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Com mais capacitação empreendedora nossos artesãos podem exportar biojoias

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

06/11/2015 06h00

Para as mulheres que gostam de se enfeitar, a humanidade lançou mão de muitos materiais: uns mais simples, outros semipreciosos ou preciosos. A depender do tipo de matéria-prima utilizada, o adereço pode ser classificado como bijuteria, joia ou biojoia. Qual a diferença entre elas?

Se recorrerem ao material do Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa) "Como montar uma produtora de biojoias", logo no início verão que são abordadas estas classificações.

As biojoias se caracterizam pelo uso de matérias-primas naturais, sendo que o recolhimento e extração desses materiais devem considerar a sustentabilidade. A esses materiais podem ser adicionados outros, até os mais nobres como metais, pedras semi e/ou preciosas. O design da peça é o que definirá a combinação e proporção desses elementos, de modo a apresentar uma solução estética interessante.

Como as bijuterias tendem a não utilizar materiais nobres, a não ser a prata, ou ligas como alpaca, e a não ter as pedras cravadas, e sim, coladas, percebe-se que muitos dos adornos vendidos como biojoias seriam, de fato, bijuterias.

Se o leitor rastrear na internet vai localizar vários sites que comercializam essas biojoias. Alguns muito elaborados, mostrando realmente a potencialidade de arte e design nos acessórios/ bijuterias finas: brincos, colares, pulseiras, anéis etc. Outros muito mais simples. Como o de cooperativas de mulheres indígenas que tentam, assim, obter uma janela para o mundo, mostrando as peças que criam.

Com sementes de diversas colorações e origens como as do açaí, angelim, jatobá, murumuru, jarina (conhecida como marfim vegetal), olho de cabra, paixubão, sibipiruna otento, tucumã, patuá, jatobá e jupati. Ou com ossos, chifre, conchas, madrepérolas, casca de coco, palhas como a do buriti, madeiras, capim-dourado (considerado o ouro do Jalapão), couros ou peles como as de tilápia etc.

Sobretudo as sementes, por serem materiais orgânicos, precisam ser tratados para impedir germinação e deterioração. E, para impedir o crescimento de fungos e de bactérias. Os tratamentos tradicionais são a secagem (em estufas) e banhos em óleos vegetais, parecem não dar garantias totais da eliminação dos patógenos. Há recursos mais modernos como radiação gama que esteriliza completamente o material.

Para exportação, esse cuidado é importante, pois há regras da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a esse respeito. E, de qualquer modo, as inspeções e barreiras sanitárias de diferentes países exigiriam que as biojoias, ou bijuterias feitas com materiais orgânicos, demonstrem que não disseminariam fungos, bactérias e parasitas em seu ecossistema.

O interessante das biojoias, ou das bijuterias que agregam elementos naturais, é que elas também incorporam elementos da cultura regional ou brasileira. Tradições indígenas ou de grupos locais, incorporação de elementos estéticos regionais, ou de elementos históricos, se bem trabalhados por design, criam peças com bastante valor.

Por meio desse artesanato, gera-se renda e inclusão para grupos desfavorecidos como o das mulheres indígenas. Recentemente conheci peças feitas por mulheres da Umai (União das Mulheres Artesãs Indígenas do Médio Rio Negro). Mas, da Umai puranga. Puranga do tupi significa bonito e formoso. Pois é, os trabalhos realizados por elas são de fato muito bonitos.

Mencionaram que foram auxiliadas por uma designer que lhes ajudou a criar peças em que incrustam madeira nas sementes, num lindo trabalho de marchetaria. Se quiserem ver as peças, consultem no site (http://zip.net/bksktc link encurtado).  É uma página ainda simples, mas já revela a beleza das peças criadas.

Certamente que, se tivessem mais apoio de técnicas de marketing, poderiam valorizar ainda mais o artesanato que expõem. Pois, ainda não fazem o storytelling delas próprias ou de suas peças.

Assim, o visitante do site, desinformado, não vai saber que os colares e anéis usam a técnica de marchetaria. E não saberá quais as sementes que usam, como a jarina. E, não será capaz de perceber o valor do que vê. Ou seja, com mais instrumentalização, a possibilidade de geração de renda delas pode ser ampliada.

Este certamente é apenas um exemplo dos grupos de artesãos e artesãs que podem aproveitar melhor o mercado crescente para as biojoias. E, o potencial de exportação: com mais design, originalidade, indicação de origem, da esterilidade do material orgânico, storytelling e marketing.

E, se as faculdades e universidades estimularem o trabalho de consultoria de alunos, apoiado por professores, estas pessoas poderão criar, organizar, produzir, gerenciar e vender melhor. Com mais geração de renda e inclusão, ou seja, com sustentabilidade. Ressaltando brasilidade, que seria levada para além de nossas fronteiras.

Fica aqui o desafio para que estas instituições, através de suas empresas juniores ajudem na capacitação empreendedora destes brasileiros!