Novo 'posto Ipiranga'?

Ex-subordinado de Guedes, Marinho avança como conselheiro de Bolsonaro

Carla Araújo Do UOL, em Brasília Isac Nóbrega/Divulgação
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou o governo com um time de alguns superministros. Um deles, Sergio Moro, carregava a bandeira do combate à corrupção e virou inimigo ao pedir demissão.

Outro, Paulo Guedes, chamado de posto Ipiranga, tinha carta branca para conduzir a política econômica do governo. Agora, amargando derrotas e constrangimentos, Guedes acompanha os altos e baixos do presidente. Ora recebe afagos. Em outros momentos vê agrados de Bolsonaro aos seus antagonistas.

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Novo superministro?

Saiu da equipe de Guedes justamente o ministro que tem atraído a atenção e ganhado protagonismo ao lado do presidente: Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

De fala mansa e apontado por todos na Esplanada como bom articulador, Marinho teve o apoio do ministro quando esteve à frente da Secretaria da Previdência. Com a aprovação da matéria, cacifou-se para ganhar novo status de conselheiro do presidente.

Auxiliares dizem que os dois tinham um excelente relacionamento enquanto Marinho era subordinado de Guedes. Mas a relação teria azedado após o ex-secretário virar ministro e acabar "traindo" a agenda reformista. O sentimento de Guedes pelo colega de Esplanada hoje é de "mágoa".

É ano de "gastar"

Ao defender a retomada de obras paradas, Marinho tem dito que sua pasta não está propondo gastar mais recursos da União e sim que são necessários recursos para concluir as obras, "mas nada que extrapole a legislação ou ultrapasse teto de gastos".

Ele tem batido na tecla de que 2020 é um ano de excepcionalidades fiscais por conta da pandemia do coronavírus. O discurso agrada o presidente.

Acenando pela paz

Porém, a tentativa de Marinho agora, além de manter a confiança e o espaço com o presidente, é arrefecer a crise explicitada pelo antagonismo com Guedes.

No último dia 16, para tentar minimizar o desgaste com o ministro da Economia, Marinho usou as redes sociais para afirmar que estavam criando narrativas para desestabilizar o governo.

Quem é contra o governo do presidente Jair Bolsonaro fica criando narrativas para gerar instabilidade. Reclamam quando há olhar para o Nordeste, reclamam quando não há. Preferimos responder com trabalho.
Rogério Marinho

Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Agenda eleitoral

Marinho tem sido o aliado frequente nas viagens de Bolsonaro pelo país, que investe nessa estratégia de olho na reeleição em 2022. Além disso, a pasta de Marinho é peça-chave para as eleições municipais, já que estão em sua alçada programas populares, como o Minha Casa, Minha Vida.

Nessa sexta-feira (21), Bolsonaro fará mais um tour pelo Nordeste, desta vez no Rio Grande do Norte, justamente reduto eleitoral do ministro do Desenvolvimento.

Marinho reúne apoio

Apesar de Guedes ter conseguido sinalizações públicas de Bolsonaro de apoio ao teto de gastos, o presidente também concorda com a agenda de retomada de obras de Marinho e do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O apoio também vem da ala militar do governo.

Na descrição de Tarcísio, que reforça ser a favor da manutenção do teto, Marinho é um "político habilidoso", "com capacidade de criar alternativas e construir pontes". Para o articulador político do governo, ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Marinho é alguém "determinado nos seus objetivos".

Nesses seis meses como ministro, Marinho não teve medo de divergir do posto Ipiranga do presidente e, por mais que tente minimizar as divergências, protagoniza uma verdadeira disputa por recursos públicos. Alguns desejos de Marinho batem de frente com a agenda liberal de Guedes.

No debate do Orçamento de 2021, que tem que ser fechado até 31 de agosto, por exemplo, sua pasta deve receber mais R$ 846 milhões no ano que vem em relação à proposta orçamentária oferecida anteriormente (de R$ 7,4 bilhões).

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O 'fura-teto'

Guedes já chegou a falar do risco de o presidente sofrer impeachment se ceder aos apelos gastadores da ala política e não respeitar o teto de gastos, por exemplo.

Na famosa reunião ministerial de 22 de abril, que foi tornada pública pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Guedes fez duras críticas ao plano Pro-Brasil, articulado pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto, em conjunto com Marinho e Tarcísio, que prevê a retomada de obras com recursos públicos.

Ele comparou o plano aos projetos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Guedes disse que o discurso de "acabar com as desigualdades regionais" é "bonito, mas isso é o que o Lula, o que a Dilma estão fazendo há 30 anos. Se a gente quiser acabar igual à Dilma, a gente segue esse caminho".

"Para querer ter um papel preponderante neste ano, o ministro não pode destruir a candidatura do presidente, que vai ser reeleito se nós seguirmos o plano das reformas estruturantes originais", afirmou Guedes.

Na época, Marinho reagiu e disse que não estava distante do ministro da Economia, mas admitiu pensar diferente.

Se existirem divergências, elas são de visões de Estado, ou algo parecido. Nada pessoal
Rogério Marinho sobre Paulo Guedes

Agora Marinho tem afirmado que há um "falso dilema" na discussão de romper o teto de gastos. "Furar teto quando se fala em R$ 3 [bilhões] ou R$ 5 bilhões, quando temos um déficit que está estimado em R$ 800 bilhões? Essa despesa vai ocorrer este ano de forma excepcional e, a partir de 1º de janeiro, nós voltamos à normalidade fiscal. Então me parece que algumas pessoas estão apostando contra o país", disse em entrevista.

Agência Brasil

Trajetória política

Marinho chegou ao governo do presidente Jair Bolsonaro como secretário especial da Previdência, colheu os louros com a aprovação da reforma e foi alçado ao posto de ministro de Desenvolvimento Regional em fevereiro de 2020.

Aos 57 anos, Marinho foi deputado federal por três mandatos, de 2007 a 2019, mas não conseguiu se reeleger, principalmente por ter sido a cara da "modernização trabalhista" feita no governo do presidente Michel Temer.

Se a agenda de reformas não tem apelo popular, Marinho conseguiu uma aproximação forte com o Centrão e também com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Com isso, ganhou a fama de bom articulador e mais espaço.

Marinho ingressou na vida partidária em 1993, na época filiado ao PSB. Após uma aliança fracassada do PSB com o PT da senadora Fátima Bezerra, migrou para o PSDB em 2009. Ele deixou o partido tucano neste ano e segue sem legenda até o momento.

Apesar de estar sem filiação, aliados do ministro reconhecem que ele pode se candidatar ao governo do Rio Grande do Norte.

Economista e professor, em seus três mandatos como deputado estadual, além da modernização trabalhista, Marinho foi o relator do projeto que mudou regras do FIES. No estado, atuou como: vereador; presidente da Câmara Municipal de Natal; secretário municipal de Planejamento e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico.

Patrimônio e processos

Nas eleições de 2018, Marinho teve apenas 59.961 votos (3,72%) e perdeu a cadeira em Brasília ao ficar em 12º lugar. Na ocasião, ele declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 983 mil.

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", em 2017, Marinho admitiu ter burlado a legislação do trabalho pelo menos uma vez em um negócio de fornecimento de coco verde nos anos 80. "Todo mundo no ramo teve que trabalhar com a informalidade", afirmou, destacando que a rigidez da "vaca sagrada de alguns", como se referiu à CLT, impôs que ele empreendesse na clandestinidade.

Também em 2017, quando relatava a reforma trabalhista na Câmara, o STF (Supremo Tribunal Federal) abriu uma investigação contra Marinho para apurar o envolvimento com uma empresa terceirizada acusada de coagir funcionários demitidos a renunciar às verbas rescisórias e a devolver a multa do FGTS.

Marinho nega envolvimento com a empresa acusada de fraude e disse na ocasião que seu "trabalho de relatoria da proposta do projeto de modernização das leis trabalhistas não guarda relação com interesses específicos defendidos por quaisquer empresas ou grupos empresariais".

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