Com bife wagyu a R$ 1.300/kg, marca de carne fatura até R$ 200 milhões
Karin Salomão
Do UOL, em São Paulo
10/06/2024 04h00
A marca 481 vende carnes premium de todo o mundo para trazer mais qualidade para a mesa do brasileiro. A empresa vende para parceiros, como restaurantes e lanchonetes, supermercados e até para o consumidor final por meio do delivery. Hoje, fatura entre R$ 180 e R$ 200 milhões por ano, e planeja crescer dois dígitos em 2024.
Sócios
A empresa foi criada há 11 anos por Marcelo Shimbo, 45 anos. O nome vem de um padrão de qualidade de carnes usado na Europa. Formado em zootecnia, o empresário gerenciou grandes projetos pecuários. Dirigiu a Cia. Bonsmara Beef, focada na raça bonsmara. "Foi um dos primeiros projetos de carne premium no Brasil", declara ele. Na JBS, criou a marca Swift Black, focada em cortes especiais.
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Para expandir o negócio, a empresa começou a buscar um sócio em 2019. Um ano depois, o fundo Baraúna, focado em alimentação, entrou como parceiro. Mas os valores e a fatia de compra são sigilosos.
Importação de carne premium
A maior parte das carnes vendidas pela marca é importada. Os cortes vêm de países como Uruguai, Argentina, Japão, Estados Unidos, Austrália, Chile, Nova Zelândia e Brasil. "Cada país tem a sua vocação em termos de carne. Hoje, também orientamos frigoríficos a produzirem com mais qualidade", diz Shimbo.
O chorizo de wagyu é um exemplo. Um corte de 560 gramas sai a R$ 723,31 no site da companhia, o equivalente a quase R$ 1.300 o quilo. A carne é produzida em Kagoshima, no Japão, e importada com exclusividade pela 481. O bife tem classificação A5, a mais alta do mundo. Todas as peças são certificadas. Shimbo explica que os bois dessa raça típica do Japão são maiores, com mais tempo de amadurecimento e marmoreio - que é a formação de gordura entremeada. "É uma iguaria, não é para o churrasco com os amigos", afirma.
Modelo de negócios
A 481 traz a carne dos produtores - brasileiros e estrangeiros - para seu próprio frigorífico. Ele fica em Louveira, interior de SP, assim como o escritório da empresa. São cerca de 250 funcionários, de corte ao administrativo.
É uma forma de garantir padronização. Todos os bifes e cortes são do mesmo tamanho, com o mesmo peso, essencial para a venda para restaurantes. Isso porque grandes frigoríficos não conseguem atender os restaurantes de forma personalizada, que são pequenos demais para a sua operação.
Os restaurantes com foco em carne buscam cortes mais consistentes, com o mesmo peso, preço e qualidade, para que o consumidor tenha sempre a mesma experiência. Para melhorar a eficiência, a empresa conta com uma tecnologia de escaneamento e dos bois, para que o funcionário saiba exatamente onde fazer os cortes e diminuir o desperdício.
De restaurantes a delivery
O primeiro cliente foi o Pobre Juan, rede com mais de 10 restaurantes especializada em cortes argentinos. Atualmente, vende para mais de 1.500 estabelecimentos, como a Z Deli, Bullguer, a Fazenda Churrascada em São Paulo e a Malta Beef Club no Rio de Janeiro.
A empresa decidiu expandir os canais de venda com a pandemia. Na época, mais de 90% de seu faturamento vinha de restaurantes. Hoje, essa fatia é de 60%. "Queremos ser líderes em soluções de proteína para restaurantes e fine dining", diz Shimbo.
Outros 30% das receitas vêm do varejo. Em 2014, começou a vender para supermercados e lojas especializadas, principalmente boutiques. Está presente em mercados como Santa Maria, Santa Luzia, Mambo e Zona Sul, no Rio de Janeiro. "Os cortes são padronizados, em peso constante, e com uma vida útil maior que carnes de açougues tradicionais", afirma o empreendedor.
O restante do faturamento vem de vendas para o consumidor final. Ainda restrito a alguns bairros da cidade de São Paulo, o delivery de carnes nobres chega em até uma hora em uma caixa térmica específica.
"Queremos continuar crescendo dois dígitos todo ano e expandir para o varejo mais butique", afirma Shimbo. O delivery deve ser expandido em São Paulo e chegar na cidade do Rio de Janeiro.
Mercado é pequeno, mas tem potencial
A produção de carne premium no Brasil não chega a 2% do total, e é principalmente para o consumo interno. É o que diz Ronaty Makuko, analista de pecuária da Pátria Agronegócios
Produzir essa carne leva tempo e tem custos. Para chegar a um animal com alto nível de qualidade, são necessárias de cinco a sete gerações. Chegar a uma produção massiva é complicado, afirma.
"Para uma carne ter esse nível de qualidade, pensando em marmoreio, só ter uma genética boa não é o suficiente", diz Makuko. O cuidado inclui alimentação e outros custos altos, e a remuneração também não é imediata. "O pecuarista vive no imediatismo. A sua margem de lucro é muito pequena para fazer essa mudança. Por isso, no Brasil o nosso produto é uma commodity", afirma.
Segundo ele, o mercado de carnes premium é novo no Brasil. "Assim como o mercado do vinhos, de cervejas artesanais, o mercado de cortes premium é novo, na comparação com o mercado argentino ou americano".
Porém, há potencial para crescer, já que o cliente fisgado não tende a voltar para outros cortes. "O paladar não retrocede. Quem degustou uma carne diferenciada vai atrás. Não irá consumir toda semana, mas passa a se tornar um hábito", diz. E, se o consumidor busca, o pecuarista vai produzir mais.