UOL - Quais são os negócios que vão acelerar depois da pandemia? E quais deverão recuar ou desaparecer?
Liel Miranda - O grande impacto dessa mudança é o papel da casa. As pessoas estão vendo a casa com uma outra dimensão. A casa virou lugar de trabalho, escola, diversão, academia, absolutamente tudo o que antes não cabia, agora estamos fazendo dentro dela.
Acredito em oportunidades de negócios que se relacionam com essa ressignificação da casa devam surgir. Estou dando esta entrevista da minha casa. Não imaginaria fazer isso há alguns meses.
Na nossa indústria, por exemplo, acreditávamos que venda de produto de supermercado acontecia principalmente na loja. Agora a tendência é que as pessoas comprem online. Na China, por exemplo, o e-commerce já representa mais de 20% do nosso volume. Aqui no Brasil ainda estamos falando de menos de 5%.
Estamos mudando também a relação dos funcionários com os escritórios. Devem surgir muitas oportunidades de negócios para o home office. No nosso caso, sempre fomos muito adeptos de trabalho flexível. Tínhamos entre 15% e 20% das pessoas em trabalho flexível, mas agora está claro que podemos ter um número muito maior. Isso abre muitas oportunidades as para grandes empresas redesenharem a forma de trabalho e as instalações.
Quais os planos para 2021?
Liel Miranda - Mesmo que a economia se recupera em 2021, o cenário mais provável é que seja no segundo semestre. O que estamos fazendo é uma grande virada. Até março de 2020, os nossos planos eram para um país em crescimento, com queda de desemprego, com maior poder de compra do consumidor. A estratégia estava focada em inovação com valor agregado, com produtos mais premium, com diferenciação de produto. Esse era o foco para 2020 e 2021.
Desde a pandemia e com a possibilidade de uma recessão um pouco mais longa, adaptamos o nosso portfólio para uma situação em que o consumidor estará com o bolso mais apertado, comprando produtos com descontos, em embalagens maiores, ou produtos menores para tirar menos dinheiro do bolso.
A indústria parou a inovação? Colocou em segundo plano?
Sim, a indústria deu uma pausa. O objetivo foi garantir que as operações continuassem e, para isso, simplificamos as operações. Reduzimos o número de itens para garantir que aqueles que mais vendem não faltassem. Estamos aguardando ter mais clareza sobre o comportamento da economia para retomarmos os planos. A inovação para a indústria de alimentos sempre foi importante e sempre será importante, mas a prioridade é garantir o abastecimento daqueles itens que são os mais vendidos e principalmente atender ao consumidor.
O senhor trabalhou muito tempo na indústria do tabaco. Quais as diferenças e as semelhanças dos dois setores?
A indústria do tabaco é para adultos, é totalmente regulada e é basicamente uma indústria de reposição, vender o produto para o varejo, que vende para o consumidor. A Mondelez é a indústria das marcas.
São empresas internacionais, regidas pela legislação do país onde operam e dos países onde elas têm a matriz (no caso da Mondelez, os Estados Unidos). São empresas que operam de forma ética, responsável e legal.
O que o Brasil representa para a matriz hoje?
Estamos entre as cinco maiores operações da empresa no mundo. Quando falamos de chocolate, biscoitos, suco em pó, gomas e balas, o Brasil é um dos cinco maiores países do mundo em termos de consumo e venda desses produtos pelo tamanho da população.
Qual seria a sua sugestão para facilitar a gestão no Brasil?
Há várias iniciativas que precisam ser feitas, mas a mais importante é a infraestrutura. O Brasil tem uma infraestrutura que limita a produtividade das empresas. O nosso transporte é muito dependente da malha rodoviária, que é mais cara, mais longa e mais poluente, comparada a outros países.