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REPORTAGEM

Como grua em obras de arranha-céus pode atrapalhar pilotos de helicópteros

Arranha-céus na zona leste de São Paulo interferem na rota de helicópteros rumo ao Campo de Marte - Reprodução/Instagram
Arranha-céus na zona leste de São Paulo interferem na rota de helicópteros rumo ao Campo de Marte Imagem: Reprodução/Instagram

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/10/2021 04h00

A cidade de São Paulo está abrigando a construção de arranha-céus residenciais que devem ser inaugurados nos próximos anos. Essas obras, porém, vêm causando um alerta extra para evitar acidentes aéreos envolvendo helicópteros.

Com guindastes e gruas ultrapassando os 150 metros de altura, os pilotos que precisam voar nas regiões onde esses prédios estão sendo erguidos devem redobrar a atenção. Embora os helicópteros tenham de voar em corredores especiais, que são como "ruas aéreas", ocasionalmente podem ter de sair dessas rotas, momentos em que estão expostos a um perigo maior.

Isso se deve ao fato de que nem sempre esses obstáculos estão devidamente sinalizados, ou a visibilidade dos pilotos pode estar reduzida, como em um dia de intensa neblina.

Cuidado na zona leste

No bairro do Tatuapé, na zona leste da capital paulista, são erguidas obras dos maiores prédios residenciais da cidade. Um deles terá 50 andares e cerca de 172 metros quando inaugurado, em 2022.

Embora os corredores não fiquem no caminho desses prédios, um piloto pode ter de se deslocar sa rota para fazer uma operação especial, como um pouso em um heliponto próximo ou uma gravação. Também pode ser um helicóptero da polícia durante uma operação.

É fundamental que os obstáculos estejam visíveis para garantir que não haverá nenhum risco para o voo, diz Thales Pereira, presidente da Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero). "Se precisar sair da rota, o piloto terá de manter o contato visual com o entorno e ainda garantir uma altitude de voo mínima para a segurança", diz o comandante.

É uma regra conhecida como "ver para evitar", diz Pereira. "Os obstáculos, como prédios, guindastes e gruas, devem estar sinalizados adequadamente. Caso não estejam, os pilotos devem comunicar as autoridades aeronáuticas para que o local receba a iluminação e sinalização adequadas", diz.

A Abraphe recebeu entre 2019 e 2020 várias denúncias de que obstáculos na região não estariam devidamente iluminados e sinalizados. As reclamações, conforme recebidas, são encaminhadas para os órgãos competentes.

Ainda assim, o comandante frisa que esse risco é pontual, já que os helicópteros devem, em geral, seguir rotas longe dessas obras.

Flagra em vídeo

Em setembro de 2020, o piloto de helicóptero Hamilton Alves da Rocha, conhecido como comandante Hamilton, gravou um vídeo na região mostrando os riscos que um guindaste mal sinalizado representava para a navegação aérea. Veja:

No mês seguinte, Hamilton postou um vídeo com sua volta ao local e mostrou como os equipamentos foram sinalizados para alertar quem estivesse voando por perto:

Aviões não correm riscos

Como os aviões devem seguir estritamente as rotas definidas em corredores, as tais "ruas aéreas", não são impactados como os helicópteros.

"Não há notícias de que gruas de obras interfiram na navegação dos aviões. Nesses corredores, eles devem estar em altitudes superiores às gruas", diz Fernando Barros, diretor e instrutor de voo do Aeroclube de São Paulo.

Diferentemente dos helicópteros, que têm uma liberdade maior para voar, de certa forma, os aviões não precisam estar em altitudes mais baixas. E, em São Paulo, esses corredores são rotas obrigatórias, ou seja, não há interferência nem riscos para a operação.

Arena do Corinthians e boate causaram polêmica

guindaste - Folhapress - Folhapress
Guindaste durante a construção do estádio do Itaquerão, em São Paulo
Imagem: Folhapress

Em 2012, a construção da Arena Corinthians, hoje conhecida como Neo Química Arena, atrapalhou a rota de helicópteros na região. Um guindaste de 114 metros de altura interferia diretamente na navegação nas proximidades, já que sua altura estaria acima do limite permitido.

Em 2007, o hotel Bahamas foi fechado diversas vezes por, supostamente, descumprir regras relativas à segurança aérea. Na primeira vez, o local, que fica a cerca de 600 metros da pista do aeroporto de Congonhas, foi interditado sob acusação de que era um obstáculo indevido para o tráfego dos aviões.

Após idas e vindas, o local foi reaberto e fechado outras vezes. Seu dono, o empresário Oscar Maroni Filho, sempre disse que o local estava em condições regulares de construção. A boate hoje segue em funcionamento.