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Alta do dólar reconfigura economia global e separa vencedores de perdedores

Rich Miller e Simon Kennedy

13/04/2015 15h57

(Bloomberg) - A alta do dólar até seu maior valor em 12 anos com base na cotação comercial ponderada está tirando competitividade dos EUA e dos países cujas taxas de câmbio acompanham o dólar, entre eles a China. O fenômeno também está reduzindo os preços das commodities, o que prejudica produtores como o Brasil, e ameaçando outros mercados emergentes cujas empresas fizeram empréstimos na moeda americana quando ela estava mais barata.

Por outro lado, a zona do euro e o Japão estão tirando proveito da situação, já que suas empresas estão ganhando a vantagem nos mercados mundiais de que as economias precisam para impulsionar o crescimento. Países como a Índia também estão se beneficiando ao pagar menos pelas suas importações de energia.

"A valorização do dólar está dividindo o mundo em vencedores e perdedores", disse Peter Hooper, economista-chefe da Deutsche Bank Securities em Nova York e ex-funcionário do Fed, o banco central dos EUA.

O U.S. Dollar Index, que acompanha o desempenho da moeda frente a outras seis, cresceu cerca de 25% depois de registrar seu valor mais baixo no dia 6 de maio de 2014 porque os investidores apostaram que a expansão dos EUA superará em ritmo seus sócios comerciais e que o Fed subirá as taxas de juros no futuro próximo, ao passo que outros países estão mantendo uma postura relaxada.

O domínio do dólar será um assunto prioritário na agenda quando banqueiros centrais e ministros de Finanças se encontrem em Washington nesta semana para as reuniões do FMI e do Banco Mundial. Na semana passada, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, identificou a oscilação do dólar como uma potencial fonte de fricção na economia global, já que alguns se beneficiam e outros sofrem com ela.

Reequilibrando carteiras

Os investidores já estão reequilibrando suas carteiras. O índice Euro Stoxx 50 subiu 21% neste ano porque os investidores apostam em uma melhora da economia da região. A fabricante de aviões Airbus e a fabricante de cosméticos L'Oréal são algumas das empresas que esperam tirar proveito de uma moeda desvalorizada.

Os responsáveis pela política econômica também estão ajustando. A presidente do Fed, Janet Yellen, e seus colegas estão apontando para o peso do dólar sobre a economia dos EUA enquanto reduzem a velocidade com que esperam aumentar as taxas de juros pela primeira vez desde 2006.

Hopper e sua equipe da Deutsche estimam que já baste para eliminar até 0,75 ponto porcentual do crescimento anual da produção nos EUA durante vários anos ao deprimir as exportações americanas.

A alta acelerada do dólar é uma noticia mais bem recebida pelo BCE e o Banco do Japão, que estão contando com taxas de câmbio mais fracas para reforçar políticas monetárias mais relaxadas e impulsionar a demanda externa e os preços das importações. Os declínios do euro e do iene também poderiam ajudar a elevar a confiança empresarial.

Menos felizes estão muitos mercados emergentes que no passado reclamaram que um dólar fraco estava impelindo capital especulativo não desejado para suas economias.

Endividamento

Agora, a recuperação da moeda traz o risco de diminuir o custo das commodities com preço em dólares e de aumentar a carga das dívidas denominadas nessa moeda. A recuperação também poderia restringir os fluxos de capital necessários para fechar os déficits de conta-corrente, forçando assim a subir as taxas de juros locais.

A Malásia, o Chile, a Turquia, a Rússia e a Venezuela são os países em maior perigo, segundo Adam Slater, economista sênior da Oxford Economics, em Oxford, Inglaterra. Seguem de perto o Brasil, a África do Sul e a Hungria.

A Índia e a China se sairão melhor por serem importadoras líquidas de commodities e porque suas taxas de endividamento estão em sintonia com as médias históricas.

"A ascensão do dólar cria um pouco de turbulência, um pouco de incerteza, mas geralmente é boa", disse Charles Collyns, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais em Washington.