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Grande dilúvio de minério de ferro arrasta Anglo American

Jesse Riseborough e Thomas Biesheuvel

17/02/2016 14h29

(Bloomberg) -- As gigantes da indústria do minério de ferro fizeram sua maior vítima até o momento: a Anglo American.

A empresa de mineração de 99 anos, que se recupera de um prejuízo de US$ 5,6 bilhões do ano passado, vai se retirar do mercado de minério de ferro e o CEO Mark Cutifani descreveu uma perspectiva sombria para a matéria-prima.

A saída é o resultado da estratégia empregada pelas maiores produtoras do mundo de continuar ampliando a produção mesmo com os preços em queda. A BHP Billiton descreveu a tática como "espremer o limão".

"Temos visto as concorrentes inundarem o mercado de minério de ferro", disse Cutifani, que está no comando da Anglo há três anos, em entrevista à Bloomberg Television na terça-feira. "A coisa será difícil durante um tempo pelo lado da oferta".

A Anglo estuda vender sua participação controladora na Kumba Iron Ore, a maior produtora da África. E poderá deixar o Minas-Rio, um dos maiores projetos de mineração do mundo e o mais caro da história da Anglo. A empresa investiu US$ 14 bilhões na compra e na construção da mina brasileira.

"Esta é a única forma de não ganhar dinheiro nesse jogo -- comprar caro e vender barato --, o que, infelizmente, foi feito à perfeição", disse Ben Davis, analista de mineração da Liberum Capital em Londres, por telefone.

Superabundância

A Anglo está desistindo do minério de ferro, o principal ingrediente para fabricação do aço, diante da queda de 70 por cento nos preços em cinco anos. No fim dos anos 2000, a empresa acompanhou uma expansão de todo o setor para o segmento do minério de ferro, que teve por objetivo atender o apetite cada vez maior da China pelo aço, e acumulou dívidas para bancar essa estratégia.

Cerca de 1,36 bilhão de toneladas de minério de ferro foram embarcadas em todo o mundo no ano passado, segundo o Morgan Stanley. O total é 73 por cento maior que o registrado em 2007.

As produtoras com custos mais baixos no mundo -- BHP Billiton e Rio Tinto Group -- têm conseguido resistir à queda do preço e estão obtendo lucros de vários bilhões de dólares mesmo com os preços atuais. O CEO da Rio Tinto, Sam Walsh, disse no ano passado que seria anormal que sua empresa considerasse a retenção da oferta mesmo com suas concorrentes "penduradas pelas unhas".

A Anglo pagou o preço. A empresa não foi capaz de competir com suas operações de custo mais elevado e com a dívida de US$ 12,9 bilhões. Nesta semana, a empresa informou que os lucros dobraram em 2015, enquanto a Moody's Investors Service e a Fitch Ratings rebaixaram a avaliação de crédito da empresa para junk.

A Anglo disse na terça-feira que está enfocando atualmente em matérias-primas com melhor demanda entre os consumidores, como pedras preciosas, platina e cobre. A empresa é dona da De Beers, operadora das melhores minas de diamantes do mundo.

Estabelecendo o limite

"Nós retornamos para o negócio principal no qual acreditamos que temos uma vantagem competitiva", disse Cutifani. "Nós estabelecemos o limite".

Quanto ao minério de ferro, a abundância poderia se tornar ainda maior. Até 266 milhões de toneladas em nova produção serão adicionadas nos próximos três anos antes de a oferta começar a ser limitada, a partir de 2019, segundo a Bloomberg Intelligence. No ano passado, as usinas siderúrgicas da China, que respondem por metade da oferta global, registraram seu primeiro declínio anual na produção desde 1991, pelo menos.

A decisão da Anglo não retirará sua oferta de minério de ferro do mercado. A saída da Kumba poderá levar mais de 18 meses e a empresa quer continuar ampliando a produção na Minas-Rio antes de vendê-la, um processo que poderia levar até três anos, disse a companhia.

"Este é um ambiente muito difícil para que as empresas mineradoras vendam ativos que não são de classe mundial", escreveu Chris LaFemina, analista da Jefferies, em nota na terça-feira. "No caso do minério de ferro e do carvão, até mesmo ativos de classe mundial provavelmente serão difíceis de vender por um preço que não seja distressed".

 

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