Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Todos a Bordo

REPORTAGEM

Azul quer comprar a Latam: É possível? Como seria a suposta nova empresa?

Azul quer adquirir a operação de todo o grupo Latam - Montagem/Wikimedia Commons
Azul quer adquirir a operação de todo o grupo Latam Imagem: Montagem/Wikimedia Commons

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/11/2021 04h00Atualizada em 06/11/2021 22h09

No começo da semana passada, o CEO da Azul, John Rodgerson, anunciou novamente que quer comprar a Latam. Desta vez, porém, não falou de adquirir apenas a operação da companhia no Brasil, mas de todo o grupo sul-americano, que é sediado no Chile.

Essa postura agressiva de tentar adquirir uma empresa maior em um momento de fraqueza dela desperta a atenção de observadores do mercado e levanta dúvidas sobre a possibilidade de o negócio ser concretizado. E não é a primeira vez que essa vontade é manifestada, sendo pública desde o começo deste ano.

Embora esteja passando por um processo de reestruturação nos Estados Unidos (Chapter 11, similar à recuperação judicial no Brasil) por problemas enfrentados desde antes da pandemia, a Latam espera terminar 2021 com a operação no Brasil quase no mesmo nível de 2019.

Junto a isso, Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, criticou o assédio feito pela Azul dizendo que a empresa não está à venda e que a rival defende um monopólio. Mas, se o plano da Azul avançar, como seria essa nova empresa?

Maior multinacional aérea da América Latina

Latam - Divulgação - Divulgação
Avião Airbus A320-200 da Latam
Imagem: Divulgação

Para conseguir comprar a Latam, a Azul teria de dialogar com os credores da companhia nos Estados Unidos. Em seguida, teria de ter autorização de órgãos reguladores de diversos países, incluindo o Brasil.

Passando por isso, a nova empresa se tornaria a maior multinacional de aviação da América Latina, com mais de 480 aviões. A Latam possuía em 2019 cerca de 325 aeronaves em sua frota (172 apenas na operação brasileira naquele ano), e a Azul, em 2020, tinha 157 aviões.

Mesmo com as oscilações causadas pela pandemia, se somados, todos os aviões formariam a maior frota da América Latina. Também seriam a maior empresa aérea em número de funcionários, somando-se os cerca de 28 mil trabalhadores da Latam com os 11 mil da Azul, totalizando, aproximadamente, 40 mil funcionários espalhados por, pelo menos, seis países em toda América.

As rotas somadas ultrapassariam os 270 destinos, sendo 141 apenas do grupo Latam. A Azul, mesmo com a pandemia, inaugurou voos inéditos que não operava antes do surto de Covid-19.

No Brasil

Azul - Divulgação - Divulgação
Azul quer adquirir a operação da Latam não apenas no Brasil, mas em todo o continente
Imagem: Divulgação

Em número de voos apenas dentro do Brasil, a Azul foi a maior empresa em 2020, com 36% do mercado, seguida por Gol, com uma fatia de 30%, e pela Latam, com 26% dos voos realizados em 2020.

Entretanto, no total de passageiros pagos transportados, as duas empresas caem de posição, perdendo espaço para a Gol, que ficou com 35,9% do mercado (16,219 milhões de passageiros transportados). Latam e Azul abocanharam uma fatia de 32,1% e 31,1% desse segmento, respectivamente.

Em comparação, o grupo Avianca, que tem forte operação na Colômbia, possuía 146 aviões em sua frota em 2020, e também passa por um processo de reestruturação decorrente do Chapter 11 nos Estados Unidos. Ao todo, o grupo transportou cerca de 8 milhões de passageiros em 2020, frente a 28,3 milhões do grupo Latam (14,5 milhões apenas nas operações domésticas no Brasil) e 14 milhões da Azul no mesmo período.

É viável?

Para Marcos José Barbieri Ferreira, economista e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, SP) e especialista no setor aeronáutico, a aquisição não é impossível de ocorrer, mas ainda está apenas no campo da especulação. Com a operação, a Azul passaria a ser uma empresa de dimensão continental operada a partir do Brasil, diferentemente da Latam, que, hoje, é sediada no Chile.

"Não é algo improvável, que seja impossível de se concretizar. Mas não pode ser dado como certo. Seria mais vantajoso para a Azul, que passaria a ser a maior companhia aérea da América do Sul e se tornaria uma das maiores do mundo"
Marcos Barbieri, professor da Unicamp

Barbieri ainda destaca que, se a eventual falência surgir no horizonte da Latam, os credores da empresa irão preferir, com certeza, a venda para outra companhia, como a Azul.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, também acredita na possibilidade dessa compra, mas que esse é um processo lento. "De forma bem geral, é uma decisão bem complexa, que está nas mãos dos credores. Não dá para cravar ainda, pois pode levar muito tempo, anos, até. Sobre a possível aquisição da operação doméstica eu vejo ser possível, sim, a compra da Latam, mas, observando de longe, esses processos do Chapter 11 em Nova York costumam ser longos e esse não me parece que será diferente", diz o analista.

"Fica o questionamento quanto ao fôlego da Latam, que tem o foco nas viagens internacionais, que foram as que mais sofreram na pandemia. Qual é o potencial dela de aguentar? Por quanto tempo mais ela suporta o baque que sofreu?"
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos

Concorrência afetada?

Cade - Reprodução - Reprodução
Cade poderá ter de analisar a possível compra da Latam pela Azul
Imagem: Reprodução

A compra da empresa também teria de passar pelo crivo de diversos órgãos que regulam a concorrência, como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no Brasil. Entretanto, para Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, isso seria pontual, já que ambas as empresas possuem rotas e modelos de negócios variados, praticamente não havendo sobreposição de rotas para dificultar a concorrência com outras companhias.

Para Barbieri, a tendência é, realmente, a concentração do mercado, com menos empresas existindo, sobrevivendo apenas algumas.

"Haverá uma tendência de concentração de mercado, que já vem ocorrendo com a pandemia. As mais fortes estão sobrevivendo e ficando maiores. Se essa operação de compra ocorrer, ela irá no mesmo rumo da tendência mundial"
Marcos Barbieri, professor da Unicamp

Sobre a diminuição no número de empresas existentes e o risco para a concorrência, o professor afirma que isso não é um problema. "A competição não se dá necessariamente pela quantidade de empresas no mercado, já que essa economia pode ser um oligopólio, com poucas companhias dominando um setor. E, na aviação, apesar de ser um mercado dinâmico, não é possível existir muitas empresas ao mesmo tempo devido aos altos custos envolvidos", diz Barbieri.

Prazos

A Latam tem até o dia 26 de novembro para apresentar seu plano de recuperação judicial aos seus credores, data definida após sucessivos adiamentos. A decisão sobre uma venda está concentrada na mão dos credores e das empresas que fazem o leasing (espécie de aluguel) dos aviões, para as quais a empresa também deve dinheiro.

A Azul deve esperar a divulgação do plano de recuperação da companhia para fazer a sua proposta. Enquanto isso, com as declarações de compra, a empresa pode tornar o trabalho de elaboração de recuperação da Latam mais difícil. Isso ocorre porque a Latam fica obrigada a apresentar uma proposta mais atrativa para os credores do que a venda para a Azul.

Enquanto se esperam os próximos passos das empresas, internautas já começam a brincar com a possível compra:

Latazul - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Latazul: piada sobre a compra da Latam pela Azul circula nas redes sociais de tripulantes e amantes da aviação
Imagem: Reprodução/Redes Sociais