UOL - O objetivo da Ânima, nas suas palavras, é transformar a educação pela qualidade, mas o grupo não tem nenhuma nota cinco no IGC (Índice Geral de Cursos), do MEC. O que o sr. acha dessa avaliação?
Marcelo Bueno - Há um conflito de interesses porque o MEC faz o ranking e, ao mesmo tempo, é o mantenedor das universidades federais, ou seja, é como se fosse o dono delas. Hoje nenhuma instituição privada consegue nota cinco, é muito difícil.
Nossas notas são quatro, e já é uma dificuldade enorme. Cabe reflexão sobre o sistema. Não acho que o IGC seja o único indicador de qualidade, existem outros.
Na Ânima, estamos tentando fazer o ROI (sigla, em inglês, para retorno sobre investimento) do estudante. Ou seja, por que ele paga a mais para ter a educação X do que para ter a educação Y? Nos Estados Unidos, se eu botei x, tenho que tirar 2x ou 3x lá na frente, tenho que sair empregado.
É uma alternativa para medir qualidade. Nossos resultados nos orgulham muito. A diferença entre o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) mede o delta entre como o aluno chega e como ele sai. Em tese, é o quanto ele aprendeu.
Nós recebemos um estudante oriundo, em grande maioria, do sistema público, com graves dificuldades em leitura, linguagem, raciocínio lógico e matemática.
Desde 2005, temos feito nivelamentos obrigatórios no currículo, para que ele possa acompanhar e se sair muito melhor. O delta desse aluno é muito diferente do de um aluno que estudou nas melhores escolas do Brasil e passou nas federais e na USP [Universidade de São Paulo]. Esse se formou só um pouquinho melhor, porque ele já é brilhante.
Tem havido expansão da educação a distância (EAD), e alguns conselhos profissionais, como de engenharia e enfermagem, são contrários. O que o sr. acha disso?
Nós acreditamos em uma educação híbrida porque nossa vida já é híbrida. Não temos mais uma vida em EAD ou uma vida fora. O quanto você está trabalhando presencialmente? Você já não sabe mais.
Então, a educação é híbrida. A discussão é: onde a tecnologia melhora a aprendizagem? Onde ela faz um estudante aprender melhor? Acho que essa é a discussão.
No varejo, aconteceu a questão do "omnichannel" [integração de canais] --você compra na loja, recebe em casa, compra online, recebe na loja-- não há mais diferença, é uma coisa só.
Infelizmente, por "n" questões --regulatórias, de distorção, mercadológicas etc--, hoje há diferenciação entre EAD e presencial, como se EAD fosse uma proposta de baixa qualidade, e presencial, de alta qualidade. Isso não é verdade.
No exterior, existem propostas de EAD mais caras que as presenciais. Temos estatísticas mostrando que a educação híbrida forma muito melhor que a presencial. Esse é o caminho, é a tendência. No Brasil, ainda estamos num momento de grande incerteza, e isso causa essas interpretações equivocadas.
O sr. vê esse modelo híbrido como o futuro da educação?
Sim, tenho certeza disso. Em alguns anos, não vamos estar discutindo quantos alunos temos em EAD. Vamos discutir o quanto a tecnologia tem melhorado a vida das pessoas, feito as crianças e os jovens estudarem.
Existem algoritmos e inteligência artificial --tecnologias de ponta-- que fazem uma personalização da educação, para que cada jovem tenha uma solução feita para ele. Essa é a tendência, e estamos nos preparando para esse momento.