SÃO PAULO - O Brasil é o País do futebol. O esporte que apaixona milhões de brasileiros também movimenta cifras altíssimas em contratos e transferências de atletas principalmente para grandes clubes europeus e é visto por muitos empresários como uma excelente oportunidade de negócio.
Atualmente restrito às empresas patrocinadoras dos clubes e a grandes empresários, o investimento no esporte pode se tornar mais acessível para o investidor pessoa física em breve, por meio de fundos de investimento.
“Existem investidores interessados, temos o ativo, que são grandes atletas, e existe o modelo jurídico que pode ser adotado para a formação do fundo. É até estranho o fato desses fundos ainda não terem saído do papel”, diz o advogado Eduardo Carlezzo, diretor do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo.
Alguns clubes já estudam a possibilidade de criar fundos, abertos para pessoas físicas, com objetivos de captar recursos para a sua administração. O investidor ganharia com os direitos econômicos do atleta, ou seja, na transferência do jogador para outro clube.
“Diante da necessidade de recursos e das perspectivas de crescimento do mercado do futebol nacional, há espaço para novos investimentos e novos investidores no nosso futebol”, afirmam os advogados Amir Bocayuva, sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, e Bruno Cerqueira, associado do mesmo escritório.
Regulação
Na regulação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não existe uma categoria que qualifique fundos que investem em futebol ou outros setores. “O fundo atualmente registrado na CVM mais próximo disso é o Soccer BR1, que é um Fundo de Investimento em Participações (FIP)”, aponta a autarquia.
A CVM ressalta que, como qualquer outro FIP, o Soccer BR1 investe em uma empresa – no caso, esta empresa atua no ramo esportivo. “Há FIPs investindo nos mais diversos segmentos econômicos, de modo que parece natural que a indústria de futebol também seja contemplada”, afirma a CVM.
Entretanto, todas as cotas deste fundo pertencem a um único banco, que também atua no futebol como patrocinador de diversos clubes da primeira e segunda divisões.
Riscos
Para Carlezzo, um dos maiores riscos deste tipo de investimento é a falta de confiança do investidor no clube em que o atleta atua. Isto porque a decisão final de venda de um jogador para outro time é do próprio clube e não dos investidores.
“Muitas vezes, é feita uma proposta financeira irrecusável, mas o clube opta por não vender o atleta, porque tem eleição dentro do clube dali a seis meses, por exemplo, ou porque o time está disputando um título importante”, afirma.
Outro risco que pode ocorrer com este tipo de investimento é o fato do jogador não ser vendido para nenhum clube ou então apresentar algum problema físico.
“Evidentemente não são todos os casos que serão positivos. Você pode investir em um atleta e de repente ele empaca, não performa da maneira que você imaginava e acaba não conseguindo uma transferência para nenhum outro clube”, afirma Carlezzo.
No exterior
De acordo com o advogado, um exemplo deste tipo de fundo de investimento foi visto em Portugal, com o Benfica. O Benfica Star Fund – Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado, alienou direitos econômicos de 12 atletas, em preços e percentuais pré-fixados.
Carlezzo aponta que um dos atletas cujos direitos econômicos foram adquiridos pelo fundo foi o brasileiro David Silva, que recentemente foi vendido para o Chelsea, da Inglaterra, por cerca de 25 milhões de euros. Outro foi o Argentino Di Maria, transferido para o Real Madrid em uma negociação de quase 30 milhões de euros. “As duas transações geraram uma boa rentabilidade”, diz o advogado.
Segundo ele, isso já poderia estar sendo testado no Brasil. “Não espero que seja um investimento corriqueiro, como um fundo imobiliário. Mas temos expectativa que alguns fundos específicos possam, em breve, surgir no nosso mercado ”, finaliza.