Da quituteira à dona de confecções, conheça profissionais que ampliaram seus negócios com recursos como aceitar cartão e manter contato com clientes através das redes sociais
Era 2010 quando o taxista paulistano Wellington Francato notou uma tendência entre os passageiros. "Muitos deles perguntavam se eu aceitava cartão, apesar de não ser comum para os táxis daquela época", conta. "Decidi ter uma máquina para atender essas pessoas e aumentar o número de clientes". O resultado surpreendeu Wellington. "Os passageiros começaram a me dar preferência e a quantidade de corridas triplicou."
Da mesma forma, foi depois de ouvir muitas vezes "aceita cartão?" e "pode dividir?" que a dona de casa que se tornou quituteira Maria Nunes, de 45 anos, decidiu ter uma máquina de cartão, em 2014. No negócio há três anos, lutou para estabelecer uma clientela fiel em São Vicente, no litoral paulista, onde mora. Com a opção do parcelamento, ela aumentou os ganhos pois atraiu mais clientes. "Tivemos crescimento de 20% a 30% no faturamento", calcula.
"Há quase uma revolução com relação aos meios de pagamento. Hoje uma pessoa com um pequeno negócio consegue oferecer opções como débito, crédito e boleto, antes restritas às grandes empresas, e não perde o cliente", diz o consultor Gustavo Carrer, do Sebrae.
Essa mudança é comprovada pelos números de transações via crédito e débito no país. Segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), o valor movimentado por esses meios de pagamento entre junho de 2014 e junho de 2015 no país foi de mais de R$ 1 trilhão. E, mesmo em tempos de crise, a quantia cresceu: no primeiro semestre de 2015 foi 10,2% maior que no mesmo período do ano anterior.
Para quem pensa em aceitar cartões e tem receio por causa dos custos, Carrer tem uma dica: "É melhor pagar uma taxa sobre um valor e vender seu produto do que não vender." Maria só adotou a máquina depois de colocar custos e benefícios no papel. Ela também optou por estipular um gasto mínimo de R$ 100 para aceitar o parcelamento no crédito. "Tem que valer a pena para mim, porque preferi não mudar os preços dos meus produtos."
Também de olho nas taxas, Wellington trocou a antiga máquina por uma nova há um ano. "Quando comecei, só uma marca dominava o mercado. Dessa vez, fiz uma pesquisa, analisei as opções e escolhi a que tem a melhor taxa e que dispensa manutenção", diz.
Canal direto com o cliente
A máquina de cartões não é a única tecnologia com que Wellington conta para conseguir mais corridas. Ele atende chamados por cinco aplicativos de taxistas e também pelo WhatsApp. "Antes, eu rodava bem, mas só no horário de pico. Hoje, não paro de trabalhar". Segundo ele, as chamadas pelo aplicativo vêm de passageiros de todas as idades.
Mas não só para chamados serve o aplicativo: a manicure Letícia Santos, 30 anos, usa a ferramenta como uma espécie de agenda. "Posso estar na rua ou atendendo e as clientes me mandam mensagens para marcar ou desmarcar um horário. Não preciso me preocupar em anotar, fica tudo lá". Letícia começou a usar WhatsApp quando deixou o salão de beleza em que trabalhava, há dois anos. Para ela, a tecnologia facilitou a independência profissional e é importante para conquistar novos clientes. "Muitas vezes, as pessoas ligam e, se você não atende, elas desistem. Com o aplicativo, isso não acontece", conta ela, que, há um ano, ganhou de uma cliente uma máquina de cartão. "Ela dá comodidade. Além disso, acabo economizando, pois o dinheiro vai direto para a minha conta e não fica na mão", diz.
A empresa na palma da mão
Há dezenas de aplicativos disponíveis na web para facilitar o controle de negócios de qualquer tamanho. Dona de três pequenas confecções, a microempresária Gabrielle Sant’anna usa mais de dez deles. "Eles me ajudam a fazer o monitoramento da minha equipe, o controle da produção, da logística e da distribuição das mercadorias: só trabalho pelo celular", diz.
Com essas opções, o microempreendedor centraliza e organiza as informações da empresa e pode acessá-las de casa ou da rua. "Em muitos casos, o custo disso é zero ou próximo de zero, e para cada segmento há um software mais atraente", diz o consultor do Sebrae.
Mas nem sempre é preciso usar recursos específicos de gestão. Gabrielle, por exemplo, não usa nenhum. Além do WhatsApp, ela utiliza ferramentas como FaceTime, o PagSeguro e o aplicativo do banco, podendo vender de São Paulo, onde mora, para todo o Brasil.
"São recursos simplificados, semelhantes aos que usamos no dia a dia, e sempre há canais de atendimento para orientar quem precisa deles", diz Fábio Mariano, professor de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM.
"Com esses sistemas simples consigo alcançar um maior número de clientes e ganho tempo para fazer o negócio crescer mais", diz Gabrielle. Quando algo não pode ser resolvido pelos aplicativos, ela recorre ao bom e velho e-mail, mas não sai do escritório. "Agência bancária não existe para mim. Estou na minha há mais de um ano e só fui lá uma vez: falo com a minha gerente por e-mail e ela manda um motoboy para eu assinar o que preciso", conta.
A economia de tempo é ponto de sobrevivência não só para dar conta da empresa mas também da vida pessoal, pois Gabrielle tem uma filha de quase cinco anos. "Só o tempo que me tomaria em São Paulo para ir até um fornecedor… Isso é coisa que resolvo de casa, na cadeira, de chinelo. Sem tecnologia, meu negócio seria 10% do que é hoje. Com ela, me transformo em dez Gabis", diz.
Vitrine eletrônica
Tradicionalmente um espaço de interação entre amigos e conhecidos, as redes sociais também se tornaram um lugar para negócios. Especialmente para autônomos e microempreendedores, pois oferecem a chance de chegar a mais consumidores a um custo muitas vezes irrelevante.
Gabrielle, por exemplo, anuncia e vende os produtos em vários canais online – o cliente paga via transferência bancária ou PagSeguro. "Estou no Instagram também, mas o Facebook ainda é forma mais rápida e direta de comunicação com o cliente, em que a gente consegue atingir as classes B e C, que acabam comprando", diz.
De acordo com a pesquisa WebShoppers do E-bit, feita com mais de 21 mil lojas virtuais de todos os tamanhos, só no primeiro semestre de 2015 cerca de 17,6 milhões de pessoas fizeram pelo menos uma compra nesses estabelecimentos, e o setor de e-commerce faturou R$ 18,6 bilhões, valor 16% maior que no mesmo período do ano anterior. Os dados totais do ano de 2015 ainda não foram divulgados, mas a expectativa é que o valor chegue a R$41,2 bi. Os produtos mais vendidos são artigos de moda e acessórios – justamente a área de Gabrielle – que têm presença forte em redes como Instagram e Pinterest, mais focadas em imagens. Mas o Facebook também está entre as maiores vitrines virtuais: há no Brasil 3 milhões de páginas de pequenas empresas e 80% dos brasileiros com perfil estão conectados a um negócio de pequeno ou médio porte.
"Quinze anos atrás, a preocupação de quem tinha um negócio era ter variedade de produtos – hoje, é ter variedade de canais, para deixar o consumidor escolher o que melhor vai atendê-lo no momento da compra", diz o professor Mariano.
A advogada Neide Feijó, de 46 anos, abriu a Fruta e Saúde, empresa de entrega de salada de frutas, há um ano. Ela teve um site, mas acabou optando por desativá-lo. Agora, suas comunicações com os clientes são via e-mail e redes sociais. "É de graça e mais fácil manusear." Pelo Facebook, ela consegue controlar a visualizações e fazer uma propaganda dirigida para potenciais clientes. "Se alguém visita a página, eu vejo e posso mandar informações por inbox".
"Houve um primeiro grande momento, a popularização do celular, há cerca de 10 anos, e depois vieram as redes sociais. O grande salto para a próxima década é o empoderamento de marketing da classe C", aponta André Torreta, da consultoria da consultoria A Ponte Estratégia. "Agora, esse empreendedor tem seguidores, sabe quem é o cliente, faz projeto de fidelização… Não é mais abrir a porta da quitanda e rezar para que as pessoas apareçam", completa.
Maria Nunes, a quituteira de São Vicente, tem plena consciência da força da internet como ferramenta de divulgação. Ela faz posts em sites de anúncios e há dois anos mantém uma página no Facebook. "Posto todos os meus trabalhos, e as pessoas comentam e indicam. Essa propaganda não tem preço", diz.