UOL - Qual a sua opinião a respeito da reforma trabalhista? Ela veio com uma proposta de aumentar o número de empregos, mas ainda vemos 11 milhões de desempregados e uma enorme informalidade.
Gustavo Werneck - Eu sempre olho a reforma trabalhista conectada à nova "lei da terceirização". Ela, na prática, mostrou-se muito importante e eficiente para nós.
Em 2018, antes da crise argentina, quando tivemos a necessidade de colocar uma usina que estava paralisada para operar, esses elementos que foram discutidos na terceirização e na lei trabalhista permitiram fazer a usina operar em uma velocidade nunca vista.
Ela criou um ambiente jurídico menos complexo do ponto de vista de como lidamos com isso. No dia a dia da Gerdau, pequenas coisas que vieram com essas reformas nos ajudaram muito. Vejo que essas outras reformas também vão trazer um nível de competitividade enorme para a indústria nacional.
Mas não houve uma precarização do trabalho?
[A lei] permitiu criar relações de trabalho que estão condizentes com essa grande transformação pela qual o mundo passa. Veja o nosso caso, uma empresa centenária, que sempre teve as suas formas de trabalhar.
Hoje praticamos home office de uma forma muito mais intensa do que já foi no passado. Entendemos que a meritocracia continua válida, somos uma empresa que tem importantes metas a cumprir, mas eu não posso me importar se a pessoa chega às 8h, às 9h ou às 10h no trabalho.
Imagine as mães que têm filhos pequenos, que precisam dedicar tempo aos filhos. Como eu crio condições para essas mães equilibrarem bem a vida pessoal com a profissional?
Esses elementos não precarizaram o trabalho, criaram condições de trazer pessoas que estavam fora do ambiente de trabalho para dentro das empresas.
Os nossos programas de diversidade e inclusão, que são muito importantes no sentido de trazer mais mulheres para o ambiente industrial, de trazer mais negros, os PCDs (Pessoas com Deficiências), LGBTs.
Acredito que até nesse sentido as leis trabalhistas mais modernas nos favorecem. Vimos na prática. Meu ponto de vista é que houve ganhos.
Quais são os principais gargalos do setor no país?
Eles são muitos, mas diria que a questão da infraestrutura e da logística definitivamente é um deles. O segundo é a questão tributária no Brasil. Ela realmente tira competitividade do jeito que está.
Para ter uma ideia, vamos comparar a operação no Brasil, que é bastante semelhante em termos de geração de caixa, com a nossa operação nos Estados Unidos. Aqui há 115 pessoas trabalhando na área de impostos, nos Estados Unidos, sete.
Veja como é complexo lidar com impostos no Brasil. Cada vez que colocamos um produto no porto para exportar, ele vai com um resíduo tributário de 7%.
No porto, dentro do navio, o nosso produto já vai com 7% menos de competitividade que um produto chinês, por exemplo. Então enquanto não se resolver essa questão da reforma tributária, enquanto não se investir em infraestrutura, teremos dificuldade em competir.
E como mudar esse cenário?
Sem dúvida tem que passar por uma simplificação, por um ambiente regulatório, legal, menos complexo. Confiamos que a reforma tributária será resolvida, mas precisa ser uma reforma que realmente resolva esses grandes problemas que foram sendo criados ao longo do tempo.
Qual a sua opinião sobre ICMS dos Estados?
É preciso haver uma simplificação, com um tempo, que não pode ser muito longo, para a readequação das finanças dos Estados a um ambiente de impostos mais simples.
Acreditamos também que, caso a transição demore muitos anos, haverá uma redução na competitividade da indústria ao longo do tempo. Enquanto isso, estamos trabalhando para criar mecanismos que permitam voltar a exportar no curto prazo.
O setor de aço no Brasil trabalha com utilização muito baixa, na ordem de 65% de toda a capacidade instalada. Calculamos que, se o governo fosse capaz de criar mecanismos de curto prazo para resolver esse problema do resíduo tributário, a capacidade da indústria de aço no Brasil poderia subir rapidamente de 65% para 72%, gerando riquezas, impostos e empregos.
Mas isso não resultaria em perda de arrecadação do governo?
O que defendemos há bastante tempo é que essa devolução do resíduo tributário para as empresas irá permitir que exportem mais e, no total da receita adicional, o governo vai ganhar também em termos de arrecadação.
É aquela famosa equação ganha-ganha: o governo arrecada mais, a indústria gera mais empregos, as empresas conseguem melhorar a sua competitividade.
Defendemos, e não só o setor do aço, mas outros setores exportadores do Brasil, que esse mecanismo ganha-ganha deveria ser implantado de imediato. Propomos que se faça um teste durante um período de 12 meses para ver se a arrecadação vai aumentar com o crescimento das exportações.
Se em algum momento, a indústria do aço já foi rica, ela não é mais. A indústria vem sofrendo muito nos últimos anos com uma sobrecapacidade criada pelo crescimento rápido de produção na China.
Para ter uma ideia, em 2019, o Brasil consumiu com seus veículos, prédios, construções, cerca de 25 milhões de toneladas de aço. A China consumiu 950 milhões.
A partir do momento em que a China ocupou esse espaço grande no mundo e sobrou capacidade de aço, as margens foram muito comprimidas.
A reforma da Previdência é suficiente?
Foi um primeiro passo. Assim como as empresas, que precisam ter alta adaptabilidade como diferencial competitivo, o governo vai precisar ter também. Acredito que nada é definitivo e cada vez mais se adaptar às mudanças é questão de sobrevivência para todas as partes.