Vale-psicológico

Traumas da covid-19 aumentam busca de vale-auxílio psicológico em empresas, diz chefe da Alelo

Beth Matias Colaboração para o UOL, de São Paulo
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Cesário Nakamura, presidente da Alelo, empresa de cartões de benefícios, como vale-refeição e vale-combustível, diz em entrevista exclusiva na série UOL Líderes que os traumas da covid-19 aumentaram a busca de vale-auxílio psicológico durante a pandemia.

De acordo com o chefe da Alelo, houve crescimento de 120% na busca desse serviço. Para comparação, outros benefícios da mesma categoria, como auxílio-academia e home-office, cresceram cerca de 80%.

Ele defendeu a meritocracia como a melhor forma de reconhecimento profissional e disse que, apesar do alto índice de desemprego, os negócios da empresa não foram muito afetados.

Nakamura ganhou a categoria de "CEO Mais Incrível", do Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar em 2020.

Ouça a íntegra da entrevista com Cesário Nakamura, presidente da Alelo, no podcast UOL Líderes. Também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Busca por ajuda psicológica na pandemia

UOL - Quais produtos da Alelo mais cresceram durante a pandemia?

Cesário Nakamura - O que cresceu bastante foi um serviço relacionado ao auxílio psicológico. Há muita gente com questões relacionadas à pandemia, problemas familiares, de trabalho e perdas de vidas para a covid-19.

Felizmente, na empresa, não tivemos nenhum caso mais grave, mas alguns colaboradores perderam familiares. Isso afeta muito o psicológico.

Que tipo de produto é esse, o vale-auxílio psicológico?

Não é um produto do portfólio da Alelo, e sim uma oferta da nossa plataforma de multisserviços (serviços de valor agregado).

De acordo com o perfil e tamanho do nosso cliente, oferecemos um rol de serviços que a empresa contratante pode escolher sem custo e beneficiar os seus funcionários, disponibilizado por parceiros da Alelo.

Entre eles, está o auxílio psicológico que entregamos por meio de um importante parceiro com expertise nesse serviço.

E quanto cresceu esse tipo de serviço?

Tivemos um crescimento de 120%, enquanto a categoria de multisserviços como um todo cresceu 80%.

O que mudou no mercado de cartões de benefícios?

A primeira evolução foi o fim do benefício em papel e a introdução do cartão magnético e depois o cartão com chip. O que percebemos nos últimos anos é que houve uma grande adesão das pessoas à tecnologia, principalmente por meio de aplicativos de celular.

Se no passado, para poder saber o saldo do cartão, o colaborador precisava ligar para uma central telefônica, hoje ele tem isso na palma da mão. Às vezes, para não gastar dados do aplicativo, pode fazer a consulta por WhatsApp.

O cartão plástico ainda é maioritariamente a solução utilizada pelos nossos clientes porque ele é um meio de pagamento já muito fácil e conhecido.

A Alelo é assim

  • Fundação

    2003

  • Funcionários

    1.000

  • Clientes

    8 milhões

  • Empresas que aceitam cartão Alelo

    700 mil

  • Principais concorrentes

    Ticket e Sodexo

Senha anotada no próprio cartão

UOL - O Brasil hoje é um dos países que mais geram ciberataques às empresas de cartões. A segurança é um problema para a Alelo?

Cesário Nakamura - Se no passado havia problemas com a clonagem da tarja magnética dos cartões, com a tecnologia do chip praticamente não há mais fraudes com cartões.

Até onde eu sei, ninguém conseguiu quebrar a segurança do chip, a não ser que a pessoa dê o cartão com a senha, porque ainda tem gente que anota a senha no próprio cartão.

As fraudes com cartões migraram para o comércio eletrônico porque há todo o tipo de site, aqueles com segurança e os sem.

Nesse caso, a transação do chip, como é remota, tem algumas fragilidades porque só precisa do número do cartão, a data de validade, e muitos sites nem pedem o código de segurança.

No nosso setor, a experiência com pagamentos no e-commerce é mais recente e se acelerou no período da pandemia. Muitas empresas pediram para que o cartão pudesse ser aceito nas plataformas de delivery. Até então a demanda era muito baixa.

Foi preciso fortalecer o sistema de segurança por causa do delivery?

Tivemos que trabalhar com novas regras de fraudes considerando esse tipo de transação. Outra coisa importante é que os fraudadores buscam produtos de maior valor agregado.

Alimentação é perecível, não tem valor de revenda, por isso, acredito que não seja um segmento que atraia interesse de fraudadores.

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Com a evolução dos cartões de crédito nos últimos anos, havia claramente uma percepção que tanto o boleto como o dinheiro iriam acabar. Não é isso que vimos, todos são muito utilizados. O que vai decidir será a conveniência e a usabilidade.

Cesário Nakamura, presidente da Alelo

Pix x cartões

UOL - Com o Pix e os pagamentos por celular, qual será o futuro do dinheiro de plástico?

Cesário Nakamura - O Pix entra como uma forma adicional de conveniência para fazer transações de forma digital. Os cartões físicos ainda são o principal meio preferido pelos consumidores. Particularmente, no segmento de benefícios, o Pix não é um instrumento adequado porque o dinheiro depositado no cartão é para um propósito específico.

Nós oferecemos uma solução que, ao receber seu crédito, o trabalhador não pode simplesmente sair e converter em dinheiro, porque deixaria de ser um benefício e fazer o papel social de garantir uma alimentação saudável.

O papel-moeda deve acabar?

Com a evolução dos cartões de crédito nos últimos anos, havia claramente uma percepção que tanto o boleto como o dinheiro iriam acabar. Não é isso que vimos, todos são muito utilizados. O que vai decidir será a conveniência e a usabilidade.

Hoje se fala muito em "user experience", a experiência do consumidor. Ele vai decidir o que usar, de acordo com a sua conveniência.

Até a pandemia os cartões alimentação e refeição representavam 85% dos negócios da Alelo. Esse cenário mudou?

Ele continua, mas essa participação vem diminuindo ao longo dos anos porque estamos colocando novas linhas de produto. Essa dependência está hoje mais próxima de 80%.

Temos, por exemplo, produtos para gestão de frotas, para pagamento de incentivo, de despesas corporativas. Temos um negócio mais recente que são as "tags" de pedágio.

Meritocracia é melhor forma de reconhecer profissional

UOL - A Alelo costuma premiar funcionários que se destacam, mas alguns especialistas dizem que a meritocracia em um país tão desigual como o nosso acaba sendo injusta. Qual a sua opinião a respeito?

Cesário Nakamura - Na minha opinião, a meritocracia ainda é a forma mais adequada de poder reconhecer um profissional. O que fizemos de diferente foi colocar o processo às claras. O gestor fala da promoção na frente de todos os funcionários e da diretoria.

A pessoa realmente se sente reconhecida e é também uma oportunidade para o gestor falar em público sobre o porquê deste funcionário estar sendo reconhecido. Ele recebe um baldinho com um espumante, chocolate ou algo assim.

O crescimento do desemprego impactou os negócios da Alelo?

O aumento do desemprego, principalmente do setor formal, impacta diretamente o nosso negócio. O que percebemos é que as empresas estão fazendo o máximo para evitar demissões.

Mas agora no primeiro trimestre deste ano vocês perderam contratos?

O pior momento foi lá atrás, logo depois da decretação da pandemia. Eu diria até que nos surpreendeu. Apesar das medidas de isolamento social, os nossos negócios não foram impactados.

O que trouxe impacto foi o vale-transporte, um benefício que o colaborador recebe para ir de casa para o trabalho e do trabalho para a casa.

Nós não fornecemos, mas ajudamos a empresa a fazer a administração disso. Com o home office muito forte ainda, este produto não terá como se recuperar a curto prazo.

Acredito que as empresas que trabalham basicamente neste setor devem estar sentindo bastante.

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