IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Carnaval e festas populares são impulsionadores de negócios e de cidades

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL, em São Paulo

13/02/2015 06h00

A humanidade sempre encontrou formas de expressar e marcar épocas do ano, datas especiais relacionadas ao passar das estações, das colheitas e ao calendário religioso. Celebrações e festividades que envolvem música, dança, comida e bebida.

Elas são marcadas por uma preparação do ambiente ou mesmo das pessoas. Deste modo, tem-se desde objetos de decoração e infraestrutura necessária a vestimenta, ornamentos e maquiagem dos participantes.

Estamos às vésperas do Carnaval, uma das mais populares –senão a principal—festa do país. Há diversas origens: na antiguidade (Babilônia e Mesopotâmia), envolvendo rituais de subversão de papéis de prisioneiros e de reis; e nas festas greco-romanas, com bacanais e orgias, envolvendo Baco (deus do vinho) e épocas do ano (início e final do inverno).

A Igreja Católica não via com bons olhos a reversão de papéis, pois, no limite, se estariam invertendo as relações entre Deus e o demônio. Assim, definiu a época de excessos para antes do período de quaresma, que envolvia a abstinência de carne (carnis levale = tirar a carne) e controle sobre os prazeres mundanos.

Durante a Renascença, na Itália, assumem-se personagens das comédias de arte, com uso de máscaras e de fantasias. No Brasil colonial, surge o Entrudo, de origem portuguesa, que era marcado por brincadeiras diversas, com bonecões denominados entrudos.

Havia uma manifestação grosseira e violenta, envolvendo escravos e a população de rua, e também o entrudo mais ameno nas casas dos senhores. Ambas manifestações tinham componentes de jogar coisas uns nos outros, com dejetos sendo usados na sua forma mais violenta.

Houve muitas tentativas de proibi-lo, mas ele resistiu e adquiriu diversas formas ao longo do tempo. Assim, há manifestações que ainda se aproximam do entrudo original, como na cidade de Arraias, no Tocantins, e outras que se mesclaram a componentes folclóricos locais.

Temos, então, elementos do bumba-meu-boi no Maranhão, Pará e Amazonas; maracatu, frevo e bonecões em Pernambuco; o samba e suas escolas no Rio de Janeiro, São Paulo e outros lugares que seguem este padrão; e o Carnaval de rua com os trios elétricos, principalmente em Salvador, na Bahia.

Mas, o que mais tem marcado o Carnaval no Brasil é a presença de brincadeiras de rua, a partir de manifestações da própria sociedade civil que organiza blocos e bandas e permite a inclusão de todos que queiram se divertir de modo alegre e espontâneo.

Como festa popular, envolve negócios nos seus preparativos, durante ou mesmo depois de acontecer. Afinal, por mais simples que seja, demandará roupas, adereços, carros alegóricos e de som, bonecos, instrumentos musicais, equipamentos de som e de luz, infraestrutura (delimitação do local, arquibancadas, banheiros), marketing e mídia.

Diversos interesses se mesclam no Carnaval. Há cidades que se posicionaram, graças a seus políticos e à sociedade civil, oferecendo festas mais tradicionais – baseado em marchinhas, como o de São Luiz do Paraitinga (SP) – ou os grandes espetáculos, com desfiles de escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo. São atrativos para turistas brasileiros e estrangeiros que movimentam a economia local.

Eles demandam hospedagem (acampamento, aluguel de residências, pousadas e hotéis), estacionamentos, alimentação e bebida, fantasias, abadás, máscaras, além de confetes, serpentinas, apitos, etc. São esperadas mais de 150 mil pessoas em São Luiz do Paraitinga e mais de um milhão no Carnaval pernambucano.

Há desdobramentos do Carnaval que também movimentam a economia local: são as festas pré-Carnaval ou Carnaval fora de época. O Bloco da Preta, no Rio, movimentou cerca de 350 mil pessoas, e 320 mil foliões se divertiram em São Paulo, nas regiões da rua Augusta, Vila Madalena e Pinheiros no fim de semana anterior à festa oficial.

São Luiz do Paraitinga organizou o 30º Concurso de Marchinhas, uma forma de movimentar a cidade e de alimentar o próprio Carnaval com marchinhas novas, que se aliam às antigas.

Há muitos negócios envolvidos no Carnaval e nas festas populares. Se bem trabalhadas, elas podem se tornar atrações e trazer pessoas de fora da cidade, demandando infraestrutura, transporte, segurança, turismo receptivo, hospedagem, alimentação, suvenires, outros entretenimentos, além de construir a identidade e a marca da cidade.