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Por que febre chinesa com jogos de raspadinha virou motivo de preocupação

Sorte, salvação ou prazer efêmero? As raspadinhas viraram febre preocupante na China Imagem: Reprodução/TikTok

18/08/2023 04h00

Preocupados com o aumento do desemprego e a pressão no mercado de trabalho, os jovens na China enfrentam dificuldades para ganhar a vida. Para escapar desta tensão, muitos recorrem aos jogos de raspadinha, com a esperança de ficarem ricos da noite para o dia.

Os cartões de raspadinha se tornaram tão populares que até influenciadores digitais aderiram à tendência.

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Chen Ying, uma jovem de 26 anos, gastou 100 mil yuans (em torno de R$ 68 mil na cotação atual) neste jogo de azar para raspar as cartas ao vivo e entreter seus seguidores em seu perfil na rede social Douyin, a versão chinesa do TikTok.

Mas o objetivo da jovem não é ganhar, e sim aumentar seu número de seguidores. Em seis meses, ela passou de algumas centenas para 45 mil inscritos.

As vendas de jogos de loteria chegaram a 274 bilhões de yuans (R$ 187 bilhões) no primeiro semestre de 2023 na China, um aumento de 50% em relação ao ano anterior, o que analistas atribuem à frágil situação econômica.

"Não é fácil ganhar dinheiro agora. As pessoas com um diploma universitário não encontram facilmente um emprego que lhes agrade. Isso as faz querer ficar ricas de repente", diz Chen Ying.

Os indicadores dos últimos meses não geram otimismo no país, já que a economia carece de dinamismo e enfrenta agora o risco de deflação.

Neste contexto, a China anunciou esta semana que vai suspender a divulgação dos números do desemprego para o grupo dos 16 aos 24 anos, após este índice ter atingido um recorde em junho (21,3%).

"No subconsciente das pessoas, existe a ideia de que é cada vez mais difícil ficar rico graças ao trabalho", afirmou recentemente Huang Zhenxing, professor da Universidade de Finanças e Economia de Xangai, à mídia chinesa Caijing.

Logo, os chineses estão "mais inclinados a tentar a sorte nas raspadinhas para ver se podem ficar ricos da noite para o dia", acrescentou.

Prazer efêmero

Muitos outros influenciadores digitais buscam lucrar com o sucesso em torno dos jogos de raspadinhas em suas redes sociais.

No Douyin, os vídeos marcados com a hashtag #Guaguale (nome de uma marca famosa de raspadinhas) obtiveram mais de 6,4 bilhões de visualizações.

Curtis Cheng, de 25 anos, disse à AFP que está jogando cada vez mais. E ele não é o único: ao meio-dia e à noite, a loteria perto de sua casa fica lotada de jovens.

"Gosto dessa sensação de tentar a sorte. Se você não ganhar, não é sério. É uma forma de apimentar a vida", disse ele, acrescentando que é uma forma de sair da rotina. "Os jovens querem um golpe de sorte para melhorar sua situação", afirmou.

Erika Cui, que trabalha no setor de tecnologia, explica que a raspadinha a ajuda a esquecer as preocupações.

"A economia não está em uma situação muito boa. Além disso, a pressão no trabalho e no dia a dia é muito forte. A saúde mental de muita gente é preocupante", lamentou.

Para ela, essa popularidade também vem da vontade de aliviar o estresse do trabalho, dos estudos e da vida urbana.

"Quando você joga, se esquece da sua vida. Esse pequeno prazer efêmero é mais importante do que ganhar ou não", declarou.

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