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Perspectiva internacional sobre o ecossistema empreendedor russo

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

07/08/2015 06h00

Abordei certos fatos e impressões sobre a Rússia em artigo na semana passada. Percebi agora a necessidade de balizar as impressões com dados obtidos de pesquisas recentes que comparam o ecossistema empreendedor deste país a outros.

Cabe lembrar que a Federação Russa é constituída de aproximadamente 146 milhões de pessoas, sendo 53,7% delas do gênero feminino (um reflexo das perdas dos homens durante as guerras e revoluções). É o sexto maior país do mundo.

No ano passado, a inflação foi de 11,4% e a taxa de desemprego 5,2%. A renda per capita anual foi de US$ 24.710 – utilizando-se como referência o poder de paridade de compra (Brasil fica com US$ 15.900).

Vale ressaltar que o país possui a maior força de trabalho da Europa. E muito educada comparado com as médias dos países da OECD. Em grande parte, um legado do regime socialista que investiu fortemente na educação. Deste modo, em 2010, 88% da população possuía segundo grau completo, e 54% atingiam o nível superior.

Parte das pessoas com nível superior fizeram programas técnicos ou vocacionais (33% dos adultos). Se focarmos a faixa de 25 a 34 anos, 91% dos jovens tem o segundo grau e 55% possui nível superior. E sua população exibe a maior taxa de uso de internet comparativamente aos países europeus.

No relatório do Relatório Doing Business 2015 do World Bank, que compara dez aspectos que impactam nos negócios e mais o grau de regulação das leis trabalhistas, verifica-se que o país está fazendo progressos a passos largos e apressados. Entre 189 países – subiu para o 62º. Mas ganhou 58 posições em relação a 2011!.

Destacam-se em 34º. lugar na facilidade de iniciar um negócio, em registro de propriedade colocou-se em 12º lugar, em cumprimentos de contratos posicionou-se em 14º, em facilidade de pagamento de impostos ficou em 49ª posição e 61ª na obtenção de crédito.

Ficou muito atrás em: obtenção de permissão para construção – 156ª, em comércio exterior – 155ª, obtenção de eletricidade – 143ª e na 100ª na resolução de insolvências.

O relatório da KPMG de 2015 – Doing Business in Russia – Your roadmap to sucessful investments (Fazendo negócios na Rússia – Mapa dos caminhos para investimentos de sucesso) informa que o total de investimentos estrangeiros em 2013 atingiram 94 bilhões de dólares. O país tem feito muitas reformas, revisões e simplificações, criando maior atratividade para os investimentos estrangeiros no país.

Entre eles a redução de burocracia no processo de abertura de empresa. O  empreendedor não precisa mais depositar antecipadamente o capital declarado no contrato social, houve aceleração do processo de registro de propriedade e redução das exigências notariais e já pode abrir conta em banco sem notificar as autoridades.

O GEI mede a qualidade e a dinâmica do ecossistema empreendedor no nível nacional e regional. É realizado anualmente pela ONG Global Entrepreneurship and Development Institute. Possui três grandes sub-índices - os 3 As – aspirações, atitudes e habilidades empreendedoras – que se desdobram em 14 pilares. Cada um é composto por variáveis institucionais e  individuais.

Em 2015 os EUA se posicionaram em primeiro lugar obtendo um índice global de 85. A Rússia posicionou-se 70a posição com índice 31,7. Os outros países do BRICS: África do Sul em 52ª posição, com índice 40; a China em 61ª, com 36,4; o Brasil na 100ª com índice de 25,8 e a Índia na 104ª com 25,3. Para comparar regionalmente o Chile está em 19ª com índice de 63,2!

Por que se posiciona melhor do que os outros países do BRICS? A Rússia se destaca pela qualidade de seu capital humano, seguidos pelos índices de rede de relacionamento e negócios de alto crescimento. Entretanto padece com muitos gargalos, especialmente nos índices de internacionalização, apoio cultural, inovação em produto e em processo, competição e aceitação de risco.

Ainda precisa ampliar a sua diversificação dado que sua economia ainda depende muito do setor de óleo e gás e exploração de recursos naturais (particularmente metais e madeira). Tem muito trabalho a fazer ainda no que se refere à melhoria de governança, estrutura legal e instituições políticas.

Mas, se mantiver o ritmo atual de mudanças, incluindo o declínio nas práticas de corrupção e paz para prosseguir, o Brasil e seus empreendedores que se cuidem! Putin estabeleceu a meta de que em 2018 o país se posicionará em 20ª na facilidade de fazer negócios. Enquanto aqui parece que não precisamos fixar metas!