Facebook x fake news

Contra coronavírus, prioridade do Facebook é remover notícia falsa, diz VP da empresa na A. Latina

João José Oliveira Do UOL, em São Paulo Marcelo Justo
Marcelo Justo

Maren Lau é a primeira mulher a assumir o comando do Facebook na América Latina. Nascida no Havaí, a executiva mora hoje no Brasil, onde fica a sede da companhia para o mercado latino-americano.

Em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, disse que um dos maiores desafios é a garantia da privacidade e da segurança das pessoas. Isso inclui o cuidado com a procedência e a veracidade das informações. O Facebook estava se preparando para mais um desafio nesse campo, com as eleições - o pleito municipal em outubro - quando estourou a crise do coronavírus.

Ela concedeu entrevista ao UOL duas vezes. Uma foi logo após o Carnaval, portanto, antes de estourar a crise do coronavírus; e outra, na última semana de março. Frisou que a prioridade é o combate a dados falsos.

Na conversa, ela faltou também sobre como o Facebook está apoiando nessa crise os pequenos negócios. A empresa está investindo US$ 100 milhões para ajudar 30 mil pequenos negócios em mais de 30 países.

Além disso, o Facebook fez uma pesquisa com micro e pequenos empreendedores na América Latina e no Brasil. A conclusão é que mais de dois terços dos usuários dependem das redes sociais para fazer negócios, desde a propaganda até a comercialização de produtos e serviços.

Respeito à privacidade e checagem de dados

O vídeo acima também está disponível no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler o texto.

Tirando conteúdo falso e teorias da conspiração

Como o coronavírus impacta a operação do Facebook?

Maren Lau - Nas últimas semanas, nossos times têm monitorado de perto a situação, e temos implementado uma série de medidas para garantir a segurança de nossos colaboradores, comunidade e parceiros de negócios.

Em 19 de março, implementamos home office para os funcionários do Facebook em todo o mundo. Aqueles que não podem desempenhar suas funções a partir de suas casas, incluindo colaboradores terceirizados, continuarão a receber seus salários.

Sabemos que serviços como Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger são ainda mais importantes em momentos como este, para que as pessoas possam manter contato com seus entes queridos e para que as marcas possam falar com seus clientes.

Estamos fazendo tudo que podemos para continuar a oferecer serviços que as pessoas e os negócios mais precisam agora. Nossos aplicativos estão ajudando a aproximar as comunidades, e temos visto um aumento importante no mundo todo na quantidade de transmissões ao vivo no Facebook e Instagram, e de chamadas de áudio e vídeo no WhatsApp e Messenger.

Quais ações estão sendo tomadas pelo Facebook para atuar nesse ambiente?

Temos adotado uma série de ações para apoiar o trabalho que organizações de saúde e governo estão fazendo para conter a disseminação do COVID-19, e gostaria de destacar duas áreas de foco para o Facebook.

Primeiro, estamos conectando as pessoas com informações precisas e recursos úteis sobre o coronavírus nas nossas plataformas. No Brasil, por exemplo, o Facebook e o Instagram estão mostrando um pop-up no topo de pesquisas no feed conectando as pessoas com o site do Ministério da Saúde sobre o coronavírus.

Também estamos trabalhando com agências de checagem de fatos e organizações de saúde para nos ajudar a identificar notícias falsas sobre o vírus, e estamos removendo conteúdos falsos ou teorias da conspiração que possam causar dano às pessoas que acreditarem nisso.

Segundo, estamos apoiando os pequenos negócios, que são vitais para nossas economias e centrais para nossa comunidade na América Latina. Para ajudar esses pequenos negócios a navegar em meio à crise causada pelo COVID-19, estamos investindo US$ 100 milhões para ajudar 30 mil pequenos negócios em mais de 30 países.

Também criamos o portal Central de recursos para empresas, com dicas e treinamentos em Português para ajudar os pequenos negócios a enfrentar seus desafios e a suportar seus clientes durante esse período.

UOL - O Facebook enfatizou que quer dar maior importância às interações privadas, certo? O que isso significa para os usuários diários do aplicativo?

É importante entender que se você pensa na família Facebook de aplicativos e serviços, temos o Facebook, o Instagram, o Messenger e o WhatsApp, todos fazem parte da família Facebook. E o que Mark Zuckerberg coloca como sua visão é a interação que vemos no Facebook como uma praça pública, mais de 2 bilhões de pessoas usando a plataforma diariamente, comunicando-se e interagindo, em um espectro que vai até as mensagens privadas. Vemos pessoas, consumidores usando ferramentas digitais para comunicações mais efêmeras como o stories do Instagram ou do Facebook, comunicações que podem desaparecer em 24 horas, e mensagens privadas como WhatsApp e Messenger. Eles querem falar em particular, não querem muita gente nessa conversa. Então, vemos todas essas tendências e nossa perspectiva é de que criamos ferramentas para envolver as pessoas, para criar comunidades, e isso pode ir desde as conexões mais amplas até as privadas.

Teremos no Brasil eleições municipais, este ano, e eleições gerais, em 2022. Em relação às regras do Facebook, como garantir neste processo a liberdade de expressão e ao mesmo tempo impedir as fake news?

Aprendemos muito desde 2016. Ainda há muito mais o que aprender, mas quero mostrar para você o que temos feito desde 2016, pois a integridade das eleições, a privacidade e a segurança das pessoas estão em primeiro lugar nas nossas preocupações. Desde 2016, nós contratamos mais de 30.000 pessoas para checar fatos e verificar conteúdo nocivo, publicamos de forma muito transparente os padrões de nossa comunidade, trabalhamos com mais de 55 organizações em 45 idiomas no mundo todo, para garantir a integridade de nosso conteúdo. Também tornamos mais fácil para o usuário denunciar conteúdo.

Então se você, como usuário, vir algo que não considere certo, que talvez acredite ser falso ou nocivo, você pode denunciar. Você pode denunciar e uma das organizações de verificação de fatos verá se é verdade, e eles podem marcar a publicação como potencialmente falsa ou enganosa. Trabalhamos de forma significativa nisso. Desde 2016 tivemos mais de 200 eleições no mundo todo, mais recentemente na América Latina, tivemos eleições na Argentina. Eles se saíram muito bem, e estou bem confiante de que continuarão a se sair bem.

O Facebook afirma ser uma responsabilidade corporativa a promoção de diversidade, inclusão, impacto social, sustentabilidade. Você acredita que o governo brasileiro hoje tenha esses mesmos princípios?

Eu acredito no Brasil como um país, da mesma forma que vejo os países com os quais trabalho em toda a América Latina, e é importante que seus leitores saibam que sou a primeira mulher em cargo de liderança do Facebook na América Latina. Sou a terceira pessoa em cargo de liderança do Facebook na América Latina, e a primeira mulher.

Acho que em parte é a firme crença em diversidade e inclusão que eu mesma trago comigo. Sempre há mais que possa ser feito, e há mais que possa ser feito dentro do Facebook também, para garantir que tenhamos representatividade de pessoas, de pontos de vista, em nossa própria empresa, nós nos esforçamos muito para isso.

O Facebook é assim

  • Fundação

    2004

  • Funcionários

    45 mil no mundo

  • Clientes

    136 milhões de usuários no Brasil 2,45 bilhões no mundo

  • Escritórios

    47 fora dos EUA

  • Lucro

    US$ 22,5 bilhões em 2019

Dois terços dos pequenos negócios dependem das redes, diz pesquisa

Pesquisa do Facebook com micro e pequenos empreendedores na América Latina e Brasil mostra que mais de dois terços desse público depende das redes sociais para fazer negócios, desde a propaganda até a comercialização de produtos e serviços.

A vice-presidente do Facebook para a América Latina conta os motivos que levaram a empresa a fazer esforços para descobrir os hábitos de comportamento desses novos empreendedores na região.

UOL - Por que o Facebook decidiu perguntar a opinião de empresas de pequeno e médio porte sobre a importância do Facebook, do Instagram e do WhatsApp para seus negócios?

Maren Lau - A missão do Facebook é dar poder a indivíduos para conectar o mundo e criar comunidades. Uma parte importante disso são os pequenos negócios. Então queríamos entender como estávamos impactando os pequenos negócios no Brasil, país muito importante para o Facebook.

Foi ótimo descobrir que hoje, no mundo inteiro, mais de 140 milhões de negócios usam nossas ferramentas e serviços gratuitos da família de apps e serviços do Facebook para expandir seus negócios. Dentro do Brasil, quase três quartos dos pequenos negócios dizem que nossas ferramentas e serviços gratuitos lhes permitem alcançar mais clientes, ter maior impacto econômico, aumentar sua presença, e estamos muito animados por podermos fazer parte disso.

Mas esses dados que se têm no Brasil são diferentes dos dados de outras partes do mundo?

O Brasil é um país de engajamento social muito forte, é um país muito importante para o Facebook em parte por causa disso. As ferramentas e serviços que oferecemos permitem às empresas um patamar de maior igualdade econômica. Deixe-me explicar. Cinco anos atrás, um pequeno negócio provavelmente precisaria investir em um website, um domínio, talvez serviços de design. Hoje, com nossas ferramentas e serviços gratuitos, os pequenos negócios podem se estruturar sem esses custos. É importante porque é muito significativo na vida de um indivíduo, sabemos como tempo e dinheiro são importantes, então esse é um impacto muito grande.

Tem um exemplo ótimo que adoraria compartilhar com vocês. No ano passado tive o privilégio de conhecer uma mulher chamada Jaci. A Jaci é do Rio de Janeiro e tem um filho pequeno chamado Matias. Um dia o Matias perguntou para ela, "Mãe, por que não tem nenhum boneco parecido comigo?" Matias é um menino negro que mora no Rio de Janeiro. E ela pensou, percebeu que era verdade e criou um boneco. Ela postou no Instagram. E por causa dessa criação e dessa postagem, a Jaci começou a criar bonecos, deixou seu emprego para virar empresária - muito bem-sucedida - e desde então passou a ter não somente uma presença na internet, como também abriu lojas físicas no Rio de Janeiro.

Ela vê o que ela faz e como o Facebook a ajudou a passar uma mensagem sobre a importância da cultura negra no Brasil. Ao mesmo tempo, além de seus valores, ela está criando prosperidade econômica para sua família e, através das lojas físicas, criando oportunidades para outros brasileiros. E esse é o poder da plataforma que conectamos a pequenos negócios no Brasil.

Então isso significa que, ao mesmo tempo em que foca no fortalecimento das interações privadas, o grupo também quer expandir sua relevância em outros segmentos para permitir que a empresa explore outras fontes de receita?

Nosso modelo de negócios hoje é baseado em anúncios. Não é assinatura. A receita baseada em anúncios nos permite oferecer essas ferramentas e serviços gratuitos que são tão importantes para as comunidades e as economias do mundo todo. O interessante a respeito do modelo baseado em anúncios é que ele permite que pequenos negócios tenham acesso à publicidade com campanhas a partir de R$ 1,00.

Pense nisso, pois dez anos atrás, se você tivesse um pequeno negócio, talvez precisasse gastar milhares de dólares ou reais em um anúncio na TV, ou impresso. E hoje você é capaz de investir desde R$ 1,00 ou qualquer que seja seu orçamento para alcançar o seu público-alvo de uma forma incrivelmente eficiente. Isso permite uma equidade econômica muito maior para esses negócios.

Marcelo Justo Marcelo Justo

Dentro do Brasil, quase três quartos dos pequenos negócios dizem que nossas ferramentas e serviços gratuitos lhes permitem alcançar mais clientes, ter maior impacto econômico, aumentar sua presença, e estamos muito animados por podermos fazer parte disso.

Maren Lau, vice-presidente do Facebook para a América Latina

Brasil é fundamental para Facebook

UOL - Qual a relevância do mercado brasileiro para o Facebook hoje em dia?

Maren Lau - O Brasil é muito importante para nós dentro do mundo. E é um privilégio liderar essa equipe na América Latina. O Brasil é a nossa sede aqui na América Latina - a maioria das pessoas não sabe disso. Além de nossa base de usuários, onde hoje temos mais de 130 milhões de brasileiros em nossas plataformas, nós investimos muito.

Temos uma incubadora de impacto social, talvez você tenha ouvido falar, chamada Estação Hack. É a primeira do tipo no mundo para o Facebook. Para você ter uma ideia da importância que damos ao Brasil, a Estação Hack ajuda empreendedores sociais com capacitação e ferramentas digitais e, mais importante de tudo, este ano anunciamos que estamos aqui para educar e formar mais de 50.000 jovens brasileiros em mais de vinte cidades do Brasil, com capacitação e ferramentas digitais.

É um compromisso muito grande, porque o Brasil é um país muito importante para nós.

Também estamos vivendo uma época de mudanças no Brasil, na forma como as pessoas fazem negócios, sem intermediação bancária para as transações. Até os próprios bancos entendem que haverá cada vez mais concorrência de outros setores, como empresas de tecnologia. Você concorda com isso?

É importante que seus leitores saibam que o Facebook não concorre com os bancos. Aliás, muitos bancos, serviços financeiros e fintechs usam o Facebook e nossas ferramentas para alcançar os clientes e promover seus negócios. Bem, mas por que o Facebook não concorre no setor de, digamos, pagamentos?

Não somos uma instituição financeira. Somos um intermediário, é importante que se saiba, em algum momento pode ser que trabalhemos com bancos ou instituições financeiras, mas nesse sentido não estamos de forma alguma concorrendo com bancos ou instituições financeiras.

É interessante porque boa parte do crescimento que vemos no varejo de empresas grandes e pequenas foi conseguido através do comércio eletrônico global.

Estou animada porque se formos capazes de fortalecer nossa estrutura de e-commerce, e isso tem a ver com tudo, desde serviços financeiros, inclusão financeira, capacidade de fazer pagamentos de uma forma mais eficiente, até a logística da entrega, etc., poderemos fazer o e-commerce crescer na América Latina e no Brasil. E eu penso que com isso todos saem ganhando. As pessoas e a economia ganham, e é isso que eu adoraria ver na região.

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