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Alibaba pode criar empregos pelo mundo todo?

Adam Minter

18/10/2016 13h01

(Bloomberg) -- Jack Ma, da Alibaba, tem grandes sonhos. Após transformar o comércio chinês, ele agora está decidido a revitalizar a globalização.

Para que isso aconteça, de acordo com sua carta anual aos acionistas divulgada na semana passada, outros países terão de usar ou reproduzir a "infraestrutura de comércio" da Alibaba, que inclui de tudo, de portais de venda a sistemas de pagamento. Ma espera que sistemas semelhantes sejam aplicados em uma "escala global para captar pequenas e médias empresas e consumidores normais do mundo inteiro".

Para grandes países em desenvolvimento, como a Índia e a Indonésia, que enfrentam um futuro onde a automação e a contração da demanda global estão reduzindo as perspectivas de empregos no setor industrial, a ideia de criar milhões de empregos por meio do varejo eletrônico é irresistível. E os números estão do lado de Ma: um estudo do governo chinês identificou que desde 2014 mais de 10 milhões de chineses trabalham diretamente com comércio eletrônico, muitos deles vendendo produtos nas plataformas da Alibaba. No mês passado, o governo da Indonésia designou Ma como assessor de seu comitê especial de promoção do comércio eletrônico e um órgão de comércio das Nações Unidas o nomeou para atuar como assessor especial sobre empreendedorismo juvenil e pequenas empresas.

No entanto, só importar a plataforma ou o modelo da Alibaba não dará certo fora da China. A menos que os outros países identifiquem e de certa forma consigam recriar as circunstâncias únicas que ajudaram a originar o setor de comércio eletrônico continental que hoje é líder mundial, dificilmente eles terão nem de longe o mesmo sucesso.

O comércio eletrônico está crescendo nas cidades chinesas - é responsável por 82,6 por cento das vendas do varejo em Pequim, por exemplo --, mas ele realmente decolou por causa da crescente prosperidade na zona rural do país. Lá, as lojas tradicionais nunca se desenvolveram plenamente por causa da pobreza e da péssima logística. Supermercados e lojas não ofereciam muitas opções e vendiam imitações malfeitas de marcas famosas, de canetas Sharpie a biscoitos Oreo. Quando o biscoito era realmente Oreo, eu descobri que geralmente estavam vencidos.

Nos últimos anos, no entanto, a taxa de crescimento da renda chinesa da zona rural ultrapassou a da renda urbana. O comércio eletrônico apareceu para atender a esses novos consumidores. Em 2015, as compras realizadas pela internet nas zonas rurais aumentaram 96 por cento, para US$ 55 bilhões.

A oferta é tão importante quanto a demanda. Após 30 anos de crescimento descontrolado, a China agora é sede da maior parte da cadeia de abastecimento mundial para fabricar praticamente tudo. Muitos operários qualificados estão buscando uma maneira de voltar atrás e ganhar a vida na zona rural, que é mais acessível. Ao conectar compradores e vendedores, o Taobao Marketplace, da Alibaba, possibilitou que esses trabalhadores montassem pequenos empreendimentos de fabricação ou produção agrícola que podem chegar a consumidores de toda a China e do exterior.

De acordo com o governo chinês, 90 por cento das lojas do comércio eletrônico da China pertencem a pessoas físicas. Essas lojas, por sua vez, empregam cerca de 6 milhões de pessoas. Além disso, já em 2009, a Alibaba começou a perceber que povoados inteiros se dedicavam a produzir bens para vender no Taobao. Por exemplo, o vilarejo de Junpu, na província chinesa de Guangdong, se tornou um centro virtual de vestuário muito conhecido depois que operários -- que haviam trabalhado em fábricas de roupas da região -- voltaram para casa e passaram a montar empresas.

Por volta de 2015 existiam 780 dos chamados "vilarejos Taobao", onde pelo menos 10 por cento da população estava envolvida no comércio eletrônico ou havia aberto 100 lojas Taobao, e o volume anual de transações superou US$ 1,5 milhão. O leque de bens produzidos por esses vilarejos é tão amplo quanto o de uma loja de departamentos e vai de produtos agrícolas a equipamentos para atividades ao ar livre, como cabanas e mochilas.

O governo chinês apoiou ativamente o surgimento desse universo de varejo eletrônico. Por exemplo, as autoridades destinaram US$ 300 milhões para depósitos e programas de capacitação on-line para estimular as iniciativas rurais da Alibaba em 200 municípios. Em março, a Alibaba fechou um acordo com a Liga da Juventude Comunista da China para oferecer treinamento para 1 milhão de adolescentes empreendedores em zonas rurais sobre os pormenores do comércio eletrônico. Ao mesmo tempo, o governo continua investindo em banda larga, estradas e outras infraestruturas essenciais para que o sistema funcione com eficiência, inclusive o sistema logístico da "cadeia de frio", necessário para transportar produtos alimentícios refrigerados das zonas rurais para os centros urbanos.

Outros países, que não dispõem das extensas cadeias de abastecimento da China, vão ter que fazer investimentos maciços em infraestrutura e capital humano se quiserem atingir algo parecido com o sucesso da China. Isso significa promover a banda larga rural e capacitar trabalhadores dessas zonas nas tecnologias de fabricação que estão surgindo, como impressão 3-D, para que eles possam fabricar uma série de produtos.

Programas voltados para a produção agrícola e artesanal rural podem ser um ponto de partida. Mas a verdade é que é pouco provável que o comércio eletrônico possa gerar empregos em grande escala fora da China em breve. A Alibaba, que se vê como facilitadora de um boom futuro, poderia fazer um favor para os outros países em desenvolvimento (e seus acionistas) sugerindo que não tenham muitas ilusões.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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