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Incerteza e juro sem subsídio travam crédito para empresas

Mario Sergio Lima

25/04/2018 15h18

(Bloomberg) -- A demanda de companhias brasileiras por novos empréstimos bancários, segue emperrada diante da maior incerteza política e da aversão a risco, além dos juros mais elevados com o fim dos subsídios governamentais.

O total de empréstimos bancários a pessoa jurídica recuou 6,7 por cento no período de 12 meses até fevereiro, em parte porque o governo cortou subsídios em financiamentos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Mas, de modo geral, a demanda das empresas diminuiu. O Banco Central publicará nesta quinta-feira os dados de março.

Embora a taxa Selic tenha sido reduzida em mais da metade nos últimos 18 meses para 6,5 por cento atualmente, os juros cobrados nos empréstimos a pessoa jurídica diminuíram bem menos e estão ao redor de 22,2 por cento. Os financiamentos caros são apenas a ponta do iceberg em se tratando dos obstáculos ao aumento das captações, segundo André Perfeito, economista-chefe da Gradual CCTVM.

"Os canais de crédito estão bloqueados e as instituições financeiras enxergam riscos elevados nos empréstimos", disse Perfeito. "As empresas ainda não têm incentivos para investir."

Na contramão da tendência global, o Brasil implementou o maior ciclo de flexibilização monetária em uma década. No entanto, reduzir os juros na ponta final tem sido mais difícil para o presidente do BC, Ilan Goldfajn. Até certo ponto, ele depende do Congresso para aprovação de medidas referentes a corte de gastos, criação do Cadastro Positivo e consolidação da autonomia da instituição.

No mês passado, o depósito compulsório foi reduzido para injetar dinheiro na economia e colaborar para a queda dos custos de captação.

Em meio à recessão e ao colapso dos índices de confiança, o total de empréstimos a pessoa jurídica encolheu 22,8 por cento entre 2014 e 2017, de acordo com relatório publicado neste mês pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). A título de comparação, o saldo aumentou 105,5 por cento entre 2008 e 2013. Em 2016, os empréstimos a pessoa física ultrapassaram os créditos a pessoa jurídica como percentual da dívida total pela primeira vez na história, segundo o DIEESE.

Após contato da reportagem solicitando comentário, o BC citou um estudo mostrando que as empresas estão recorrendo aos mercados de capitais em lugar dos empréstimos bancários. Em 2017, as companhias emitiram 56,2 por cento mais debêntures e 192,1 por cento mais notas promissórias do que em 2016, de acordo com o Relatório Trimestral de Inflação do BCB, com base em dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

"As operações nos mercados de capitais são mais ágeis e menos burocráticas", disse Carlos Kawall, atual economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro. "Para as grandes empresas, levantar recursos nos mercados de capitais é mais barato do que obter um empréstimo no banco. Mas essa opção não funciona tão bem para pequenas e médias empresas."

Crescimento moderado

Por outro lado, o crescimento econômico voltou, ainda que em velocidade moderada. Todos os setores da economia estão se expandindo, os investimentos estão aumentando e a queda dos juros deve proporcionar estímulo adicional, explicou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, em entrevista nesta semana.

Para Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs Group, a fraqueza dos empréstimos a pessoa jurídica reflete mais a demanda vacilante do que o rigor dos bancos.

Ao receio de empresas ainda abaladas pela recessão se soma a perspectiva incerta para as eleições em outubro, com mais de uma dezena de potenciais candidatos à presidência.

"A incerteza tem um preço e os bancos estão mais cautelosos", disse Ramos. "Neste ambiente, é normal haver atraso nos investimentos e na concessão de crédito corporativo."

--Com a colaboração de Bruce Douglas

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