A IA não tirou férias e em 3 semanas o jogo mudou. Já o ESG...
...o ESG parece que não vai voltar das férias. Nesta nova fase Donald Trump, o movimento anti-woke e anti-ESG está sendo abraçado como nunca pelas empresas. Vide o Mark Zuckerberg dizendo que está liberado chamar os gays de doentes mentais. Pior é que é verdade esse bilhete. (Tem diretor de marketing de cabelo em pé. Boicotar o Twitter é fácil, já o Instagram...)
Mas vamos começar pela IA porque bastaram 3 semanas para o jogo mudar radicalmente para a publicidade em vídeo. Vem ler (e compartilhar).
Já tem até sombra
O publicitário PJ Pereira foi para as férias de fim de ano com o diagnóstico prontíssimo para apresentar a um cliente importante que ele tem lá nos States: não é possível fazer vídeos com IA representando seres humanos e que fiquem razoavelmente bons. Todo mundo notava que era meio fake.
Ele voltou esta semana das férias e apresentou um diagnóstico completamente diferente do que tinha planejado. Em apenas 3 semanas, a IA para vídeo mudou radicalmente. Até as sombras das pessoas, a forma como a luz bate, tudo parece de uma filmagem real. Obra do Veo2 do Google que alimenta o VideoFX e que só uns poucos e bons estão podendo testar. (O PJ está entre esses poucos e bons.)
PJ fez um pot-pourri de cair o queixo, que pode ser visto aqui. Mas ele diz que ainda tem algumas limitações. Não dá para fazer a performance de uma ginasta, por exemplo. Mas uma luta de boxe já fica bem real.
E todo mundo vai ter que começar a enfrentar uma mudança cultural brusca: aprender a lidar com o resultado final produzido pela IA. Nem sempre fica como a pessoa imaginou. O PJ tem uma vantagem: ele é escritor, então sabe descrever as cenas como ninguém nos prompts.
E quem é esse PJ?
PJ foi o primeiro profissional de marketing digital do Brasil, contratado pela DM9 na época em que tudo era mato na internet. Ele se cansou da DM9 quando viu que apesar da visão da agência na época (foi uma das primeiras a se importar com o digital), a galera continuava só querendo saber de fazer filme para TV. Ele fundou então a agência Click.
Mais tarde se mudou para os Estados Unidos e fundou a Pereira O'Dell com um gringo. Está lá há 20 anos, e assim como foi precursor da internet, está sendo um precursor da IA. Ele fundou uma agência de publicidade que só faz serviços com IA, a Silverside.ai.
A Silverside foi uma das agências que fez a tradicional propaganda da Coca de Natal. Comercial todinho feito com IA.
A profecia
Nos próximos dois anos, vão ser criadas muitas novas agências de publicidade, segundo o PJ. Tudo galera que vai se encher de ver as coisas acontecendo devagar nas agências onde estão e vão criar suas próprias empresas (fica a dica para todo mundo).
E você está no ritmo da IA?
O Silvio Meira, um dos principais cientistas em inovação do Brasil, me disse em março do ano passado que a IA estava na idade da pedra lascada e que o futuro chegava em 800 dias. Hoje corri falar com ele de novo. Agora a IA está na idade da pedra polida (e faltam 500 dias para o futuro).
Nesses 300 dias entre a pedra lascada e a pedra polida, já descobrimos algumas cositas, segundo Silvio Meira: a IA tem mais empatia que o ser humano (nos dias atuais, parece que isso não é assim tão difícil), que já faz melhores diagnósticos de imagem do que médicos humanos (mesmo médicos que usam a IA como ferramenta) e, a melhor parte, já custa 20 vezes menos para ser treinada.
E quem despontou no cenário? Os chineses, com a Deepseek.
Será o fim dos publicitários?
Não, pessoal. Não será o fim. O PJ Pereira diz que a galera está interpretando muito mal a IA. Em vez de tirar empregos, ela está permitindo fazer mais vídeos, o que em um mundo de atenção fragmentada e budget apertado é uma ótima notícia.
Sorrell também está ligado
E o Renato Mendes da 4Equity me deu uma de lambuja para corroborar tudo o que o PJ e o Silvio Meira estão falando. Renato fica sediado nos Estados Unidos e participou de um tipo de roda de bate-papo com o Martin Sorrell, fundador da WPP (uma das maiores agências do mundo). E o que disse o Sorrell? "A IA é mais dramática que a internet ou o mobile." Isso significa que subestimar o impacto da IA é tão perigoso quanto foi subestimar o boom digital nos anos 90.
Traduzindo: não é só uma ferramenta. Assim como a internet não era só sobre interatividade.
O papel dos CMOs ficou mais fácil?
Sorrell disse que apenas quatro plataformas (Google, Meta, Amazon e TikTok) já representam metade do investimento publicitário global. Isso significa uma vida mais fácil para os diretores de marketing. Seria. Não fosse o Mark.
Nova onda Trump
O que os CMOs (o pessoal que manda no marketing, consumo e comunicação) vão fazer agora que o Zuckerberg disse que a Meta vai virar a vida loka que virou o Twitter? Tem executivo de cabelo em pé com as novas políticas da Meta (sob medida para agradar Donald Trump). Você sabia que agora a plataforma liberou geral para dizer que gays são doentes mentais, por exemplo? Juro. Eu li as novas diretrizes sobre discurso de ódio.
E o Méqui?
O McDonalds dos Estados Unidos anunciou que vai abandonar as políticas de diversidade e inclusão. Está se juntando a Harley Davidson, John Deere, Microsoft, X, Google, Meta, Nissan, Toyota. (Esse povo estava só lavando suas marcas?). No Brasil, o pessoal que faz Méqui diz que a comunicação não vai mudar em nada.
Os consumidores estão mudando junto?
Conversei com uma meia dúzia de donos ou CEOs de agências importantes e a percepção geral é de que a pauta ESG e de diversidade está caidaça. Muitos executivos de marcas estão voltando a falar coisas que não falavam mais, como "esse público não representa minha marca".
Não é só o Trump. As eleições municipais aqui no Brasil mostraram que o norte vai ser família, desenvolvimento pessoal, empreendedorismo e uma nova onda religiosa muito forte.
O que Harvard diz
A Cintia Gonçalves da Suno me passou uma informação interessante (Cintia é a pesquisadora que fez aquele estudo da Softbank que falei com exclusividade aqui nesta coluna. Aliás, o estudo bombou, viu? Só se falou disso no LinkedIn.)
Uma pesquisa publicada na Harvard Business Review conta que os consumidores conservadores tendem a adquirir produtos que sinalizem status enquanto os progressistas querem se posicionar como diferentes.
Para testar narrativas de marcas, o estudo produziu canecas de café que poderiam ser customizadas com os dizeres Just Better (apenas melhor) ou Just Different (apenas diferente). Os conservadores escolheram 2,2 vezes mais canecas de better enquanto os progressistas iam no different.
E você? Quer ser melhor ou quer ser diferente?
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