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Copiar inventivamente também é um jeito de inovar nos negócios

Marco Roza

Colunista do UOL

16/09/2015 06h00

É comum a gente ouvir dos amigos e ancestrais mais sábios que no mundo “nada se cria, tudo se copia”. No livro “Zero to One: Notes on Startups, or How to Build the Future”, que poderíamos ajustar ao português “De Zero para Um, notas sobre start-ups, ou como construir o futuro”, de Peter Thiel, criador do Paypal, e Blake Masters, são contra o “tudo se copia”.

Os autores afirmam que copiar um negócio que já existe pode até ser mais fácil e mais barato, mas traz os riscos de “comoditizar” o empreendimento e submetê-lo a uma concorrência implacável, que reduz lucros e possibilidades de crescimento.

Eles defendem a ideia de que criar algo novo, mesmo nos alimentando de experiências anteriores, é o melhor caminho para consolidar um negócio que pode se tornar único no seu nicho, com chances, afirmam, de monopolizar ganhos e lucros no seu ambiente de atuação. Citam como exemplo a Apple, o Google e, claro, o próprio Paypal.

Talvez ainda lhes faltem as vivências criativas dos empreendedores brasileiros. Aqui, mesmo quando copiamos um modelo de negócio, já sabemos por intuição que, se não agregarmos altas doses de inventividade, em tempo real, até mesmo a cópia de um negócio bem-sucedido não se sustenta.

Vivemos (e sobrevivemos) em ambientes altamente aleatórios. Com regulamentações governamentais que seguem os humores das nuvens, com mudanças radicais nas políticas de juros dos bancos (sempre contra o empreendedor), com uma clientela tão instável quanto os colaboradores que conseguimos convencer a participar dos nossos empreendimentos.

Portanto, quaisquer que sejam nossas escolhas, talvez melhoremos nossas chances respeitando a sabedoria popular do “nada se cria, tudo se copia”, mas com o cuidado de agregar altas doses de criatividade, que sejam percebidas por nossa clientela e, especialmente, respeitadas por nossa concorrência.

Temos, também, a nosso favor, como brasileiros e brasileiras, a certeza de que continuaremos sozinhos e sem apoio desde o início até o sucesso ou fracasso de nossas decisões empresariais.

Um abandono sistemático do capitalismo que reinventamos aqui, que já deveria nessa altura do campeonato, nos educar para as alianças com profissionais em condições de complementar tanto os nossos sonhos empresariais quanto nossas habilidades gerenciais.

Mas para atingirmos tal ponto de clarividência gerencial, deveríamos acreditar de vez em nossas próprias deficiências sem perder a confiança no que podemos agregar e, aprender, na prática, a confiar nas qualidades dos nossos associados ou parceiros.

Quem sabe assim conseguiríamos repetir experiências como as do Habib’s e do Giraffas, por exemplo, que se inspiraram em lanchonetes estrangeiras, mas que conseguiram agregar a criatividade brasileiríssima nossa de cada dia aos modelos de negócios, ambientes e produtos que nos oferecem?