IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Necessidade dá vigor ao empreendedorismo na Rússia

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL, em São Paulo

31/07/2015 06h00

Recente viagem à Rússia me marcou com impressões do vigor do empreendedorismo neste imenso país. Fiquei surpresa, ainda mais ao saber que nem arcabouço legal para propriedade privada este país possuía até 1991, e que o direito de propriedade da terra foi resolvido ainda mais recentemente.

Assim, para dimensionar os avanços que estas impressões sinalizam, se faz necessário lembrar o quadro histórico da Rússia: o país foi destroçado por sucessivas guerras mundiais e internas –revolução Democrático Burguesa e Socialista– com grandes impactos econômicos, sociais e demográficos.

Somente em perdas humanas, acredita-se que a Rússia perdeu 26,6 milhões de pessoas durante a II Guerra Mundial – cerca de 20 milhões de homens e 6,6 milhões de mulheres. Aliás, o déficit populacional de homens continua até hoje!

De uma economia planejada e totalmente controlada pelo Estado transitou para a economia de tipo misto que vigora hoje. Para isto, contribuíram as reformas iniciadas por Mikhail Gorbachev nos anos 80 –Perestroika–, permitindo mais independência aos ministérios, impactando o mercado e permitindo investimentos estrangeiros.

Após a desintegração da União Soviética, seguiram-se períodos bastante turbulentos e a “terapia de choque” puxada por Boris Yeltsin, programa que se caracterizou por reformas orientadas para o mercado.

Cabe lembrar ainda que as dívidas externas da antiga União Soviética foram assumidas integralmente pela Federação Russa e que passaram por perda da confiança comunidade financeira mundial e hiperinflação.

Até 1991, a propriedade privada era ilegal na antiga União Soviética. Então, para fazer caixa para o Estado, setores da economia e propriedades de empresas e indústrias estatais foram repassados num processo nebuloso e corrupto para uma elite ligada às autoridades e ao partido.

O povo soviético era atendido em grande parte de suas necessidades pelo Estado e dele recebia salários e pensões fixas. Passou pela perda de parte desta rede de proteção e viu o valor da moeda ser corroído.

Isto deu margem ao crescimento da pobreza, do crime e a uma enorme disparidade entre classes sociais. Em agosto de 1998, passou por grande crise financeira com reflexos em vários países, incluindo o Brasil. Pode-se depreender disto um quadro impulsionador do empreendedorismo por necessidade.

O impressionante é que o país fez um esforço imenso para implantar novas reformas, particularmente entre 2000 e 2002, que parecem ter permitido que a economia retomasse em grande velocidade.

O PIB cresceu muito até 2013 e, recentemente, foi afetado pela queda dos preços do petróleo e gás no mercado externo. Lembrando que este setor ainda é controlado pelo Estado, bem como os relacionados à indústria de defesa, considerados estratégicos.

Percebe-se um setor de comércio e de serviços muito vigoroso, totalizando 58% do PIB do país. Como os russos não pagam aluguéis devido à privatização das moradias, que anteriormente eram estatais, até 2013 os russos gastavam 60% de suas rendas em compras. Daí o grande número de restaurantes, bares, lojas, mercearias, mercados e de shopping centers.

A oferta de bens e de produtos parece farta, com marcas locais e internacionais. Ao consumo interno acrescenta-se grande fluxo de turismo externo. Este é apoiado por vigorosa oferta de transporte aéreo, terrestre, serviços de receptivos, de hotelaria, de alimentação e de espetáculos culturais.

Impressiona também a frota de veículos, bastante moderna: a indústria automobilística é bastante vigorosa, com presença de multinacionais que trouxeram tecnologia e elevaram o padrão de qualidade.

Dá para perceber que um artigo é pouco para retratar o que está sucedendo com o empreendedorismo na Rússia atual. Deste modo, deixo aqui o convite para que o leitor regresse a esta coluna na próxima semana para mais informações sobre este assunto.