Renda na aposentadoria

Como investir para ter aposentadoria de R$ 10 mil mensais? Especialistas dão sugestões

Fernando Barbosa Colaboração para o UOL, em São Paulo

Você está inseguro sobre a previdência oficial e quer garantir uma renda adequada na sua aposentadoria?

Para ajudar os investidores a encontrar as melhores opções, o UOL buscou a ajuda de especialistas com a seguinte proposta: estabelecer uma renda mensal de R$ 10 mil na aposentadoria. Veja as sugestões a seguir.

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Regra principal: disciplina

Os especialistas consultados pela reportagem estabelecem diferentes cenários para chegar à meta estipulada (observe mais abaixo). Antes de mais nada, porém, os investidores precisam ter foco e estabelecer planos de longo prazo.

O ideal é começar o quanto antes. Assim, é possível ter valores menores para a poupança nos anos iniciais de carreira e elevar o montante de forma gradativa, conforme a pessoa envelheça e tenha maiores responsabilidades no meio corporativo.

No entanto, não é impossível começar após os 40 anos, por exemplo. Mas, tanto para os mais velhos quanto para quem ainda está dando os primeiros passos no mercado de trabalho, ter disciplina é primordial.

É importante assumir riscos compatíveis com o seu perfil. Como experiência não é transferível, jovens tendem a buscar mais riscos do que estão realmente dispostos a tolerar em momentos desfavoráveis.

Matheus Fachini, especialista em wealth management da Vitreo

A primeira coisa a fazer é um bom estudo para entender as necessidades e ambições no longo prazo. Depois, vale avaliar a capacidade do investidor em suportar as oscilações do portfólio ao longo do tempo.

Rodrigo Santin, CIO da Legend Wealth Management

Como ter uma renda mensal de R$ 10 mil na aposentadoria?

Os especialistas consultados pela reportagem indicam diferentes caminhos para obter os R$ 10 mil. Os valores necessários variam entre R$ 1 milhão a R$ 2 milhões com aportes na renda fixa ou na renda variável. Por isso, é fundamental que o investidor se sinta confortável e tenha confiança na sua escolha.

Louise Barsi, da AGF, explica que para alcançar os R$ 10 mil mensais desejados, o investidor precisa considerar uma taxa média de retorno possível para seus investimentos. No Tesouro Direto prefixado com prazo de pagamento para janeiro de 2029, a rentabilidade oferecida atualmente é de pouco mais de 12% ao ano.

Dessa maneira, seria necessário investir R$ 120 mil por ano. Para esse cálculo, basta inserir o valor desejado e dividi-lo pela taxa média estimada para o retorno. A conta fica dessa maneira:

  • R$ 120.000/0,12 = R$ 1.000.000.

Mas cuidado: A estimativa representa o valor nominal presente. Portanto, não considera a desvalorização do dinheiro pela inflação, o que é fundamental em qualquer investimento.

Uma outra forma de chegar lá é por meio do mercado de ações. Aqui, os valores anteriores podem ser empregados de forma similar. Neste exemplo, Barsi utiliza a média dos dividendos da BB Seguridade nos últimos cinco anos, que foi de R$ 2 ao ano por ação. Assim, basta contabilizar os mesmos R$ 120 mil da aposentadoria pela média dos proventos por ação.

  • R$ 120.000/R$ 2 por ação = 60 mil ações

Em tese, o investidor precisaria de 60 mil ações. Com o atual preço das ações em R$ 25, teria de investir R$ 1,5 milhão na Bolsa.

O analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, diz que é possível começar com aplicação mensal entre R$ 700 a R$ 800 e depois aumentar para R$ 1.000. Caso guardasse R$ 1.000 por mês durante 30 anos, o investidor poderia obter R$ 3 milhões ao final do período pelo Tesouro Prefixado.

De acordo com o especialista em wealth management na Vitreo, Matheus Fachini, os investidores com perfil agressivo podem atingir o objetivo em um período bem menor. Mas ele ressalta a necessidade de ter equilíbrio na hora de traçar as estratégias.

Não importa se a pessoa consegue guardar apenas uma pequena parcela da renda, como R$ 100 ou R$ 200. Guarde e reinvista todos os meses para ter o benefício dos juros compostos.

Louise Barsi, economista e CEO da plataforma Ações Garantem o Futuro (AGF)

Esse prazo pode ser maior ou menor de acordo com as fases da vida. No início de carreira, a contribuição é um pouco mais baixa. Mas o ideal é que ela vá aumentando ao longo dos anos.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos

É preciso encontrar o equilíbrio e personalizar prazos, riscos, idade, propensão para consumir e poupar. Além disso, precisa considerar compromissos e os planos, que são diferentes para cada investidor.

Matheus Fachini, especialista em wealth management na Vitreo

Os planos de previdência são boas opções?

Segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), a arrecadação da previdência privada aberta registrou aumento de 11,3% em 2021, passando de R$ 124 bilhões, um ano antes, para R$ 138 bilhões nos 12 meses encerrados em dezembro. Mas a previdência privada é uma alternativa interessante para os investidores?

Os entrevistados têm diferentes pontos de vista a respeito dos planos de previdência privados. Independentemente disso, o investidor precisa ficar ligado em algumas pegadinhas.

Tanto no PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), quanto o VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres), a cobrança do Imposto de Renda pode ser regressiva ou progressiva. A grande vantagem dos fundos é não ter o come-cotas (tributação semestral dos fundos de investimentos). Assim, o pagamento de IR acontece apenas no momento do resgate.

Os fundos de previdência são opções. Acho que dificilmente nós teremos algum investimento que será melhor do que esse quando o assunto é aposentadoria.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos

É preciso entender que a previdência privada não é somente um investimento. Seu objetivo principal é a aposentadoria e, para isso, tem benefícios em relação aos demais investimentos, como a tributação regressiva.

Francis Wagner, CEO do App Renda Fixa

Infelizmente, grande parte dos produtos de previdência tem rentabilidades ruins. Segundo a Anbima, R$ 1 trilhão estão aplicados em fundos desse tipo, e cerca de 80% estão em fundos de renda fixa simples, com rendimentos inferiores ao CDI.

Louise Barsi, economista e CEO da plataforma Ações Garantem o Futuro (AGF)

Como diversificar a carteira com o pensamento para o longo prazo?

Para ter uma carteira bem balanceada pensando em um período de 30 a 40 anos, os investidores podem explorar diferentes técnicas. Um método bastante citado pelos analistas é investir de acordo com o momento de vida.

Na prática, uma pessoa jovem pode se permitir a riscos maiores do que alguém com idade mais avançada. Entretanto, mesmo aqueles mais velhos podem —e devem— ter parte da carteira em ativos de renda variável. Aos poucos, o investidor pode equilibrar o portfólio ao longo dos anos para aproveitar as melhores oportunidades e objetivos.

De forma simples, a diretora da empresa de planejamento financeiro Guide Life, Loni Batist, explica que uma carteira conservadora pode ser dividida entre 30% para fundos em multimercados, 5% em ativos que remuneram pela inflação e 65% em títulos pós-fixados.

Na outra ponta, a carteira de um perfil mais agressivo é mais diversificada. De acordo com a especialista, sua alocação pode ser separada entre 10% para fundos imobiliários, 10% para renda variável no exterior, 30% em renda variável local, 35% em fundos multimercado, 7,5% para investimentos pagos pela inflação e outros 7,5% em opções pós-fixadas.

A questão é a conscientização de que quanto mais se pensa em longo prazo, mais se deve pensar em tomar risco para se beneficiar de uma diversificação maior e, por isso, buscar maiores retornos.

Loni Batist, diretora da Guide Life

O importante é ter uma carteira compatível com o perfil de risco do cliente. Diferentes combinações entre classes de ativos e produtos geram medidas de risco [com volatilidade] distintas.

Matheus Fachini, especialista em Wealth Management na Vitreo

Como investimento de longo prazo, faz sentido alocar parcela relevante em ativos reais para ter proteção contra a inflação. Quanto maior o risco suportado pelo investidor, maior a parcela em renda variável, de preferência em bons fundos de ações e ETFs.

Rodrigo Santin, CIO da Legend Wealth Management

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