Por que dólar está caindo tanto após eleição de Lula

O dólar fechou em queda de 1,25%, cotado a R$ 5,062, nesta sexta-feira (4). No dia 28, último dia antes das eleições, o dólar fechou a R$ 5,2999. Ou seja, é uma queda de quase 5% desde o fim da semana passada.
O fator político colabora: as incertezas sobre quem governaria o Brasil já passaram, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Resultados de empresas, como Petrobras e Renner, dados de desemprego nos Estados Unidos e aumento de juros do banco central americano, o Fed, também afetam o dólar, além de notícias sobre a vacinação na China.
Veja abaixo o que está acontecendo com o dólar.
Qual o impacto da política brasileira no dólar? Na segunda-feira, depois das eleições, a preocupação deixou de ser o resultado das urnas para ser outra. "O mercado estava mais preocupado sobre se haveria uma transição pacífica ou não", diz Felipe Izac, sócio e chefe de câmbio da Nexgen Capital, de Goiânia.
O dólar caiu 2,55% no dia. Foi a moeda que mais se valorizou no mundo no dia, segundo dados da Bloomberg.
Caminhoneiros bolsonaristas que não aceitaram o resultado das urnas chegaram a realizar centenas de bloqueios em mais de 11 estados - houve desabastecimento de combustíveis em cidades específicas e voos foram cancelados.
Apesar disso, a visão é de que a transição está transcorrendo bem, diz Izac. "Hoje esse fator não pesa mais tanto como pesou na segunda-feira. Agora, a expectativa é pela definição da equipe econômica", diz Gabriel Cunha, especialista em mercados internacionais do C6Bank.
O que o mercado espera da equipe econômica de Lula? "Existem especulações de que Henrique Meirelles estaria sendo cotado. E como ele é um nome que o mercado gosta muito, a onda positiva já começa a rolar", afirma o especialista.
Ex-ministro da Fazenda no governo de Michel Temer, Henrique Meirelles disse ao UOL no dia 3 que não recebeu convite para voltar ao cargo no próximo governo Lula (PT). As especulações sobre seu nome para liderar a equipe econômica do petista têm crescido nas últimas semanas.
Resultados de empresas animaram o mercado. A semana também foi marcada pela divulgação do balanço do terceiro trimestre de algumas grandes empresas, e a maioria das divulgações veio com dados positivos, explica Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
A estatal de petróleo Petrobras (PETR3 e PETR4), por exemplo, divulgou ontem depois do fechamento do mercado que teve lucro de R$ 46,1 bilhões no terceiro trimestre. O resultado ficou abaixo do segundo trimestre, mas representa uma alta de 48% em comparação com o mesmo período de 2021.
Em outros setores da economia, a Lojas Renner (LREN3) teve lucro de R$ 257,9 milhões no terceiro trimestre de 2022, alta de 50% no ano.
A Vale informou lucro líquido de R$ 23,286 bilhões, abaixo dos R$ 30,033 bilhões registrados três meses antes - mas acima dos R$ 20,203 bilhões do mesmo período de 2021. A Multiplan (MULT3), de shopping centers, lucrou 87,2% a mais no terceiro trimestre na comparação anual, chegando a R$ 186,1.
E lá fora, o que está acontecendo? Na quarta-feira (2), o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), elevou os juros dos Estados Unidos em 0,75 ponto percentual, para um intervalo entre 3,75% e 4%.
Foi a quarta elevação consecutiva. Tradicionalmente, quando o juro nos Estados Unidos sobe, o dólar aumenta. O fato de ter sido feriado ajudou a diluir o impacto dos juros no real, mas mesmo assim o dólar fechou em alta no dia seguinte, quinta-feira, de 0,141%.
Mas por que o dólar não subiu tanto depois do aumento dos juros? Outro motivo que levou o dólar a cair frente outras moedas do mundo - não só o real - foi o dado de desemprego nos Estados Unidos.
O Departamento do Trabalho americano divulgou hoje, 4, que os EUA criam 261 mil vagas de trabalho em outubro, mas que a taxa de desemprego subiu para 3,7%, fazendo com que o país tenha mais de 6 milhões de desempregados.
"Parece contraditório, mas isso é bom", diz Izac. Os dados provam que a política de juros altos tem surtido efeito no controle da inflação: com menos emprego, as pessoas compram menos e os preços caem.
"É uma coisa meio amarga, mas prova que as medidas até agora estão dando certo e que as próximas altas que o FED poderá fazer não vão ser mais de 75 pontos percentuais, mas de 50 pontos, diminuindo o ritmo da alta", declara. Se esse ciclo estiver perto de acabar, isso pode significar que haverá mais dinheiro circulando em outros países para investimentos.
E a China, também afeta o dólar? O chanceler alemão Olaf Scholz anunciou hoje cedo um acordo para permitir que expatriados (estrangeiros que vivem no país a trabalho) na China possam ser vacinados com a BioNTech Pfizer. Scholz também pressionou Pequim para que o governo chinês permita que a vacina seja disponibilizada gratuitamente para toda população chinesa.
A China tem nove vacinas contra a covid-19, todas desenvolvidas internamente, mas nenhuma foi atualizada para atingir proteção contra a variante Ômicron. Por isso, o governo chinês vem adotando a política de covid-zero, com bloqueios e lockdowns.
As taxas de mortalidade e infecção caíram, mas causaram grandes problemas para economia chinesa e para países que dependem da exportação para lá, como é o caso do Brasil.
Produtos básicos reagiram à notícia: "A notícia é tão boa que o preço das commodities já começou a reagir", diz Cristiane. Nesta madrugada, a cotação de produtos básicos, como produtos agrícolas, carne e o minério de ferro, já teve alta. O valor do minério, por exemplo, já subiu 5%.
"Se a China adotar a vacinação com a tecnologia da Pfizer, o ambiente para relaxamento das restrições fica mais favorável, o que é bom para a economia chinesa e de seus principais parceiros", diz Cunha.
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