IPCA
0,46 Jul.2024
Topo

Por que se pergunta sobre religião em processo seletivos? O que fazer?

Do UOL, em São Paulo

11/02/2009 14h25

Estou participando de vários processos seletivos e notei uma pergunta peculiar que surgiu numa das entrevistas e se repetiu num outro processo: 'Qual a sua religião?' Essa pergunta surge com que intenção? A resposta tem que peso em um processo seletivo?

 

Perguntas sobre a religião do candidato em entrevistas de emprego podem ser consideradas discriminatórias. A Lei 9.029 proíbe práticas discriminatórias para efeitos admissionais ou de permanência da relação de trabalho por sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar e idade, não mencionando religião. No entanto, já existem projetos de lei prevendo a proibição de discriminação por deficiências, religião, orientação sexual e restrições de crédito.

 

Tais perguntas podem ter desde motivações casuais (por mera curiosidade ou ingenuidade do entrevistador, quando não é alguém da área de recursos humanos) até razões de fato discriminatórias (ou seja, quando a resposta pode ser critério de seleção).

 

As possíveis motivações da empresa podem estar relacionadas a ocorrências anteriores com colaboradores de determinada religião, ao horário de trabalho (algumas religiões não permitem o trabalho em determinados horários e datas) e até mesmo a uma cultura tendenciosa na empresa quanto à contratação de pessoas de determinada crença.

 

Existem várias estratégias para lidar com essa questão:

 

- Responder diretamente à pergunta: caso o assunto não incomode o candidato, ou caso ele perca o interesse pela vaga ao detectar alguma intenção discriminatória na pergunta.

 

- Desviar da pergunta: nesse caso, é possível responder vagamente algo como "quanto à religião, tenho a minha crença". Caso o entrevistador insista em obter a resposta, é possível dizer que não gostaria de falar sobre esse assunto, que é de caráter pessoal. Se uma pergunta desse tipo vem junto de outra questão, é possível responder apenas a esta última e manter foco apenas nela, não respondendo sobre a religião. Pode-se ainda fazer uma pergunta ao entrevistador, que fará com ele tenha que pensar na resposta, desviando-o da pergunta que ele mesmo fez.

 

- Tratar do que está por trás da pergunta: nesse caso, pode-se perguntar educadamente sobre o propósito da questão. É possível questionar o entrevistador se a pergunta está efetivamente relacionada ao cargo. Isso pode desviar a intenção original da pergunta do entrevistador e até fazer com que ele simplesmente não insista em obter resposta.

 

- Recusar-se educadamente a responder à pergunta: aqui é possível dizer simplesmente que não gostaria de falar sobre esse assunto, por ser de caráter pessoal. Mesmo recusando-se a responder, o candidato não deve mostrar hostilidade ao entrevistador. É importante mencionar que, caso haja eliminação do candidato devido à recusa dele em responder, de fato identificou-se que o processo é discriminatório.

 

Marcelo Abrileri, presidente da empresa de recursos humanos Curriculum