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Prestar concursos ou não? Eis a questão

Por Willian Douglas

20/03/2012 10h00

Recebo muitas cartas e e-mails de pessoas que ficam na dúvida entre seguir carreira na iniciativa privada ou se curvarem às vantagens do concurso. Que ficam na dúvida entre o cargo dos sonhos ou aquele que é mais prestigiado ou bem remunerado. Ou ainda, que não sabem se continuam trabalhando e estudando com mais grana e menos tempo, ou se largam o emprego para investir tudo na preparação.

 

É para essas pessoas que escrevo hoje e, se você tem alguma dessas dúvidas, escrevo para você. Para decidir e escolher seu rumo, é preciso analisar vantagens e desvantagens de cada alternativa. O ideal mesmo é fazer um quadro com quatro colunas, anotando os pontos positivos e negativos de cada uma das rotas possíveis. Nessas anotações, cabe também analisar os custos e benefícios imediatos e futuros, pois, em regra, vantagens imediatas muito grandes são ruins quando expostas ao critério da linha do tempo.

 

Ao refletir sobre qual decisão tomar, muitos se fiam na opinião da coletividade, que embora tenha sua sabedoria, nem sempre acerta, ou em mitos que estão associados a uma ou a outra das opções. Algumas questões podem possuir uma resposta razoavelmente simples e direta: para quem já optou pelo caminho dos concursos, por exemplo, sempre recomendo o cargo dos sonhos, pois prestígio e dinheiro são menos importantes do que as pessoas em geral pensam... e porque a vida é curta demais para você ficar fazendo o que não gosta. Mas, como a vida não é feita somente de sonhos, indico também que a pessoa faça outros concursos. É uma excelente forma de treinar e quem sabe não é um “concurso escada” que te dará a estabilidade e impulso para continuar a estudar ou ainda para desenvolver um projeto pessoal no qual você sempre quis investir e nunca pôde.

 

Tanto no caso acima citado quanto na opção entre emprego e concurso, porém, devo mencionar que conheço várias pessoas que não estão no emprego ou no cargo de seus sonhos, mas que estão muito felizes. Como? Aprenderam a estar lá para colher algum benefício necessário, como dinheiro ou estabilidade... e a encontrar prazer e alegria em outros oásis: família, lazer, hobbies, estudo etc.

 

Claro que mesmo nesses casos, a pessoa será tanto mais plena na medida em que aprender a encontrar sentido e alegria na atividade que lhe sustenta. Isso é possível se ela parar para pensar: para que serve o que eu faço? A quem eu estou servindo, ajudando? Tornar a vida de alguém melhor, ajudar, são atividades gratificantes. Se você aprender a fazer o seu serviço bem, e a ter a satisfação de sair dele ao final de cada dia tendo cumprido seu dever etc., encontrará alegria mesmo em atividades que não sejam as mais maravilhosas do mundo.

 

Há, ainda, os que sabiamente abdicam de vantagens imediatas para lançar melhores sementes para o amanhã. É tolice, por exemplo, sentir-se um desempregado enquanto se estuda (faculdade, concurso, pós, mestrado, MBA etc.), já que esse tempo não é “inútil”, não é gasto, mas um “investimento” a médio/longo prazo. Nesse período será preciso organizar-se, ralar, quebrar pedras, economizar nas contas, mas jamais se pode considerar tempo ruim, inútil ou perdido.

 

Aproveitarei para desfazer alguns dos mitos que se formam em torno dos concursos:

 

O mito do cargo perfeito

 

Algumas pessoas costumam achar que existem cargos perfeitos. Estou em um dos cargos mais desejados pelas pessoas, com muito prestígio, boa remuneração etc., sou Juiz Federal. Também já exerci vários outros cargos considerados de elite e “objetos de desejo”. Por isso mesmo, e por conhecer vários profissionais em cargos “perfeitos”, posso afirmar que isso é um mito. Posso afirmar que conheço bons promotores de justiça e defensores públicos, que eram felizes nessa instituição, e foram ser infelizes na magistratura, que não era sua vocação. Conheço juízes infelizes e auxiliares de serviços gerais (serventes) alegres. Não existe tal coisa, como o cargo perfeito. Em todos eles existem coisas boas e más, vantagens e desvantagens.

 

O mito do salário alto

 

Seja na iniciativa privada, seja no concurso, as pessoas se iludem achando que terão um “vidão” quando ganharem tanto, ou quanto. Ilusão. O ideal é que as pessoas aprendam a viver com os rendimentos que têm. Mesmo que você passe em um concurso e comece a ganhar mais, o ideal é que utilize o excedente para fazer algum investimento (poupança, casa própria etc.)

 

Tendo desfeito esses mitos e acertado na escolha – seja ela pelo concurso ou pela iniciativa privada – o importante é que o concurseiro/servidor/profissional se dedique ao máximo à sua função e pague o preço por sua colocação. Invista em si e bom futuro!