A FAB (Força Aérea Brasileira) bateu o martelo na semana passada sobre a compra de dois novos aviões que serão convertidos em modelos multimissão. Uma das tarefas será reabastecer outros aviões durante o voo. A licitação promovida pela Aeronáutica foi vencida pela companhia aérea brasileira Azul, que irá fornecer dois Airbus A330-200 para serem transformados na versão militar ao preço de US$ 80,581 milhões (R$ 378 milhões).
Batizada de MRTT, da sigla em inglês Multirole Tanker Transport (avião multimissão de transporte e reabastecimento em voo, em tradução livre), essa adaptação permite ao A330 cumprir diversas funções militares restritas a poucos modelos mundo afora.
Uma das exigências da FAB para os A330 é que sua data de fabricação seja posterior a 1º de janeiro de 2014, além da capacidade de serem convertidas para o modelo militar em si. Eles deverão ser utilizados até 2054, com uma média de 1.200 horas de voo ao ano até lá.
Como o avião não será novo, é exigido que ele tenha realizado até 4.200 ciclos (que consiste em uma decolagem e um pouso cada) e não tenha ultrapassado as 28 mil horas de voo.
A conversão
A posterior conversão dos A330 deverá ser feita na fábrica da Airbus em Getafe (Espanha). Embora os termos ainda não sejam públicos, ali deverão ser instalados os sistemas de reabastecimento em voo, que permitirão a outros aviões continuarem voando sem precisar pousar.
O interior também receberá os sistemas para esse mecanismo de reabastecimento e tanques extras para levar combustível.
O interior ainda poderá ser adaptado para o transporte de passageiros e tropas, junto a outros sistemas para o transporte de cargas.
No processo de conversão, o avião é desmontado e são instalados novos sistemas elétricos, reforços e outros mecanismos, de acordo com o acordo realizado entre as partes.
Ficha técnica
Altura: 17,4 metros
Comprimento: 58,8 metros
Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 60,3 metros
Autonomia de voo: Até cerca de 14 mil km de distância
Altitude máxima de voo: 12,5 km
Capacidade de carga: Até 45 toneladas
Capacidade de reabastecimento: Até 1.800 kg/min
Unidades em operação: 51, em 13 países
Distância máxima voada com carga total: 8.334 km
Distância máxima voada com o máximo de combustível: 14,8 km
Capacidade de transporte: 291 passageiros
Velocidade: 880 km/h
Histórico
A FAB justifica a necessidade de adquirir esses aviões em decorrência da carência de aeronaves para atuar com transporte aéreo logístico, reabastecimento em voo e evacuação aeromédica. O país contava com os KC-137, aviões Boeing 707 adquiridos a partir de 1985 e que foram operados até 2013.
O governo tentou a substituição dos KC-137 por meio do projeto KC-X2, mas ele não avançou. Com o KC-X2 interrompido, a FAB alugou entre 2016 e 2019 um Boeing 767-300 para suprir algumas das necessidades do país durante o período.
Apenas agora em 2022 a FAB concretiza o processo de licitação para a compra de seu avião multimissão de longo alcance.
Rivalidade com o KC-390?
Desde o fim da utilização do 767, o principal avião de multimissão da Aeronáutica é o KC-390, da brasileira Embraer. Ele cumpre, praticamente as mesmas funções que o modelo da francesa Airbus (A330 MRTT), mas em escala menor.
Em novembro de 2021, a Aeronáutica anunciou que iria diminuir para 15 o total de unidades do cargueiro encomendadas, frente a um pedido inicial de 28 modelos, abrindo uma crise sem precedentes com a Embraer.
Após meses de discussões entre a fabricante e a FAB, um novo acordo firmou em um total de 22 unidades do cargueiro a serem entregues até 2034. Um dos principais motivos seria a falta de verba para a continuidade do programa.
Chegou a ser especulado que a compra dos A330 seria uma retaliação contra a Embraer, entretanto, embora ambos os aviões cumpram funções similares, suas capacidades são diferentes.
O A330 MRTT pode fazer voos transcontinentais sem escalas, chegando a 14 mil km de autonomia, enquanto o KC-390 consegue voar a até cerca de 6.000 km.
O KC-390 também se torna mais versátil para missões de busca e salvamento, tendo em vista que seu custo operacional é diferente do registrado pelo A330.
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