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REPORTAGEM

Por que alguns aviões evitam voo sobre regiões montanhosas, como o Everest?

Cordilheira do Himalaia: Aviões não costumam voar na região do monte Everest - Shutterstock
Cordilheira do Himalaia: Aviões não costumam voar na região do monte Everest Imagem: Shutterstock

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/08/2022 04h00

Destino de muitos aventureiros, o monte Everest é um dos locais de mais difícil acesso do mundo. Localizado na cordilheira do Himalaia, na divisa entre o Nepal e o Tibete, a região não costuma receber muitos voos.

Isso não é uma regra fixa, mas muitos operadores evitam voar sobre a região devido a riscos de incidentes e a dificuldade de encontrar algum local para pouso em caso de emergência.

Aviões de grande porte conseguem manobrar e voar por maiores distâncias em algumas emergências, conseguindo sair da região com mais facilidade. Junto a isso, as companhias aéreas disponibilizam rotas de escape que são estudadas de acordo com cada avião para cada voo.

Entretanto, aviões menores nem sempre contam com essa mesma facilidade, e não é em todas as vezes que estarão próximos de aeroportos naquela região para onde possam desviar em situações nas quais necessitem pousar o quanto antes.

Como na aviação executiva não se costuma seguir um mesmo itinerário com frequência, dependeria de a tripulação definir a cada voo qual a melhor rota de escape a seguir. Isso requer conhecimento da área, da geografia do local e dos aeroportos de alternativa, o que nem sempre é simples de ser definido pela tripulação.

Mesmo contando com alternativas emergenciais como na aviação comercial, a operação com aviões menores costuma ser mais suscetível às fortes turbulências como as que costumam ocorrer na região. Com isso, a experiência a bordo tende a se tornar mais desconfortável.

Assim, pode acabar sendo mais fácil voar por outra rota se necessário.

Despressurização

Aviões costumam voar em torno de 10 a 12 quilômetros acima do nível do mar. Nessa altitude, o ar é muito rarefeito, ou seja, tem baixa concentração de oxigênio, o que pode levar as pessoas a desmaiarem em poucos instantes.

Com isso, quando o avião sofre uma despressurização, ou seja, perde a pressão interna que reproduz a condição atmosférica mais próxima do nível do mar, ele precisa descer para uma altitude onde o ar seja respirável.

Essa altitude varia de acordo com o tipo de avião, mas pode ser em torno de quatro quilômetros, por exemplo. Entretanto, na região do Himalaia, grande parte das montanhas está acima desse nível de voo, com cerca de seis quilômetros de altitude em média.

O Everest tem 8,8 quilômetros de altitude. O segundo maior pico do mundo, o K2, na divisa da China com o Paquistão, tem 8,6 quilômetros de altitude.

As dez maiores montanhas do planeta ficam naquela região, e todas têm mais de oito quilômetros de altitude.

Himalaia - Reprodução/FlightRadar24 - Reprodução/FlightRadar24
Mapa mostra região da cordilheira do Himalaia, entre China, Tibete e Nepal, com poucos voos
Imagem: Reprodução/FlightRadar24

Rota de escape

Rafael Santos, piloto e fundador do Teaching for Free, grupo voltado para ajudar pilotos que buscam recolocação no mercado, diz que os aviões comerciais que voam na região possuem rotas de escape para situações de emergência.

Esses caminhos são indicados pelas companhias aéreas para situações como a própria despressurização, perda de um motor em voo, fogo, entre outras que requeiram a descida do avião para uma altitude onde encontre melhores condições para voar.

"Quando você voa por uma empresa aérea, ela fornece para os pilotos essa rota de escape já desenhada. Então, você acompanha o voo, sabe o local em que você está e vai navegando ponto a ponto conforme descrito no mapa", diz Santos.

Se a aeronave está em determinado lugar da região e precisa fazer uma descida, os pilotos têm a orientação sobre a rota seguir para descer até uma altitude segura sem risco de colidir com alguma montanha. Também há o planejamento para qual aeroporto ir em situações mais críticas.

Não é exclusividade do Everest

Outros locais mundo afora também contam com rotas de escape para aviões evitarem colisões com montanhas caso precisem realizar um procedimento de descida devido a uma emergência.

A cordilheira dos Andes, na América do Sul, é um exemplo. Com picos que chegam a quase sete quilômetros de altitude, como o Acongágua (na Argentina), a região também conta com rotas de escape para garantir uma alternativa em caso de emergência.

Mesmo assim, os aviões voam sobre ela normalmente sem maiores restrições.