IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Jovens ganham em dólar para serem revisores no Linkedin ou criadores de app

Dario kosugi, 23, revisor de currículos e perfis do LinkedIn - Arquivo pessoal
Dario kosugi, 23, revisor de currículos e perfis do LinkedIn Imagem: Arquivo pessoal

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

07/09/2016 06h00

Eles vivem no Brasil, mas trabalham em empresas no exterior --a distância-- e ganham em moeda estrangeira. É assim que alguns jovens estão tentando driblar o desemprego.

Felipe Ricieri, 29, desenvolve aplicativos para celular e começou a usar redes sociais (e aplicativos) para procurar vagas na Europa e nos Estados Unidos. "Eu me cadastrei em várias oportunidades e participei de umas 50 seleções até conseguir ser contratado", conta. Agora, ele presta serviço para uma empresa holandesa.

Onde buscar e requisitos

O LinkedIn é a principal fonte de pesquisa, segundo Ricieri. Ele diz que recebe pelo menos quatro ofertas de trabalho por dia na rede social. Outros sites para buscar vagas fora do Brasil são:

Este último, com sede em Lisboa (Portugal) e Londres (Inglaterra), tem até uma equipe de profissionais que faz o meio de campo entre candidatos e empresas.

Os interessados nas vagas precisam ter currículo em inglês, portfólio --item essencial-- e uma "cover letter", uma carta explicando por que querem fazer parte daquela equipe. As empresas também costumam fazer entrevistas por telefone ou por e-mail, em inglês, para verificar se o candidato tem o domínio do idioma.

Como é o candidato ideal? "Ele já nasceu antenado e sabe fazer o que se propõe. Desde o começo, já tem um segundo ou um terceiro idioma e se prepara para ir além do mercado nacional e expandir fronteiras", diz Daniella Forster, coordenadora do projeto PUC Talentos, na universidade paranaense.

Começou com trabalho voluntário

O estudante de administração Dario Kosugi, 23, sempre se interessou pela área de carreiras, mas não tinha experiência profissional. Ofereceu-se para corrigir currículos no Bliive (https://bliive.com/), uma rede colaborativa de troca de tempo. "Eu corrigi uns 30 currículos de graça e, com isso, montei um portfólio."

No ano passado, ele soube por um amigo que o Udacity (https://www.udacity.com/) --plataforma que oferece cursos online na área de programação-- estava procurando um revisor de currículos e perfis no LinkedIn.

"Entrei no site e me cadastrei para a oportunidade. Na entrevista, eles basicamente perguntaram se eu sabia inglês e pediram para ver os trabalhos que eu havia feito anteriormente. Mostrei o que fiz no Bliive e consegui a vaga", conta.

Rotina e salário

Tanto Kosugi quanto Ricieri não têm uma carga horária definida e trabalham de acordo com a procura. Kosugi recebe de acordo com sua produção. Ele ganha US$ 25 por currículo revisado --leva de 15 a 20 minutos cada. Para revisar perfis no LinkedIn, ganha US$ 30 cada e gasta cerca de 35 minutos.

Ricieri diz que faz seu horário. "Eu tenho que trabalhar todos os dias. A empresa, no entanto, não está interessada no tempo gasto com cada atividade, mas sim no resultado entregue", conta. Ele não informa quanto ganha no trabalho remoto, mas diz que seu salário mais que dobrou.

Direitos trabalhistas

Esse trabalhador está sujeito às leis do país onde mora ou de onde está sediada a empresa empregadora? Em tese, a lei brasileira protege os cidadãos que têm trabalho no exterior.

Na década de 1980, graças à crescente ida de brasileiros para atuar fora na área de construção civil, a Presidência da República sancionou a lei nº 7.064, conhecida como Lei Mendes Junior, por causa dos negócios realizados pela companhia no Oriente Médio à época.

"Recentemente, a interpretação da lei é de que ela estendia ao trabalhador todos os direitos e garantias válidos no Brasil, como 13º salário, férias, fundo de garantia e condições de indenização", afirma o advogado Wolnei Tadeu Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Televendas (Sobratt).

Mas ainda há dúvidas, diz Ferreira, o que acaba deixando a pessoa, muitas vezes, à mercê das regras estrangeiras.

Ricieri passou por isso. Ele largou o emprego no Brasil porque havia conseguido um trabalho remoto nos Estados Unidos. "Duas semanas depois de iniciar na empresa, no entanto, o contrato foi cancelado. A minha sorte é que deu certo o trabalho na companhia holandesa, caso contrário eu ficaria desempregado", relata.