Onde achar o próximo Magalu

Assim como aconteceu com o Magazine Luiza, ações hoje pequenas podem se transformar em gigantes

Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto

Entre as mais de 350 empresas com ações negociadas na Bolsa, as companhias menores, chamadas de small caps, atraem investidores pela possibilidade de ganhos extraordinários.

Afinal, não faltam exemplos de ações que, fora dos holofotes da mídia, dobraram de valor, ou até mais do que isso, num único ano, algo difícil de acontecer em papéis de empresas avaliadas na casa das centenas de bilhões de reais, como a Petrobras.

O sonho de qualquer investidor é descobrir o próximo Magazine Luiza, a varejista que já foi pequena e hoje vale mais do que o Banco do Brasil (BB).

Para entrar em small caps, é preciso, contudo, preparar o espírito para as oscilações bruscas do investimento e um olhar clínico, capaz de separar as ações cujo potencial de valorização está sendo ignorado pela maioria dos investidores daquelas que são pequenas porque simplesmente nunca chegarão a ser grandes.

Small caps não são bilhete premiado de loteria. É um nicho que oferece mais oportunidades e também mais riscos via de regra. O risco pode ser mitigado com conhecimento e quando se paga preços baixos pela ação. Mas há parte do risco que não dá para eliminar.
Rodrigo Weinberg, analista da Suno Research

Getty Images/iStockphoto
Getty Images

Liquidez é o grande risco

São classificadas como small caps as empresas da Bolsa avaliadas entre R$ 1 bilhão e R$ 10 bilhões. Esta não é, contudo, a única definição.

Comparadas aos grandes nomes da Bolsa, chamadas de blue chips, as small caps também são menos negociadas, o que faz delas um papel mais sensível às oscilações do mercado.

Se há poucos acionistas interessados em vender, paga-se um preço alto para entrar na ação. Se há pouca gente interessada em comprar, é preciso vender mais barato para sair do investimento.

Por isso, as small caps podem subir feito foguete nos momentos em que o mercado está mais comprador. Por outro lado, podem desabar em dias de alta tensão nos mercados, quando a força vendedora é mais forte.

Getty Images/iStockphoto

Há oportunidades, mas também riscos maiores

Em ciclos de bull market (mercado em tendência de alta), as small caps, não raro, ganham maior força num segundo estágio de valorização da Bolsa. É quando as blue chips já estão muito valorizadas, e os investidores, principalmente os estrangeiros, passam a procurar ações de segunda linha negociadas a preços descontados.

Só que quem está interessado em entrar em small caps deve estar ciente da maior oscilação nos preços das ações, o que significa um risco maior se comparado ao investimento em blue chips.

Além disso, a depender do volume a ser vendido, a porta de saída do investimento pode não ser tão rápida. Não é como vender, por exemplo, ações da Petrobras na Bolsa, onde o investidor pessoa física sempre encontrará interessados em suas posições.

Em razão da menor liquidez, os investidores costumam cobrar descontos para entrar em small caps. Sem sair do exemplo acima, é razoável investir numa companhia petroleira pequena apenas se ela estiver mais barata do que a Petrobras, dado o risco de o investidor encontrar maior dificuldade para deixar o investimento.

Geralmente as small caps são mais sensíveis ao crescimento. Mesmo num ciclo econômico normal, elas crescem mais do que as demais. Num bull market, a small cap vai subir mais, mas num bear market [mercado em baixa], ela vai cair bem mais também. Isso a gente já viu várias vezes no Brasil.

Roberto Attuch, CEO da casa de análises Ohmresearch

As small caps costumam cair mais rápido e subir mais rápido. Em geral, elas estão mais ligadas ao mercado doméstico, sendo mais sensível à economia local. Pela liquidez mais restrita, ficam mais sensíveis a grandes variações.

Stefano Spinelli, analista da RB Investimentos

Getty Images/iStockphoto/champja

Investidor mais conservador deve aplicar pouco

Aos riscos de volatilidade e liquidez, soma-se o fato de que as small caps recebem atenção menor da imprensa e de analistas. O investidor tem, em geral, menos informação dando respaldo a uma ordem de compra ou venda —sempre comparando com os grandes nomes da Bolsa.

A recomendação de analistas a investidores de perfil conservador é reservar às small caps um espaço menor da carteira de ações. A definição de conservadorismo se baseia não apenas na tolerância ao risco do investidor, mas também em sua familiaridade com o mercado e negócios das empresas avaliadas.

Nas carteiras de investidores mais arrojados, e que conhecem bem a dinâmica tanto do mercado quanto dos negócios onde colocam o dinheiro, as small caps podem chegar, no limite, à metade da carteira de ações. Tudo na busca de retornos superiores à média do mercado.

Getty Images/iStockphoto/ronstik

Comprar na baixa aumenta a segurança

A composição de uma carteira de investimentos envolve aspectos muito particulares como etapa de vida, colchão de liquidez e apetite a risco. De qualquer forma, observe que a recomendação dos analistas nunca é investir apenas em small caps, muito menos numa única ação desta categoria.

Aproveitar pechinchas que surgem em ciclos de baixa e períodos de estresse do mercado é uma boa forma de aumentar a margem de segurança do investimento.

O investidor também terá mais chance de fazer um bom negócio se conseguir dilatar o seu horizonte de investimento, podendo esperar o tempo que for necessário até a empresa alcançar o tamanho previsto no momento do investimento.

Claro, em qualquer situação, é preciso acompanhar de perto se as premissas que motivaram o investimento estão sendo confirmadas.

O investimento em small caps é uma categoria mais arriscada no universo do mercado à vista da renda variável. Vale a pena ficar atento para não extrapolar o apetite a risco do investidor.

João Pádua, diretor da Terra Investimentos

O investimento só deve acontecer quando o investidor entende realmente o risco ao qual está exposto dentro de uma empresa small cap. Acima de tudo, deve entender que a empresa pode simplesmente deixar de existir e o investidor perder o capital.

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos

Uma carteira bem balanceada vai ter blue chips e small caps, principalmente se o horizonte da pessoa for de longo prazo. Small caps não deveriam ser consideradas numa carteira de curto prazo, pois são ações pouco líquidas.

Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch

Getty Images/iStockphoto

Como escolher as small caps

Para cada exemplo como o do Magalu, cujas ações custavam centavos até meados de 2017 e nos últimos quatro meses vêm sendo negociadas acima de R$ 20, existe outro como o da OGX, que fez o caminho inverso: das dezenas de reais virou centavos em 2014.

Além de evitar uma exposição excessiva em small caps, cabe ao investidor ser criterioso na escolha das ações, observando os seguintes aspectos:

  • Liquidez: qual é o volume médio de negócios diários da companhia? Quanto menor a liquidez, maior será o risco de volatilidade e de o investidor não ter uma porta de saída rápida do investimento.
  • Governança: quem são os administradores da empresa? Algumas small caps podem ter gestão pouco experiente e trazer surpresas negativas.
  • Múltiplos: se o famoso múltiplo P/L, que mostra em quantas vezes o preço da ação (P) supera o lucro da empresa (L), estiver baixo, pode ser um sinal de que a small cap está barata. Os especialistas alertam, contudo, à possibilidade de preços distorcidos em razão da menor liquidez, o que dificulta a análise. Os múltiplos não devem ser, portanto, o único critério do investidor.
  • Setor: a empresa está inserida num setor com perspectiva de crescimento?
  • Potencial de crescimento: estudar os balanços financeiros é importante, mas não é o único sinalizador dos rumos do negócio. É preciso olhar também para informações que apontam a resultados futuros, como o programa de investimento da empresa e o comprometimento dela com dívidas e sua capacidade de pagamento.
  • Inovação: a empresa tem um modelo de negócio ou desenvolve tecnologias que prometem prosperar no futuro? Num mundo em rápida transformação, as empresas não sobrevivem sem inovar. As empresas disruptivas conseguem dar um salto em seus negócios, tornando-se gigantes em relativamente pouco tempo. Por outro lado, aquelas que estão atrasadas na corrida tecnológica correm o risco de ficarem com produtos ultrapassados.

Sugiro incluir small caps em uma carteira de ações de longo prazo quando há espaço para uma posição mais arriscada e o preço das ações da empresa está sendo negociado a um desconto relevante em relação aos fundamentos.

João Pádua, diretor da Terra Investimentos

Small caps são indicadas quando o investidor procura retornos acima do Ibovespa [índice de referência das ações mais negociadas], mas sabe que as small caps historicamente têm maior volatilidade.

Stefano Spinelli, analista da RB Investimentos

Às vezes, é melhor investir em fundos

Quando, por falta de conhecimento ou de tempo, o investidor não se sente capaz de garimpar boas small caps no mercado, e depois disso gerenciar a carteira, o investimento por meio de fundos é uma opção a ser avaliada.

Nos fundos, a seleção e o gerenciamento das ações são transferidos a um gestor. Por este trabalho, é cobrada uma taxa de administração que, no caso das small caps, gira em torno de 1,5% a 2% ao ano.

A tarefa do investidor aqui passa a ser encontrar fundos que entregam retornos consistentes a um risco compatível com o seu perfil.

Quem não gosta de analisar empresas, mas quer investir em small caps, deveria investir em algum fundo específico ou, então, ter acesso a recomendações de casas de research ou de bancos. De qualquer forma, é importante ter uma carteira diversificada. Comprar poucos papéis sem o mínimo de estudo pode ser muito arriscado.

Rodrigo Weinberg, analista da Suno Research

Se o investidor conhece a empresa, a volatilidade e o setor, pode entrar especificamente em uma ou mais ações que julgar pertinente. Se não acompanha e não entende o negócio, melhor ir para um fundo, no qual delega a gestão para quem está analisando diariamente as ações.

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos

Topo