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Japão exige ajuste no modelo de compartilhamento de bicicletas

Pavel Alpeyev

17/01/2018 18h11

(Bloomberg) -- O compartilhamento de bicicletas tem muitas vantagens. É um meio de transporte massivo ultra barato, queima gordura corporal em vez de combustíveis fósseis e é adorado pelos capitalistas de risco. Mas esse modelo de negócios enfrenta um grande obstáculo: o estacionamento.

Leis rigorosas contra a obstrução da calçada - e sensibilidades culturais facilmente feridas - tornam o problema mais agudo nas cidades japonesas do que em lugares como Munique ou Melbourne, onde as bicicletas se acumulam em frente a estações de metrô ou aparecem sob pontes, às vezes irritando vizinhos e autoridades municipais.

O compartilhamento de bicicletas que conquistou a China em 2016 e rapidamente se tornou uma nova tecnologia de exportação agora enfrenta críticas até mesmo em lugares com consciência ecológica, onde se esperaria que ele fosse adotado. É por isso que os maiores nomes do setor estão avançando com cautela no Japão, um país onde é proibido estacionar bicicletas em qualquer lugar e as autoridades as rebocam rotineiramente, mesmo que precisem quebrar cadeados.

A chinesa Beijing Mobike Technology anunciou no mês passado uma parceria com a proprietária do maior aplicativo de mensagens do Japão, a Line, para permitir que os 71 milhões de usuários da Line localizem bicicletas de aluguel através de sua plataforma. Teoricamente, o acordo dá à Mobike uma enorme base de clientes, mas até agora a empresa tem sido cautelosa para entregar as bicicletas.

Cautela

A Mobike começou a testar seu serviço japonês no verão boreal passado, com 1.000 bicicletas, na remota cidade de Sapporo. As bicicletas cor de prata e laranja eram as mesmas que a Mobike implementa em todos os lugares - com pneus sem ar e eixos de transmissão sem corrente que podem funcionar durante anos sem manutenção -, mas a empresa teve o cuidado de se vincular a varejistas locais, que proporcionaram espaço para o estacionamento. Eles também se certificaram de garantir a aprovação da prefeitura, que enviou seu vice-prefeito para posar para fotos na cerimônia de lançamento em agosto.

"Ter um relacionamento profissional com os governos locais faz toda a diferença", disse Chris Martin, vice-presidente da Mobike, responsável pela expansão internacional, em entrevista.

Em todos os lugares, as ruas são alguns dos espaços mais regulamentados, mas o Japão também possui regras rigorosas para as calçadas. No início dos anos 1980, o número de bicicletas estacionadas ilegalmente e abandonadas atingiu cerca de um milhão, de acordo com o Gabinete do Japão, que monitora esses assuntos.

As autoridades reagiram com uma campanha nacional, rebocando bicicletas para reciclar ou enviar a países em desenvolvimento, como o Vietnã e Myanmar. Desde então, os municípios investiram em estacionamentos pagos com capacidade para quase 4 milhões de bicicletas. Tóquio e Kyoto têm também garagens automatizadas, onde braços robóticos transportam a carga para silos subterrâneos.

A experiência da Docomo Bikeshare, uma unidade da maior operadora de telefonia celular do Japão, mostra que as prefeituras podem ser parceiros dispostos se o negócio for feito de forma organizada. Desde o início de 2011, a Docomo convenceu municípios a dividir o custo da compra de suas bicicletas a bateria, que chegam a custar US$ 1.500. O distrito de Minato, em Tóquio, por exemplo, apoiou o serviço para preencher uma lacuna em sua rede de transporte público, o último trecho entre a estação de trem mais próxima e a casa.

"O Japão é especial porque você precisa começar pensando no que evitar, coisas como ter bicicletas onde não deveria haver", disse Kouichi Saitou, executivo da Docomo Bikeshare. "Você não pode simplesmente expandir a esmo."

--Com a colaboração de Grace Huang

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