Saiba mudar seu dinheiro

Se estiver insatisfeito com rendimento, a portabilidade permite levar seus investimentos para outro banco

João José Oliveira do UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto/MicroStockHub

Investidor com mais dinheiro demanda atendimento especial

Os tempos de taxa básica de juros em dois dígitos fizeram das aplicações em renda fixa uma opção fácil para todos. O investidor não corria risco e vivia contente com um ganho mensal acima de 1%, enquanto os bancos, sem esforço nem sofisticação na alocação de recursos, conseguiam agradar aos clientes. Para adoçar a satisfação do aplicador com mais de R$ 100 mil, por exemplo, bastava um cafezinho e uma agência "prime", sem filas para ser atendido.

Mas os tempos mudaram, a Selic derreteu para uma mínima histórica, e levou junto para perto de zero os rendimentos das aplicações em fundos DI. O ganho fácil acabou, e a necessidade de diversificar investimentos —para produtos de maior risco— entrou na agenda de muitos investidores. Nesse momento, a qualidade de um atendimento profissional do outro lado do balcão ganhou maior peso.

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Pedido de mudança de banco tem de ser atendido em 48h

A portabilidade permite que uma pessoa transfira seus investimentos de uma instituição financeira para outra. Simplificando, é como fazer a portabilidade de um número de telefone. Muda a empresa, mas o restante continua igual. Isso vale para qualquer investidor, independentemente de quanto tenha aplicado.

As regras da transferência de investimentos evoluíram. Hoje, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) exige que as instituições financeiras atendam os pedidos de portabilidade dentro de um prazo de 48 horas —e com a menor burocracia possível.

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Bom serviço faz a diferença

O aplicador passou a procurar uma oferta mais ampla e diversa de produtos de investimentos, assim como um atendimento qualificado e ágil.

A indústria brasileira de serviços financeiros no Brasil evoluiu, com o surgimento de dezenas de novas casas gestoras de recursos e de plataformas digitais de investimentos suportadas por pesados investimentos em tecnologia.

E, nesse ponto, milhares de clientes de grandes bancos começaram a migrar recursos que por décadas estavam aplicados.

Vejo esse movimento como uma busca por serviços. Os produtos de investimento podem até ser parecidos, mas o que diferencia mesmo uma instituição de outra é o serviço, o atendimento, a tecnologia.
Roberto Agi, planejador financeiro da Planejar

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Indústria de Investimentos

  • Gestores

    679

  • Total de fundos

    20,4 mil

  • Patrimônio líquido

    R$ 5,5 trilhões

  • Contas

    23 milhões

Como fazer a migração

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Para pedir a portabilidade, o primeiro passo é abrir conta na nova instituição financeira para onde você quer transferir seus recursos.

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O passo seguinte é informar o pedido de portabilidade para sua instituição financeira atual, de onde os investimentos sairão.

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Sua instituição atual deve providenciar um formulário, a ser preenchido com os dados dos investimentos que serão transferidos e as informações da nova instituição financeira.

Processo assusta, mas é simples

Apesar de ser um processo simples, a portabilidade ainda caminha de forma lenta no Brasil. Cerca de 90% dos R$ 4 trilhões em ativos aplicados pelos brasileiros nos mercados ainda estão sob a guarda dos cinco maiores grupos bancários do país. Sem falar que mais de dois terços desse bolo de recursos ainda estão aplicados em renda fixa, que mal bate a inflação, como caderneta de poupança, títulos do governo e fundos DI.

Consultores e gestores financeiros que atuam nos mercados dizem que parte da explicação para o ainda lento movimento da busca dos investidores brasileiros pela portabilidade se deve ao receio de ter que enfrentar burocracia ou perdas de suas aplicações na hora de levar os recursos de um lugar para outro —especialmente se o patrimônio a ser transferido for grande, de centenas de milhares de reais.

É um receio sem sentido porque o processo é algo simples atualmente.
William Teixeira, head de Renda Variável da Messem Investimentos

Um ponto que poderia acelerar o processo seria inverter o lado que começa a portabilidade, dizem profissionais de mercado. Pelas regras atuais, quem inicia o processo de portabilidade é a instituição financeira que está perdendo o cliente, e não a instituição financeira que vai receber o cliente.

Ainda tem coisa para evoluir, mas já evoluiu bastante. No começo, por exemplo, havia um formulário que tinha que ser preenchido, e algumas corretoras exigiam que esse documento ainda fosse assinado e tivesse firma reconhecida em cartório.

Marcelo Flora, sócio responsável pelo BTG Digital

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Como saber se a portabilidade é o melhor para você?

1. Pesquisar

O mercado oferece dezenas de plataformas de investimentos e corretoras. Veja qual se encaixa melhor no seu perfil.

Algumas têm foco em quantidade de investidores pessoas físicas, outras miram os aplicadores mais sofisticados, por exemplo. Algumas valorizam o autoatendimento do cliente, outras preferem ter maior número de consultores à disposição de quem gosta de ser levado pela mão.

É importante checar se o destino tem capacidade para atender às suas demandas. Uma forma de fazer isso é pesquisar como é feito o atendimento das pessoas já clientes lá.
William Machado, assessor de investimentos e sócio da Messem Investimentos

2. Olho no fundo de investimento

O produto de investimento mais utilizado pelos brasileiros pode ter uma pegadinha para quem vai fazer a portabilidade. Por isso, merece atenção especial.

É preciso checar se a plataforma que vai receber sua carteira tem o mesmo fundo de investimento no qual você está aplicado na instituição da qual você vai sair. Isso porque várias corretoras estão fazendo uma mudança que pode atrapalhar a portabilidade.

Funciona assim: existe o fundo original, disponível em várias plataformas, mas a corretora cria um "fundo espelho", uma carteira que reproduz exatamente os mesmos ativos do fundo original, mas tem outro CNPJ. A corretora aprova isso em assembleia de cotistas e transfere seus clientes para esse fundo espelho. A justificativa normalmente é dar mais flexibilidade ao aplicador para poder movimentar os recursos com mais facilidade.

O problema é que, muitas vezes, os cotistas não prestam atenção nessas convocações de assembleias, nem ficam sabendo que estão em um fundo espelho. Quem tem os recursos em um fundo espelho, na hora de pedir a portabilidade, não vai conseguir, porque aquele fundo só existe naquela corretora que criou esse fundo espelho.

Infelizmente, nesse caso, o cliente terá que sacar o dinheiro e aplicar tudo de novo.
Roberto Agi, planejador financeiro da Planejar

Segundo Agi, esse tipo de obstáculo acaba, às vezes, emperrando a portabilidade, porque o investidor não quer o trabalho e os custos de sacar tudo para reaplicar de novo.

3. Atenção à tributação

Para quem tem dinheiro em um fundo espelho, mas quer mesmo assim transferir os recursos para outra instituição financeira, uma dica é ficar atento à tributação e ao come-cotas.

A alíquota de imposto —que é sobre o rendimento— vai diminuindo com o tempo. Começa em 22,5% (para aplicações de até 180 dias), cai para 20% (para investimentos até 360 dias), depois a 17,5% (até 720 dias) e a 15% (após 720 dias).

O mesmo vale para o come-cotas, imposto sobre as cotas dos fundos, que tem a tributação duas vezes por ano.

No resgate do fundo, checar prazo. Se estiver perto de uma data em que vai cair a alíquota, vale esperar mais para pagar menos imposto.
William Machado, consultor financeiro e sócio da Messem Investimentos

Resumindo: dicas para a portabilidade

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No destino da portabilidade, abra a conta

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Prazos

Cobre os prazos determinados pela CVM

Cuidados importantes

  • Fundo espelho

    Se tiver aplicado em um fundo espelho, não vai conseguir a portabilidade

  • Impostos

    Se tiver que sacar para reaplicar, espere prazo para alíquota menor

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