Oito empresas britânicas continuam com apenas homens no conselho
David Hellier
15/02/2018 13h44
(Bloomberg) -- Entre as 350 maiores empresas do Reino Unido, a maioria esmagadora derrubou as barreiras de gênero em seus conselhos. Oito não seguiram esse caminho e, embora atuem em distintos setores, muitas têm uma característica comum: investidores majoritários que estão satisfeitos com o status quo.
"Os acionistas e conselheiros não fizeram recomendações específicas nesse sentido até o momento", disse Charlie Geller, porta-voz externo da empresa de logística Stobart Group, que tem um conselho de cinco membros, todos do sexo masculino. Segundo ele, há mulheres "na lista de pré-selecionados" para substituir John Garbutt, um diretor não executivo que anunciou no dia 2 de fevereiro que não buscaria a reeleição.
Os maiores acionistas da Stobart, a Invesco e a Woodford Investment Management, afirmam ter políticas para apoiar a diversidade, mas recusaram-se a comentar detalhes da Stobart. Na reunião de investidores da empresa de 2017, todas as resoluções foram aprovadas com pelo menos 89 por cento de aprovação.
As empresas do Reino Unido têm sido pressionadas a adicionar diretoras desde uma análise independente de 2011 sobre o equilíbrio de gênero no conselho das 350 principais empresas do país. Na época, 43 por cento eram dirigidas por conselhos formados exclusivamente por homens.
"Algumas empresas simplesmente não parecem levar isso a sério. Onde elas estavam nesses últimos anos?", disse Denise Wilson, CEO da Hampton Alexander Review, grupo financiado pelo governo que defende a presença de mais mulheres nos conselhos.
A única diretora no conselho da varejista Sport Direct International pediu demissão em maio. "Somos cientes do valor da representação feminina no conselho e pretendemos abordar este assunto no devido momento", afirmou a empresa. O fundador e CEO Mike Ashley controla 65 por cento da companhia e muitas vezes se opôs a iniciativas propostas por acionistas independentes.
'Total conformidade'
Para a Daejan Holdings, um grupo imobiliário controlado por uma família judia ortodoxa, a diversidade de gênero é um desafio devido aos costumes culturais. Mas o secretário da empresa, Mark Jenner, disse que nada é impossível. "Temos total conformidade com todas as outras questões além do gênero e não descartamos a nomeação de uma mulher se uma vaga adequada surgir", disse Jenner.
A maioria das empresas tem prestado atenção, muitas vezes por pressão dos investidores. Na semana passada, a gigante de mineração de ouro Centamin acrescentou Alison Baker, ex-sócia de auditoria da PwC e da Ernst & Young, como diretora independente, acabando assim com a exclusividade masculina no conselho.
A BlackRock, sua maior acionista, votou contra a reeleição de três diretores do sexo masculino na última reunião anual da Centamin. A empresa não quis comentar a votação nem a Centamin especificamente, mas o presidente da BlackRock, Larry Fink, advertiu as empresas de que a falta de diversidade poderia ter um efeito negativo no desempenho.
Após conversas com a acionista Standard Life Aberdeen, o grupo de mídia Euromoney Institutional Investor nomeou três mulheres para seu conselho em três meses.
Outras empresas afirmam que estão tentando. Um porta-voz da PureCircle, fabricante de um adoçante à base de plantas, anunciou que adicionar uma ou mais mulheres a seu conselho tem "alta prioridade". Um porta-voz do TBC Bank Group disse que o conselho do banco georgiano está "satisfeito com o nível de diversidade, habilidades relevantes e experiência de seus membros. No futuro, o banco pretende adicionar membros do sexo feminino ao conselho".
A Vietnam Enterprise Investments, cujo maior investidor é a Fundação Bill e Melinda Gates, teve mulheres em seu conselho no passado, mas elas saíram depois que dois fundos se fundiram. A empresa disse que está reestruturando seu conselho para "garantir um planejamento de sucessão ativo, juntamente com uma representação de gênero mais ampla e mais equitativa entre seus diretores".
Na Herald Investment Trust há pouca pressão por mudança. "Não tenho conhecimento de ninguém nos pressionar", disse a gerente de fundos Katie Potts.
Mesmo que alguns dos retardatários se movam em à direção da diversidade, pode haver novos integrantes ao clube formado só por homens.
Em outubro, a TI Fluid Systems se tornou a oitava empresa com um quadro todo masculino no conselho. Seu maior acionista é a Bain Capital, com 65 por cento.
"Nos dias de hoje, é decepcionante que as empresas ainda estejam no mercado sem a diversidade na sala de reuniões", diz Stephen Beer, vice-presidente do Church Investors Group.
Bain e TI Fluid, através de um assessor de imprensa externo, preferiram não comentar. A Bain, que diz em seu site que a diversidade de gênero é uma prioridade estratégica, não diz se procura a diversidade quando investe em uma empresa.
--Com a colaboração de Thomas Seal