Na China para G20, Temer destaca 'longa amizade' com líder chinês
Mariana Schreiber
Da BBC Brasil em Brasília
Em primeiro encontro bilateral, presidente brasileiro diz querer intensificar 'sólida relação que foi construída ao longo do tempo' com a China
O presidente Michel Temer se reuniu nesta sexta-feira com o presidente chinês, Xi Jinping, em seu primeiro encontro bilateral após a conclusão do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
Na reunião, buscou destacar a existência de uma amizade prévia entre ambos, já que os dois já tiveram encontros anteriores, na época em que Temer era vice de Dilma.
O encontro aconteceu em Hangzhou, na China, que sediará nos próximos dias a cúpula do G20 ? grupo das maiores economias do mundo.
- Atleta causa comoção nos EUA ao não deixar menino autista almoçar sozinho
- 'Necessário' ou 'sinistro'? Imprensa internacional começa a escrever sua história do impeachment
- A misteriosa mensagem que Mussolini enterrou sob obelisco em Roma e que acaba de ser decifrada
Apenas o início do encontro foi aberto à imprensa ? e a BBC Brasil foi o único veículo brasileiro a acompanhar.
Em meio à polêmica sobre a troca de governo no Brasil, Temer destacou em sua primeira fala que essa era a quinta vez que se encontrava com Xi Jinping e se disse honrado com o fato de o presidente chinês ter destacado, em seu cumprimento inicial, que ambos "já" eram "amigos".
Um desses encontros anteriores ocorreu quando o peemedebista era presidente da Câmara dos Deputados, e Xi Jinping ocupava outro cargo na hierarquia chinesa.
"É uma honra que a minha primeira visita ao exterior como presidente da República seja à China. E (fico) mais honrado ainda quando vejo em suas palavras a expressão dizendo de que nós já somos amigos. Tantas e tantas vezes nos encontramos", afirmou Temer.
Não foi possível para a reportagem da BBC Brasil compreender durante o encontro o que disse o presidente chinês, já que não foi feita tradução simultânea para a imprensa, apenas para os líderes.
Mas, segundo informou o Itamaraty, Xi Jinping fez um convite para que Temer volte à China para uma visita de Estado ? ou seja, para um encontro mais aprofundado, sem relação com outro evento internacional como foi o caso dessa vez. O convite já era esperado.
Em seu pronunciamento, Temer disse também que a visita buscava "reiterar o grande apreço que nós temos pela China" e dar continuidade à boa relação entre os dois países.
Encontro aconteceu em Hangzhou, na China, que sedia nos próximos dias a cúpula do G20 ? grupo das maiores economias do mundo
"O objetivo desta visita é também reiterar a necessidade de mantermos essa sólida relação que foi construída ao longo do tempo, e dizer que queremos cada vez mais aumentar e incrementar nossas relações bilaterais", reforçou o presidente brasileiro.
Temer estava acompanhado dos ministros das Relações Exteriores, José Serra, da Fazenda, Henrique Meirelles, e da Agricultura, Blairo Maggi.
A relação entre os dois países se intensificou durante os governos petistas, principalmente durante a administração Lula, quando China e Brasil despontaram como importantes economias emergentes.
- 'Conciliador', 'apagador de incêndios' ou 'usurpador'? Quem é Michel Temer, o novo presidente do Brasil
- Temer faz estreia internacional em China pragmática mas 'apreensiva' com relações bilaterais
Nesse período foi criado o grupo dos BRICS, que reúne também Índia, Rússia e África do Sul. Foi também a época de surgimento do G20, em contraposição ao clube "mais rico", o G7.
O presidente chinês vem participando de uma série de encontros bilaterais com líderes que vieram para o G20.
A reunião de 40 minutos foi um pouco mais longa do que a da maioria dos outros chefes de governo, justamente por ter sido a primeira de Temer com Xi Jinping na capacidade de presidente do Brasil.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, comprando principalmente matérias-primas, como soja e minério de ferro, e vendendo produtos industrializados. Assuntos econômicos foram o tema principal do encontro.
Segundo o Itamaraty, durante a reunião Temer falou sobre as reformas que pretende implementar no país para promover o ajuste fiscal, assim como apresentou oportunidades de investimento do plano de concessões que está sendo elaborado para a área de infraestrutura.
Além disso, Temer priorizou três temas:
1) Fechar a venda de 18 aeronaves da Embraer para a China, além de acertar a promessa de compra de mais 20;
2) Solicitar que o governo chinês habilite mais frigoríficos brasileiros a vender carne (bovina, suína e de frango) para o mercado chinês, já que restrições sanitárias hoje limitam esse número;
3) Pedir maior agilidade para que a China autorize a importação de soja do Brasil com novas sementes transgênicas ? hoje esse processo está demorando até três anos, segundo fontes no Itamaraty, trazendo empecilhos para o aumento da produtividade da agricultura brasileira. Por falta de infraestrutura, na hora de estocar e transportar a soja, o Brasil separa apenas em dois grupos - transgênico e não transgênico, sem fazer distinção entre os diferentes tipos de sementes modificadas (o que os EUA conseguem fazer). Com isso, enquanto a China não autoriza novas sementes, todos os produtores do Brasil preferem deixar de usá-las.
De acordo com o Itamaraty, o próprio presidente chinês manifestou em seu pronunciamento o desejo de ampliar as importações de carne brasileira ? o que foi considerado muito positivo.
Confirmado presidente, Michel Temer chegou à China na sexta-feira
Segurança reforçada
O encontro entre os dois presidentes aconteceu sob forte aparato de segurança. A repórter da BBC Brasil teve que passar por quatro revistas antes de ter acesso ao enorme hotel estatal onde aconteceu a reunião.
Foi preciso se apresentar com quatro horas de antecedência em um hotel de onde saiu o transporte oficial, e por isso a maioria dos representantes da imprensa brasileira, que pela manhã acompanhou outro compromisso de Temer em Xangai, não conseguiu cobrir o encontro bilateral.
Mais cedo, o presidente discursou em um encontro para empresários de Brasil e China, com objetivo de incentivar negócios e atrair investimentos para o país.
Sobre o fato de o Senado ter mantido os direitos políticos de Dilma e se isso representava uma divisão em sua base parlamentar, Temer disse a jornalistas que respeitava a decisão e que isso seria "superado".
O presidente destacou também que já havia um recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando a manutenção dos direitos políticos e que agora caberia à Corte se manifestar.
"Cada poder exerce seu poder."
Além disso, Temer minimizou as manifestações contra o impeachment e o seu governo, dizendo que se tratava da opinião de uma minoria da população.
"A mensagem que lanço de reunificação e pacificação nacional não é em benefício próprio pessoal, é em benefício dos brasileiros. E eu sinto isso: tenho absoluta convicção que os brasileiros querem isso. Quem muitas vezes se insurge, um ou outro movimentozinho, é sempre um grupo muito pequeno de pessoas, né? Não são aqueles que acompanham a maioria da vontade dos brasileiros", disse.