Inflação em casa foi maior do que a oficial?

Entenda por que o índice é bem diferente da variação de preços que você paga

Achou estranho o arroz disparar mais de 70% no ano passado, enquanto o IPCA, a inflação oficial, fechou em "apenas" 4,52%?

Você tem a impressão de que a alta dos preços foi muito maior do que a registrada na inflação?

A inflação é uma média da variação de preços de centenas de produtos e serviços em um período. Um item pode subir muito, mas outros nem tanto, e há ainda os que caem.

Isso é normal

- Arroz: +76,01%
- Cerveja: +1,94%
- Ônibus: +1,32% 
- Cabeleireiro: -0,92%
- Passagem Aérea: -17,15% 

Veja esses 5 itens e quanto variaram em 2020, segundo o IPCA, inflação oficial medida pelo IBGE: 

Exemplo

Bem menor do que aqueles 76,01% só do arroz, não é?

Se fizermos uma média simples, somando as variações e dividindo por cinco (o número de itens), a "inflação" deles seria de 12,2%.

Nem tudo é tão simples! O cálculo de inflação usa a média ponderada. Ela leva em conta também a importância de cada item nas compras das famílias. Ou seja, cada item tem um peso diferente no cálculo.

Mas, calma lá

Por exemplo: o arroz é mais importante do que a cerveja, o ônibus é mais importante do que a passagem aérea. 

A ponderação é importante porque ela considera qual item é mais comum, mais consumido e, portanto, que tem maior chance de pesar no bolso do brasileiro médio.

“Se a chupeta subisse 100%, não seria justo fazer uma média simples, porque quantas famílias compram chupeta? Quanto é o valor da chupeta frente à renda toda da família?”

André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas

Confira o peso de cada um, segundo o IPCA:

Vamos voltar ao nosso exemplo

- Ônibus: 1,3313 
- Cabeleireiro: 1,0399
- Arroz: 0,7806
- Passagem Aérea: 0,436 
- Cerveja: 0,4

A média ponderada dos cinco itens fica em 13,4%, um pouco acima dos 12,2% da média simples, mas ainda bem menor que a alta do arroz.

Do pepino ao dentista. Do streaming ao conserto de bicicleta. Do correio ao papel toalha.

E esses são apenas alguns poucos itens. O cálculo da inflação usa centenas de produtos e serviços. 

Quem dera! Além disso, há diversos índices de inflação, feitos por diferentes instituições, como FGV e Fipe, além do IBGE que, como dissemos, mede a oficial.

Ok. É só isso?

Alguns também medem a inflação de grupos específicos. Isso porque as compras de cada família variam de acordo com seu perfil e faixa de renda, além da região.

Eles usam metodologias diferentes, com variações nos produtos pesquisados e peso dado a cada um.

Famílias com mais crianças têm gastos escolares maiores. As com idosos gastam mais nos remédios e no plano de saúde.

Famílias mais pobres gastam uma fatia maior de sua renda, proporcionalmente, com alimentos, por exemplo.

A FGV, por exemplo, tem índices para famílias mais pobres (IPC-C1) e com mais idosos (IPC-3i), além do geral (IPC).

Por isso certos produtos podem ter mais ou menos peso em cada índice, dependendo do perfil que se quer medir.

Em 2020, a inflação dos mais pobres teve alta de 6,3% e a de famílias com mais idosos, de 5,69%. Ambas acima da geral, que foi de 5,17%, de acordo com a FGV.

Clique abaixo e veja outros detalhes sobre a inflação:

Ainda tem dúvidas?

Fonte: André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas, e IBGE.

Texto: Ricardo Marchesan

Publicado em 29 de janeiro de 2021.