UOL - O que mudou no comportamento do consumidor neste momento e o que vai ficar no pós-pandemia?
Gilles Coccoli - Vejo duas coisas: a primeira é em relação aos restaurantes. Com as empresas fechadas, vimos uma explosão de pedidos por meio das plataformas de delivery. Esse comportamento, na minha visão, vai continuar depois da quarentena.
As pesquisas que fizemos com usuários e colaboradores mostram que ficar em casa, da forma como foi feito, não é uma solução boa, mas não houve uma repulsa, por isso, acredito que haverá uma adoção maior.
A segunda parte é a digitalização. Todos os [negócios] que tinham plataformas digitais viram o consumo aumentar muito. A pergunta que o consumidor faz é: se consegui fazer sem precisar sair de casa, por que voltaria a fazer isso? Um exemplo é a questão da contabilidade das organizações. A documentação foi digitalizada e funcionou bem.
Fiquei em quarentena em casa desde meados de março. Assinei digitalmente muito mais documentos nesses meses do que em todo o ano de 2019. Isso veio para ficar e acho ótimo.
Como o grupo lidou com a questão da quarentena e da pandemia?
Somos uma empresa razoavelmente digital e muito inovadora. Tomamos uma decisão naquela sexta-feira de março e, na segunda-feira, 97% dos nossos colaboradores já estavam em casa organizados para trabalhar normalmente.
O movimento de saída da quarentena pode ser até um pouco mais trabalhoso do que o movimento de entrada. Foi um aprendizado ao longo do tempo, mas sempre adotando conceitos básicos de proximidade.
Chegamos a criar um canal no Instagram no Brasil para ter uma relação direta com todos os colaboradores e estreitar as relações nesse momento de distanciamento.
Que mudanças foram feitas e que vão continuar depois da quarentena?
Já devolvemos o prédio! Estou brincando. Sou fã de inovação, de otimização das ferramentas. Com mais gente adotando e sabendo usar, essas ferramentas farão parte da nossa vida no futuro, não há dúvida.
A questão é: como reinventar o laço social do trabalho? O Teams, o Office 365 são ferramentas que vieram para ficar, mas não será 100%. Teremos de construir esse meio termo e haverá ondas de experimentação em relação a isso.
Uma pesquisa da Ticket mostra que as mulheres estão mais satisfeitas do que os homens com o teletrabalho. Por que isso acontece?
Um teletrabalho, um home office equilibrado, aumenta a qualidade de vida das pessoas porque elimina a questão do traslado. Na minha percepção, as reuniões e as interações ficaram mais eficientes. A tomada de decisão, durante o confinamento, melhorou porque aumentamos o foco. Fomos mais efetivos e diretos e aumentamos em até quatro vezes a velocidade e a clareza na tomada de decisão.
É possível computar aumento de produtividade em alguma área da empresa durante esse período?
Na área de tecnologia da informação, é possível verificar um aumento de produtividade. A entrega de projetos ficou acima da nossa expectativa e antes dos prazos estabelecidos anteriormente. Sabemos que, muitas vezes, projetos de TI tendem a ultrapassar o tempo. Neste período foi o contrário.
Percebemos que, em todas as áreas que exigem trabalho de concentração, em um ambiente certo de home office, o resultado é muito bom.
Em áreas que exigem criatividade e coparticipação, acredito que o home office não funciona muito bem. Discussões com pessoas em cantos diferentes da cidade é um pouco mais difícil. Precisamos tomar cuidado porque as consequências podem ser vistas apenas a médio e longo prazo.
A pandemia está decretando o final dos cartões de plástico?
A pandemia tem um impacto nisso. Não sei se é o fim, mas talvez seja o início do fim. Tenho todos os meus cartões no meu celular, mas ainda sou uma minoria.