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Do trator rosa à Embrapa: Agrishow evidencia aumento de mulheres no campo

Trator cor-de-rosa da Valtra na Agrishow 2024 Imagem: Divulgação/Agrishow

Danielle Castro

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

29/04/2024 18h37

Embora a quantidade de homens em uma feira como a Agrishow 2024 ainda seja, a olho nu, muito superior à de mulheres, os sinais de que a participação delas no agronegócio brasileiro vem crescendo e ganhando importância são inequívocos.

Uma volta pelos estandes da feira, uma das maiores do país, e é possível encontrar produtos específicos para o público feminino, como pneus, equipamentos e até caminhões e tratores na cor rosa ou com adaptações. Há também peças femininas de vestuário do campo com a grife de grandes marcas de maquinários, e, desde 2021, a feira mantém um espaço para debate de gênero no setor, o "Agrishow pra Elas".

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Neste ano, porém, a presença de três mulheres em cargos de poder (uma senadora, uma ministra e uma presidente de agência de inovação) entre algumas dezenas de homens no palco da abertura da 29ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação chamou atenção e foi constantemente citada pelos participantes nas conversas. Essa representatividade pode inspirar não só outras garotas a se ver em cargos de liderança, mas também normalizar essa presença delas em qualquer meio.

"Como primeira ministra mulher da Ciência, Tecnologia e Inovação, eu tenho convicção de que nós precisamos garantir uma política que induza e melhore a participação das mulheres, não só nas áreas do nosso ministério, mas na vida cotidiana do povo brasileiro", disse Luciana Silva, um dos destaques do evento e única convidada mulher a discursar na abertura.

Para Silva, as políticas públicas para o acesso das mulheres na carreira científica, inclusive a do campo, já é indiscutível em importância para a sociedade. A ministra cita como exemplo a cientista Johanna Döbereiner, responsável pelos estudos pioneiros que trouxeram aumento de produtividade ao Cerrado brasileiro. "Nós somos a maioria das universidades, a maioria das bolsas de iniciação científica, mas, quando chega no fim da carreira, afunilamos para pouco menos de 35% [dos cargos de comando]", lamenta a ministra.

Além de fomento específico para a área de pesquisa, desenvolvimento e ciência, o ministério de Silva tem proposto também "uma atenção mais especial ao empreendedorismo feminino", para que elas possam se desenvolver à frente de empresas lideradas e idealizadas por mulheres.

O exemplo da Embrapa

A pesquisadora Silvia Massruhá, que há um ano assumiu como primeira mulher presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), participou da abertura da feira e deve ser uma das 15 convidadas a falar no ciclo de encontros do Agrishow pra Elas, que acontece até o dia 3 de maio. Doutora em ciência da computação e à frente de vários projetos para o desenvolvimento da agricultura 4.0 no país, Massruhá já está acostumada a desbravar espaços em meios em que a presença masculina ainda predomina.

"Estou há 35 anos na Embrapa como pesquisadora de carreira, os 15 últimos anos na gestão, fui chefe de pesquisa e diretora geral de humanidade por sete anos, e agora veio a oportunidade de assumir a presidência nacional. O que percebo nesta minha trajetória é o protagonismo feminino cada vez mais forte. Antes, a mulher assumia [a frente de um agronegócio] quando herdava ou ficava viúva das produtoras rurais. Hoje, elas estão mais estimuladas a ajudar e colaborar com os pais na sucessão familiar", afirma Massruhá.

Esse movimento se reflete, segundo a presidente, no aumento da busca por capacitação feminina. "Educação é um diferencial para todos nós, homem ou mulher, e faz com que a gente possa galgar mais oportunidades na nossa carreira, seja no mundo corporativo, na propriedade rural ou em uma empresa da agroindústria. E vejo que isso hoje aumentou muito", diz a líder da Embrapa.

Massruhá afirma que dentro da agência cerca de 30% da equipe é formada por pesquisadoras. "Na gestão, temos mais ou menos 25% de mulheres, e isso tem aumentado. Quando eu comecei, na gestão eram 5% a 6%. As mulheres hoje se preparam, então têm condição como qualquer outro e a gente pode estar onde quiser, literalmente", diz a presidente.

Ter que mostrar "mais serviço" que os homens para obter o mesmo cargo e mater um nível de autocobrança excessivo são, para Massruhá, uma das grandes dificuldades, mas que podem ser superadas com abertura de oportunidades e representatividade. "Mulheres têm que puxar outras mulheres. Incentivá-las, para visualizar. E, pra mim, é um orgulho muito grande ser presidente da Embrapa, que é uma empresa referência em agricultura tropical. Eu fiz toda minha carreira, estou ali pelo reconhecimento da minha trajetória na empresa, isso me dá um orgulho muito grande e espero que outras colegas também venham somar para sermos ainda mais mulheres atuando no agro", diz.

Influencers agro

A engenheira agrônoma e comunicadora Michele Guizini tem 225 mil seguidores no Instagram e é uma das influencers embaixadoras da Agrishow 2024. De família de pecuaristas do Mato Grosso, ela cria conteúdos sobre o dia a dia no campo há 11 anos e diz que, apesar de 58% de seu público digital ser de mulheres, tem uma boa aceitação do público masculino. "As mulheres estão cada dia mais buscando se profissionalizar e conquistando seu espaço no setor. [Além disso] a informação precisa ser repassada e isso não depende de gênero. Tenho muitos amigos homens, produtores rurais que me acompanham e apreciam meu trabalho", conta a influencer. Guizini faz propaganda de empresas do setor do agronegócio que querem se aproximar das mulheres, como a fabricante de máquinas e equipamentos New Holland, que criou uma campanha com o mote "É tempo de mulher".

Serviço: A programação completa do "Agrishow para Elas" está disponível no link https://www.agrishow.com.br. No mesmo endereço, é possível encontrar os endereços das redes sociais de sete mulheres influencers digitais que falam sobre o agronegócio e foram escolhidas como embaixadoras desta edição da feira.

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