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Empresário do DF contrata vovós 'simpáticas e sorridentes' para restaurante

Paulo Pagani entrevista candidata: "Eu não queria currículos; queria ver a pessoa" - Arquivo Pessoal
Paulo Pagani entrevista candidata: 'Eu não queria currículos; queria ver a pessoa' Imagem: Arquivo Pessoal

Alessandra Modzeleski

Colaboração para o UOL, em Brasília

22/12/2015 19h45Atualizada em 23/12/2015 12h46

Inspirado na mãe, um empresário de Brasília lançou uma oferta de emprego inusitada nas redes sociais. A vaga procurava por duas vovós "simpáticas e sorridentes", entre 60 e 80 anos, para serem recepcionistas de um restaurante em Águas Claras (DF), a cerca de 20 quilômetros de Brasília.

O anúncio teve mais de 52 mil compartilhamentos. Por fim, 22 idosas foram contratadas.

A oferta de emprego pedia simpatia como uma qualidade indispensável, e oferecia condições de trabalho adaptadas para as candidatas, como cadeiras macias e clientes queridos e dispostos a conversar. 

O empresário Paulo Pagani diz que se inspirou na mãe, Luiza, de 90 anos, quando abriu as vagas. "Eu queria ter ela trabalhando comigo, mas ela mora em São Paulo e não quer vir. Então decidi contratar duas senhorinhas para ficar no lugar dela", conta o empresário.

Ele diz que não esperava tanta repercussão. "Meu telefone não parou de tocar. Eu recebi ligações de outros países, do Japão, Noruega, de pessoas pedindo emprego para a avó, a mãe..."

Maratona de entrevistas

A seleção contou com mais de 500 candidatas. Elas fizeram uma entrevista prévia, por telefone. Em seguida, 200 foram escolhidas e entrevistadas pessoalmente no último sábado (19), numa maratona que durou das 7h da manhã às 23h30.

"Eu não queria currículos. Minha seleção era diferente. Queria ver a pessoa, falar com ela, ouvir histórias. Enfim, falar de vida. Nunca chorei tanto em um dia", conta Pagani.

Foram escolhidas 22 senhoras. "As duas mais parecidas com a minha mãe eu coloquei na vaga de recepcionista, para ficar comigo recebendo os clientes e acompanhando até a mesa", conta o empresário.

As demais irão trabalhar em diferentes setores do restaurante, como atendentes e ajudantes de garçom. "Serão as vózinhas que vão atender todo mundo", diz. 

O menor salário oferecido é de R$ 1.400; o valor varia conforme a produtividade das funcionárias. A carga horária é de cerca de oito horas por dia.

De volta ao batente após 29 anos

A aposentada Maria de Jesus Moreira, 72, soube da vaga por meio do filho, que viu a divulgação no Facebook. Ela estava sem trabalhar há 29 anos.

"Eu ajudava em casa, sempre arrumando algo para fazer. A gente não pode ficar parada. Mas fazia tempo que eu falava para a minha filha que queria arrumar um emprego, mas não tinha coragem de procurar", conta.

Ela diz que ainda não sabe qual cargo vai ocupar, mas está satisfeita de ter sido escolhida em meio a tamanha concorrência. "Quando eu recebi a informação que a vaga era para mim fiquei muito surpresa. Espero atender as expectativas. Não vejo a hora de começar."

Homenagem à mãe

O restaurante deve se chamar Dona Luiza Confraria, em homenagem à mãe do empresário, e ainda não tem data certa para inauguração.

Segundo Pagani, o local irá funcionar como padaria e restaurante, além de vender tortas, tapioca, pamonha, hambúrgueres e pizzas. A ideia é ter também um minimercado.

Enquanto o estabelecimento não abre as portas, Pagani tem se encontrado com as novas funcionárias para treinamento. "Em quatro encontros, o que eu fiquei mais impressionado é que nenhuma delas perguntou de salário. O que elas queriam era uma oportunidade", diz ele.