carne de porco, alta de 5% na comparação da média deste ano (16,9)
  • 47,5 quilos de frango, 5,5% a mais que a média de 2021 (46)

Os números fazem parte de relatório divulgado neste mês pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que não engloba a cadeia de bovinos.

O consumo já havia subido neste ano, exceto o de carne bovina. Em 2021, o brasileiro aumentou em 1,5% o volume consumido de frango, em 5% o de carne de porco e em 1,6% o de ovos.

"O consumidor está buscando alternativas para suprir sua dieta de proteínas, e isso vem sustentando a demanda interna, mesmo em meio a um quadro crítico provocado pela pandemia e custo de produção mais alto", disse Ricardo Santin, presidente da ABPA.

Lá fora, frango, suínos e ovos também devem ganhar mais espaço. As previsões para exportação são:

  • 4,65 milhões de toneladas de carne de frango (3,5% acima de 2021)
  • 1,25 milhões de toneladas de carne suína (13% a mais que em 2021)
  • 9,5 mil toneladas de ovos (6,5% acima do volume exportado atualmente)

O avanço da vacinação, somado à melhoria do quadro econômico, mantém um cenário de sustentação da demanda por produtos de aves, suínos e ovos no mercado nacional.

Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal)

Getty Images/iStockphoto

Carne bovina mais cara

No caso dos bovinos, houve queda de 4% no consumo em relação a 2020 e de 14% na comparação com 2019, antes da pandemia, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A queda se deve aos reajustes acumulados nos últimos dois anos pelo setor e repassados aos consumidores ao longo da pandemia.

Pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o preço da carne variou dois dígitos desde outubro de 2019, com alta entre 30% e 40%. Até agosto, a carne de boi acumulava aumento de 30,8%, acima da inflação geral (9,68%), conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

As altas foram acentuadas em 2020, com a disparada do dólar, a estiagem, que piorou a qualidade dos pastos e aumentou a necessidade dos criadores oferecem ração ao gado, e a redução na oferta de animais para o abate no mercado interno. As vacas deixaram de ser abatidas para aumentar a produção de bezerros.

"A alta do dólar estimulou as exportações de carne e reduziu a oferta no mercado interno, o que fez o preço subir", afirmou Guilherme Malafaia, do Cicarne, da Embrapa do Mato Grosso do Sul.

Em um ano, os preços do milho acumularam alta de 68,8%, e os da soja, de 79,4%, de acordo com a LCA Consultores. Os grãos são usados para produzir ração.

Para o representante do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no Brasil, ainda assim, a produção de carne de boi no país vai aumentar 2,1% em 2022, passando de 9,5 milhões de toneladas para 9,7 milhões de toneladas, e o aumento de gado para abate (apenas no 2º semestre) pode fazer os preços caírem.

A entidade é uma das poucas que fazem projeções sobre a carne bovina.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Maior oferta de carnes

O USDA espera um alívio nos preços da carne bovina a partir do segundo semestre de 2022. Essa redução não resgatará os preços de dois anos atrás, mas pode promover uma recuperação no consumo.

Segundo o órgão, a projeção é que os brasileiros aumentem em 2,7% o consumo geral de carne, para 7,1 milhões de toneladas. Para 2021, o USDA reduziu esse volume de consumo em 8,9%, para 6,934 milhões de toneladas.

O aumento no consumo das carnes em geral tem a ver, também, com a maior oferta estimada para 2022. Nas projeções da ABPA, a agroindústria vai processar entre 14,4 milhões de toneladas e 14,7 milhões de toneladas de carne de frango, aumento de até 4,5% em relação ao volume que será produzido em 2021, 4,85 milhões de toneladas de carne de porco, 4% acima do volume em 2021, e 56,2 bilhões de ovos, 3% a mais que os produzido neste ano.

"Nunca se comeu tanto frango, suínos e ovos no Brasil, e isso é ótimo [para os produtores]", afirmou Santin, presidente da ABPA.

Segundo ele, os ovos ganharam espaço nos últimos anos e conquistaram o consumidor, não somente porque é uma fonte de proteína animal mais barata que as carnes, mas porque a ciência provou que o seu consumo não faz mal à saúde. "Caíram os tabus em torno do ovo. É uma fonte de proteína super saudável".

Wenderson Araújo/Divulgação

Exportações de carne de porco

A expectativa do setor de proteína animal é bastante otimista com o desempenho das exportações.

Conforme o diretor de mercados internacionais da ABPA, Luis Rua, a consistência da demanda asiática por aves e suínos, atrelada ao aumento da procura por países do Oriente Médio e União Europeia, reforçou essa expectativa. "Isso vai ocorrer sem gerar qualquer pressão de disponibilidade de produtos no Brasil", afirmou.

Na semana passada, a entidade já havia divulgado exportações históricas para a carne suína, incluindo todos os produtos derivados do porco, in natura e processados, que totalizaram em setembro 112,2 mil toneladas. O número é 29,7% maior que o exportado no mesmo período de 2020 e supera a antiga marca mensal histórica alcançada pelo setor, em março deste ano, de 109,2 mil toneladas.

Desde janeiro, as vendas externas de carnes de porco brasileiras já acumulam 868,8 mil toneladas, 13,58% a mais que em 2020. "Essa demanda internacional alivia a pressão com os custos de produção", disse Santin.

China, Hong Kong e Chile são, até agora, os maiores compradores de carne de porco do Brasil. "Mas há outros mercados, como Filipinas, Argentina e Japão, que ampliaram as compras e estão contribuindo para que o setor supere a marca de US$ 2 bilhões em exportações em nove meses", declarou Rua.

A expectativa é que, em 2021, as exportações de carne suína somem entre 1,1 milhão de toneladas e 1,15 milhão de toneladas, 12% a mais que o volume exportado em 2020 e, em 2022, aumente até mais 13%, chegando a 1,25 milhão de toneladas.

Pedro Silveira/Folhapress

Frango brasileiro no exterior

Em setembro, as exportações de frango também aumentaram, segundo a ABPA, e totalizaram 418,5 mil toneladas no mês, 21,3% acima das exportações registradas em setembro do ano passado, com 345 mil toneladas. De acordo com a entidade, entre janeiro e setembro, já são 3,46 milhões de toneladas de carne de frango exportadas em 2021 (9% a mais que em nove meses do ano passado). Em receita, as vendas somam US$ 5,6 bilhões.

De acordo com Rua, as exportações no terceiro trimestre foram especialmente altas, superando a média mensal de 400 mil toneladas. Só a China, segundo ele, importou 63,2 mil toneladas de frango em setembro, seguida pelo Japão, com 46,9 mil toneladas e Emirados Árabes Unidos, com 43,2 mil toneladas.

A retomada gradativa das atividades tem impulsionado o consumo em diversos destinos de exportação, especialmente no Oriente Médio e Ásia.
Luis Rua, diretor de mercados internacionais da ABPA

As projeções para este ano indicam que a agroindústria de frangos deve exportar algo em torno de 4,5 milhões de toneladas, 7,5% a mais que no ano passado, e, em 2022, até 4,65 milhões de toneladas, 3,5% acima do volume de 2021. O aumento considerável de exportações deve-se, principalmente, a uma mudança de hábitos alimentares dos chineses, que introduziram o consumo de frango industrial na dieta.

Paulo Whitaker

Demanda por carne bovina em alta no exterior

Assim como as carnes de frango e porco, as exportações totais de carne bovina, in natura e processadas, também registraram novo recorde de movimentação mensal em setembro, com aumento de 31% no volume, informou a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Decex), do Ministério da Economia.

De acordo com a entidade, 218,5 mil toneladas de carne foram exportadas no mês e somaram US$ 1,1 bilhão. De janeiro até agora, as exportações totais passaram para o azul em volume, com crescimento de 2,84% sobre o mesmo período de 2020, com 1,5 milhão de toneladas. Nas receitas, o resultado subiu 22%: de US$ 6,109 bilhões em 2020 para US$ 7,467 bilhões em 2021.

De novo, a China aparece como principal importadora, com 60,2% das compras e, em seguida, os EUA e o Chile. Segundo a Abrafrigo, pelo menos 90 países aumentaram as importações de carne até o mês de setembro deste ano e 74 países reduziram.

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