UOL - Há previsão para voltarmos ao que era antes da pandemia?
Roberto Funari - Muitas pessoas falam do "novo normal" outras falam de novas possibilidades. Essa luz no fim do túnel já existe. É extremamente importante a digitalização, a educação financeira para o pequeno varejo.
Serão redefinidas as relações entre franqueador e franqueado, com marcas que tragam giro para os franqueados. Tudo será redesenhado para que possamos voltar em condições melhores. Irão existir aqueles que voltarão em condições melhores, e outros que não vão sobreviver. Essa reciclagem vai acontecer.
Como o senhor vê as reformas implantadas no país e o que ainda precisa ser feito para melhor o ambiente de negócios?
O plano de reformas é extremamente importante para o Brasil e temos de avançar. Este vai ser o grande avanço estrutural do Brasil no pacote de reformas.
As reformas administrativa e fiscal são fundamentais para abrir o potencial de país mais empreendedor. Irão trazer investimentos de fora. Há muito investimento parado lá fora olhando para um país com potencial muito grande.
É uma pauta importante para criar empresas competitivas e empresários que criam negócios e criam valor para a sociedade.
O Brasil que vivia de incentivos e subsídios tem que se transformar em um país mais competitivo e inserido nessa economia competitiva global.
Que pontos são fundamentais nessas reformas?
As reformas devem viabilizar pequenos, médios e grandes empresários a tomarem mais riscos, terem capacidade de investir e gerar emprego. Tudo que for associado a isso precisa ser avançado com rapidez.
As reformas têm que ajudar na simplificação. Empresas no Brasil gastam recursos desproporcionais para gerenciar regulamentação, aspectos jurídicos, e isso não vemos em outros países. São recursos, na minha opinião, mal alocados que você pode alocar produtivamente e gerar empregos.
As reformas devem avançar na área social para fazer com que a inclusão seja acompanhada pela evolução das empresas. Não vejo soluções milagrosas. O mais importante não é achar soluções perfeitas, é avançar.
Qual a sua opinião a respeito das privatizações e a questão do Estado mínimo?
É importante fazer privatizações dentro de um plano de país, não fazer aleatoriamente. Sobre o Estado mínimo, as questões de saúde, educação devem ser prioridade e o Estado tem um papel muito importante em saúde e educação, e esse protagonismo tem que existir por parte do Estado, das diferentes esferas e autoridades.
Agora, a iniciativa privada também tem que participar, assim como participamos. Acredito muito nessa combinação de esforços, com o Estado atuando de maneira ativa. É um modelo que funciona melhor e de uma maneira mais eficiente.
Como vai ser a questão no home office daqui para frente na Alpargatas?
No ano passado, colocamos todos os nossos escritórios globais e fábricas na "nuvem", usando plataformas de colaboração e todos os colaboradores com notebook.
Desta forma, a cultura que reforça conexão, trabalho colaborativo e ferramentas tecnológicas é equivalente ao teletrabalho. Apenas aceleramos essa metodologia e estendemos o teletrabalho até o final de dezembro.
Isso nos permitirá redesenhar os nossos escritórios para serem espaços mais colaborativos, mais criativos.
Que legado o senhor, como gestor, está levando dessa crise?
O legado que estou levando é a importância de ser solidário, de ter empatia, cuidar das pessoas e não somente do negócio. A importância de criar uma rede de relacionamentos, trabalhar com clareza.
Fizemos um trabalho de comunicação muito intenso com todos os colaboradores da Alpargatas e vou levar isso comigo. Esse contato próximo, comunicação, espírito de solidariedade, olhar para cuidar é o grande legado.